Pobreza une Baixada e favelas do Rio

Categorias
Texto por
Comunicação Casa
Data
2 de setembro de 2014

Dos 41.719 moradores de Vigário Geral, 43,6% vivem com até meio salário

Hilka Telles 

Rio – Bairros do Rio de Janeiro em que há predominância de favelas têm taxas de concentração de pobres e indigentes idênticas às registradas na Baixada Fluminense, conforme o DIA mostrou ontem, na quarta reportagem da parceria com a Associação Casa Fluminense. Enquanto a Baixada soma 33,7% da população vivendo com até meio salário mínimo, nestas regiões do Rio o índice vai a 34% — contra 20,9% do município, segundo o Censo 2010 do IBGE.

Complexo do Alemão e Maré ficam na segunda e terceira posição no ranking da pobreza

Foto:  Divulgação

“Quando se cruza esses dados com a porcentagem de crianças e adolescentes vivendo em famílias pobres, a preocupação com o futuro se agiganta”, acentua Valeria Pero, doutora em Economia, professora da UFRJ e autora do estudo usado pela Casa Fluminense, que se dedica a analisar os problemas da Região Metropolitana do Rio e oferecer soluções.

Os bairros cuja soma de pobres e indigentes esbarra com a da Baixada são Vigário Geral, Inhaúma, Caju, Gamboa, Santo Cristo, Saúde, Manguinhos, Cordovil, Parada de Lucas, Pavuna, Rocinha e Complexo do Alemão. O destaque negativo é Vigário Geral, onde 43,6% dos 41.719 moradores têm renda de até meio salário mínimo (18.189 pessoas). Dessas, 9.637 sobrevivem com até 1/4 do salário por mês.

MENORES MAIS EXPOSTOS

Lá, 57,2% da população menor de idade estão entre os que sobrevivem com apenas meio salário. Em Manguinhos são outros 55,9%.

“O círculo vicioso precisa ser rompido. Se a pessoa não teve educação de base e não se qualificou profissionalmente, não consegue inserção no mercado de trabalho. Esse é um dos principais motivos que leva à pobreza. As crianças são o futuro. Se não houver políticas de inserção, mais tarde reproduzirão a mesma realidade que vivem agora”, acredita Valéria Pero.

O coordenador da Casa, Henrique Silveira, faz coro: “A política de redução da pobreza passa, necessariamente, pela educação da criança. Programas como o Bolsa Família e o Bolsa Carioca ajudam muito, mas é preciso aperfeiçoá-los. Todas as iniciativas de desenvolvimento econômico têm que se alinhar com as sociais”, diz.

Realidade social afeta vida de adolescentes

No ranking da pobreza, o Complexo do Alemão é o segundo. De 69.120 habitantes, 27.509 (39,8%) vivem com até meio salário mínimo. A Maré, com 44.381 (34,2%), fica em terceiro. No somatório total dos 12 bairros com favelas, são 476.979 moradores, dos quais 162.157 vivem com a pequena quantia. Desses, 78.740 com apenas 1/4 do salário.

O drama se estende às crianças. No Alemão, 53,7% delas vivem em famílias pobres. Na Maré, elas são 48,4%. Não é à toa que as estatísticas do Instituto de Segurança Pública (ISP) disparam, ano a ano, quando se trata de apreensão de adolescentes ligados ao crime.

De 2008 até 2013, o número de menores de 18 anos flagrados cometendo delitos subiu 300% — de 1.802 para 7.222. Apenas no primeiro trimestre de 2014 foram registrados 88 casos a mais que em todo o ano de 2008. E nos primeiros cinco meses deste ano, comparados ao mesmo período de 2013, foram 202 prisões a mais — 3.073 contra 2.871 (crescimento de 7%).

Outras Notícias