Japeri agora faz parte das sete cidades da Região Metropolitana do Rio de Janeiro com ônibus municipais gratuitos à população. A conquista da tarifa zero marca um importante avanço para a mobilidade do território e é resultado de mais de uma década de luta de moradores, movimentos e organizações como o Mobiliza Japeri, coletivo que atua pela melhoria das políticas públicas do município. Mais do que uma política de transporte, a tarifa zero é símbolo de uma mobilização coletiva da sociedade civil que acreditou e protagonizou a luta pela implementação na cidade.
O Mobiliza Japeri tem uma grande trajetória de incidência política no território, formado por moradores que pautam a mobilidade urbana para além dos ônibus e trens. Eles lutam por ciclovias, bicicletários, pavimentação, pontos de ônibus e planejamento urbano adequado. Em 2021, o coletivo publicou a primeira Agenda Local, a Agenda Japeri 2030, a partir da replicação da metodologia da Agenda Rio 2030, iniciativa da Casa Fluminense. Dessa parceria surgiu também o curso de políticas públicas de Japeri, a realização do Fórum Rio no município e a participação no Edital Agenda Rio, fortalecendo a atuação local e consolidando o compromisso do Mobiliza e da Casa com o desenvolvimento do território.

Em fevereiro, os coordenadores do Mobiliza Japeri, Patrícia Alves e Evandro Moyses, participaram, junto de outras lideranças do território, do projeto “Mobilidade e Justiça Climática”, desenvolvido pela Casa Fluminense e pelo Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP). O projeto resultou no lançamento de uma cartilha com cinco propostas de políticas de transporte público e clima para o município de Japeri, entre elas, a implementação da política da Tarifa Zero nos ônibus municipais — proposta também presente na Agenda Rio 2030 da Casa Fluminense.

“A gente viu a oportunidade de participar do planejamento da cidade, que até então não tinha um planejamento urbano, um plano diretor. Por isso, que estivemos em seminários, reuniões, conselhos da cidade, da saúde, do meio ambiente. Eu acredito que estamos no caminho certo nesses 10 anos”, relembra Evandro. “Falta muita coisa a ser feita ainda, mas vamos continuar lutando pelo desenvolvimento local.”
Japeri tem o maior tempo médio de deslocamento casa-trabalho, segundo o Mapa da Desigualdade de 2017. Tempo, custo e segurança, são as demandas levantadas pela população do território. Neste mês, depois de 10 anos de luta, mobilização e incidência política, as lideranças de Japeri puderam ver no seu município uma das propostas de políticas públicas que eles sonharam por muito tempo se tornar realidade. A política de tarifa zero tem um impacto direto na vida das famílias do território. Segundo dados dos Perfis Municipais, mais de 5% da renda familiar do município era comprometida com o transporte público. Com a gratuidade, essa parcela pode ser direcionada para alimentação, educação, lazer e saúde, promovendo mais dignidade e bem-viver.
“A gente entende que a mobilidade urbana traz o desenvolvimento para a cidade, faz com que as pessoas circulem dentro e fora do município. Queremos que todos os cidadãos de Japeri tenham direito de ir e vir, mas com segurança e com qualidade”, reforça Patrícia Alves.
Para quem está na linha de frente lutando por uma política, poder vivenciar sua implementação é o momento mais importante daquela jornada, mas além de conquistar, é preciso garantir a continuidade da política. Apesar da celebração, o Mobiliza Japeri alerta para os desafios da implementação. A falta de planejamento é uma das principais preocupações do coletivo. “O que a gente ficou sabendo é que a antiga empresa de ônibus tinha aberto um processo há meses avisando que iria largar a concessão das linhas municipais. A prefeitura deixou isso acontecer e quando aconteceu, eles fizeram um contrato emergencial para a implementação da tarifa zero”, conta Patrícia.
Evandro também compartilhou suas preocupações: “Não houve uma audiência pública com a população, sociedade civil, uma explicação de como está sendo feito. Não fizeram um planejamento de como ia funcionar, o horário dos ônibus, os bairros que iam passar, onde mais precisa. Tem estrada que precisa ser pavimentada, precisa de ponto, tudo isso também impacta. Faltou um planejamento!”, afirma Evandro.
Ônibus antigos, motoristas sem uniformes ou crachá de identificação, sem ponto de ônibus, sem estradas pavimentadas. Esses foram alguns dos pontos levantados pelo Mobiliza Japeri quando conversou com a Casa Fluminense sobre a implementação da política. “Estamos celebrando, podendo estar juntos aqui e falando dentro do ônibus, vivendo a política pública, na prática, mas também verificando e avaliando a implementação”, afirma Vitor Mihessen, coordenador geral da Casa Fluminense.

A experiência de Japeri coloca atenção na importância não apenas de implementar, mas de planejar e garantir a continuidade das políticas públicas. Sem estrutura urbana, sem escuta da sociedade civil, sem planejamento e orçamento público direcionado, há o risco de que uma política conquistada com muito esforço escorregue pelas mãos da população por falta de gestão pública.
O Mobiliza Japeri e a Casa Fluminense querem que essa conquista inspire outros municípios e sirva de exemplo de que a participação popular é essencial para transformar cidades. Mesmo com os olhos atentos às fragilidades, esse ainda é um momento de celebração — que mais municípios implementem políticas públicas bem planejadas e monitoradas, e principalmente, em diálogo com a sociedade civil.