No Leste Fluminense, projetos apoiados pela Casa se desdobram para ajudar sua população desassistida pelo estado

Texto por
Luize Sampaio
Data
11 de dezembro de 2020

A região Leste do Rio traz os últimos perfis da série sobre os projetos apoiados pelo Fundo Casa Fluminense na Chamada Agenda Rio 2030. Dos 20 contemplados com o recurso, 4 estão localizados nessa parte da metrópole. Entre os desafios encontrados por lá está a ausência do poder público, as iniciativas acabam se articulando para agir em diferentes frentes como uma forma de lidar com a falta de assistência do estado. Conheça o trabalho que os projetos estão tocando no leste da metrópole: 

Quilombo Morro da União, Complexo do Viradouro/Niterói. Foto divulgação: Quilombo Morro da União

O Quilombo Morro da União é uma iniciativa que vem ganhando cada vez mais a confiança dos moradores do Complexo do Viradouro, em Niterói. A princípio, a ideia do projeto era criar um espaço com oficinas de teatro, dança, capoeira e horta comunitária. Mas em meio à pandemia, o movimento precisou se adaptar às demandas do momento. Um dos acontecimentos que mobilizou o Quilombo Morro da União durante esse período foi o início da ocupação policial na favela, no dia 19 de agosto deste ano, mesmo após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de proibir operações policiais durante o isolamento. Uma das ações do movimento foi mobilizar as mulheres do morro para estender um lençol na janela com os dizeres “lar de moradora, respeite”, em resposta à truculência policial que vem marcando essa ocupação. Cria da União, Alessandro Conceição conta que era preciso estimular um novo ambiente de acolhimento dentro da favela para lidar com o clima que estava dominando o território. Ele conta que foi assim que surgiu a OCA, Ocupação Cultural e Artística. 

Ação Lar de Moradora, Respeite! no Complexo do Viradouro.

“O nosso evento é uma espécie de contra ocupação a aquela feita pela polícia. Levamos arte para as ruas, em várias partes do complexo, além de atividades e brincadeiras para a criança. Nesse meio tempo também estamos fazendo um mapeamento dos artistas locais e um registro desse processo de mobilização que vai virar um documentário”, adiantou Conceição.

Quilombo Morro da União tem mais de 10 mulheres organizando as suas atividades. E, apesar das dificuldades, a iniciativa tem muitos planos para o próximo ano, o foco é mudar as narrativas e criar um espaço cultural para a população.

Cozinha Comunitária (MTST), no bairro de Santa Luzia, em São Gonçalo. Foto reprodução: Cozinha Comunitária (MTST)

A Cozinha Comunitária organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) intensificou seu trabalho durante a pandemia. A organização nacional chegou ao estado do Rio, em 2014, para ajudar em uma ocupação que estava se formando no bairro de Santa Luzia, em São Gonçalo. A luta por moradia durou até 2016, mas após o impeachment da presidente Dilma Roussef, a disputa junto ao poder público se tornou ainda mais complexa. Foi nesse momento que o MTST resolveu criar a cozinha que antes da pandemia distribuía 150 almoços aos sábado, mas passou a dobrar a sua oferta nos últimos meses por conta da alta demanda.

Além disso, os responsáveis Cozinha Comunitária precisaram entrar em outras frentes para garantir que a população não ficasse ainda mais exposta a uma situação de vulnerabilidade. Foram entregues cestas básicas, kits de higiene e também máscaras de proteção. As outras atividades do projeto, como as rodas de conversas, cine debates e os grupos de estudo bíblico, precisaram ser paralisadas durante este ano. Fabiana Batista, que atua na área de comunicação do projeto, afirmou que a demanda por comida aumentou muito nesse período. 

“Nosso trabalho se intensificou, e foi preciso nos desdobrar para dar conta de atender todo mundo. Nas primeiras semanas de pandemia ficamos fechados para analisar a situação, mas logo percebemos que não tinha como ficar sem trabalhar. Demos continuidade a entrega dos almoços por entender que o cenário de fome iria piorar ainda mais”, explicou Fabiana.

Por Gentileza, em São Gonçalo. Foto reprodução: @porgentilezaoficial

No mesmo município, o coletivo Por Gentileza surgiu em 2016 com objetivo de mobilizar redes e arrecadar alimentos para os territórios em vulnerabilidade de São Gonçalo, como o da comunidades de Itaoca. Após a desativação do lixão, os catadores da região perderam sua fonte de renda e permanecem no local sem apoio do governo há mais de 8 anos. O Por Gentileza vem diversificando suas atuações e os próximos passos do grupo são a criação de um jornal comunitário voltado para Itaoca e adjacências, além da produção de uma roda de conversa sobre as pautas prioritárias com os moradores. Essas novas atividades estão sendo organizadas a partir dos recursos do Fundo Casa e a expectativa é que elas passem a funcionar ainda no final deste ano. Uma dos fundadoras do coletivo, Thamiris Santos, afirmou que essas atividades inauguram um novo momento do coletivo.

“Nosso primeiro foco é a garantia da vida dessa população com a distribuição de alimentos, isso é primordial. Mas queremos abrir espaço para trazer rodas de conversa e discutir com eles sobre direitos e deveres que possuem enquanto cidadãos”, contou Thamiris.

O trabalho para o próximo ano também é focado nessas novas etapas do Por Gentileza. A ideia é que em 2021 o coletivo organize uma mobilização para auxiliar os moradores do antigo lixão na retirada de seus documentos oficiais. Segundo o coletivo, esse é um passo importante para que essa população passe a se reconhecer novamente enquanto cidadão. 

Coletivo Ponte Cultural, Itaboraí. Foto reprodução: @coletivopontecultural

O Coletivo Ponte Cultural surgiu em 2016 com objetivo de democratizar o acesso à cultura e educação em Itaboraí através da inclusão social. O movimento atua em diversas frentes de trabalho como cursos de teatro, aulas de músicas, saraus, cine debates e pré-vestibular comunitário, todas tocadas por professores voluntários. Falar e fazer arte em Itaboraí é um desafio, segundo o coordenador do projeto, Marcos Vinicius de Moura. O produtor cultural destacou que embora a cidade seja sede do primeiro teatro João Caetano do Brasil, falta incentivo e políticas públicas que fortaleçam a cultura do território que aproximem a população da sua história. 

“Aqui em Itaboraí falta o básico. Os serviços públicos oferecidos para a população são precários e quase inexistentes quando o assunto é arte. Com a pandemia isso se multiplica, os moradores são desassistidos pelo estado. Para que outros movimentos artísticos urbanos apareçam é preciso que haja políticas públicas que fomentem esse sentimento de pertencimento entre os moradores ”, contou Moura. 

São mais de 200 pessoas contempladas com os cursos, mas durante a pandemia, com a necessidade de isolamento social, apenas o pré-vestibular permaneceu ocorrendo virtualmente. Em meio a dificuldade de acesso à internet e computador, dos 70 inscritos do pré, apenas 20 terminaram o ano acompanhando as aulas. As demandas são muitas e segundo o coordenador do projeto é preciso que outras iniciativas apareçam. Para 2021, o coletivo tem planos de inaugurar uma nova sede já equipada com ferramentas de áudio como mesa de som, microfone e caixas de som. A estrutura do futuro auditório foi comprada a partir do apoio do Fundo Casa. 

Este é o quarto e último perfil sobre os projetos apoiados pelo Fundo Casa Fluminense, conheça também os projetos da Baixada Fluminense, Zona Oeste e Zona Norte.

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