Na Zona Norte, projetos apoiados pelo Fundo Casa se reinventam durante a pandemia

Texto por
Luize Sampaio
Data
8 de dezembro de 2020

Na Zona Norte do Rio, coletivos e associações foram criados e reinventados agora durante a pandemia. Com a necessidade de alcançar os moradores dos seus territórios por mais frentes, muitos se desafiaram a partir para atividades novas como forma de sobrevivência própria e da sua região. De coletivos com menos de um ano a grupos com mais de uma década, a Zona Norte está preocupada em alimentar a população de diferentes formas. Conheça mais sobre os projetos apoiados pelo Fundo Casa Fluminense nesta região:

Coletivo COÉ, Complexo do Chapadão. Foto divulgação: @coletivo_coe

Fundado há 14 anos, o Coletivo Conscientizar, Organizar e Educar (COÉ) sempre foi voltado para o trabalho de educação, usando a literatura como ferramenta de mudança. O coletivo fundou e gerencia 3 bibliotecas no Complexo do Chapadão. Até 2020, a questão da alimentação nunca tinha sido um eixo de atuação mas, em meio a fome que assolou o bairro durante a pandemia o grupo resolveu agir. O primeiro passo foi conseguir apoio para viabilizar a distribuição de cestas. Entretanto, desde o início das atividades, o coordenador Jocemir dos Reis sabia que só as doações não seriam suficientes. 

“Foram mais de sete toneladas de alimentos só no início do isolamento, mas a gente logo se deu conta que as cestas eram uma medida temporária. A solução a longo prazo é a comunidade repensar seus próprios modos de vida e olhar para a tecnologia que existe no nosso território. Temos um bairro riquíssimo em espaços ociosos e muitas pessoas carentes. A gente precisava começar a produzir”, contou o produtor cultural. 

Foi assim que surgiu o projeto Quintal Escola Chico Mendes, um espaço de produção cultural e sustentabilidade. Atualmente o COÉ está construindo o Quintal e a ideia é cultivar uma horta, galinheiro e viveiros para tilápias, que devem servir para o  consumo da população e para a manutenção do local. O recurso do Fundo Casa Fluminense foi usado para criar o local e também para as oficinas que devem começar em janeiro.

Liderança Popular Cidadã, Rio de Janeiro. Foto divulgação: @liderancapopularcidada

A Liderança Popular Cidadã nasceu no ano passado a partir de um grupo de jovens, entre 18 e 20 anos, que compartilharam na sua entrada na universidade experiências parecidas participando de debates de simulação de modelos diplomáticos. Cria do Complexo da Maré, a coordenadora de conteúdo do Liderança, Evilyn Neri, conta como essa vivência, que teve seus lados positivos e negativos, contribuiu para a formação do projeto Lab Liderança 2020, lançado com o apoio do Fundo Casa Fluminense. 

“A gente viu certa potência nesse modelo de debates voltados para jovens, mas o ambiente em si era muito nocivo e opressor.  Pensamos então em adaptar o formato para a nossa realidade, conseguir manter a mesma experiência de impacto, capaz de incentivar os jovens a discutir a sociedade, mas fazendo do nosso jeito”, explicou Evilyn.

A iniciativa Lab Liderança 2020 é composta por 14 jovens, entre 15 e 25 anos e moradores de favela. Eles estão passando por uma série de oficinas e materiais sobre temas que impactam a vida em sociedade. O objetivo é que, no final desse ciclo formativo, eles produzam o planejamento e execução de duas ações territoriais que visam reparar impactos da COVID-19 no seu bairro. O grupo Liderança Popular Cidadã tem como meta tornar esse laboratório itinerante para conseguir alcançar jovens de diferentes favelas do Rio. 

Companhia de Aruanda, Madureira. Foto divulgação: @ciadearuanda

Multiplicar as próprias vivências também foi o que motivou a Associação Cultural Companhia de Aruanda a criar o projeto Jovens Lideranças Comunitárias. Os representantes do grupo passaram por processos de formação similares e, segundo eles, esse tipo de curso foi um diferencial para seu crescimento enquanto articuladores locais. E, em Madureira, a internet foi uma aliada nessa construção integrada. O coletivo, que trabalha com arte e educação junto com a juventude,  tinha dificuldade em integrar os jovens do bairro, isso porque moradores de um morro não frequentavam a outra comunidade vizinha. 

Como esta edição foi virtual, a companhia conseguiu selecionar projetos de 20 jovens moradores das quatro comunidades do território: Serrinha , Cajueiro, São José e Congonha. Os alunos receberam aulas sobre empreendedorismo, racismo, captação de recursos, entre outras oficinas. O diretor da Associação, Rodrigo Nunes, contou que um dos trabalhos práticos foi a inscrição de um projeto no edital da Lei Aldir Blanc.

“A etapa da inscrição foi muito importante, pois conseguiram que um projeto todo desenhado e escrito por eles fosse aprovado. Isso prova a potência desse trabalho em rede, juntando jovens de todas as comunidades de Madureira. De certa forma, serviu para nos mostrar a necessidade de estarmos presente em todas as favelas. Temos que quebrar esse ciclo e expandir as oportunidades”, afirmou Nunes.

A Companhia de Aruanda se planeja para oferecer no próximo ano um curso itinerante, que passe pelas 4 favelas. Os próprios alunos reforçam esse desejo, e durante o curso eles planejaram um festival pra tentar reunir todas as comunidades.

Associação Phábrika de Artes, Fazenda Botafogo. Foto divulgação: @ccphbk

Também voltada para jovens, a Associação Phábrika de Artes atua com objetivo de fortalecer os artistas locais e estimular a cultura entre crianças e jovens. Com mais de 10 anos de história, a Associação tem como missão viabilizar ações de arte dentro da periferia. Em 2016, o grupo achou um prédio público abandonado na Fazenda Botafogo e resolveu criar ali o Centro Cultura Phábrika, que já foi reconhecido como ponto de cultura da cidade e conta com sala de dança, teatro, biblioteca, galeria de arte e agora um centro de treinamento de e-sports. A coordenadora de projetos do centro, Samantha de Souza, contou que manter a experiência do projeto este ano foi um desafio. 

“O bairro tem um dos menores IDH da cidade e as crianças aqui, em sua maioria, não tem acesso à internet. Em um ano em que tudo virou virtual, conseguir acompanhar essa juventude foi bem complicado. No centro tínhamos como oferecer esse contato direto, mas trabalhamos para nos reinventar”, contou Samantha.

O grupo distribuiu mais de mil cestas pelo bairro e vem promovendo, a partir do recurso do Fundo Casa Fluminense, uma série de lives que são verdadeiros espetáculos. A ideia é movimentar o mercado produtivo e quebrar o paradigma de que não é possível se sustentar através da arte e da cultura.

Esse é o terceiro perfil sobre os projetos apoiados pelo Fundo Casa Fluminense, conheça também os projetos da Baixada Fluminense e Zona Oeste.

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