O Brasil é um país desigual e todo mundo sabe disso. Por aqui, a concentração de renda, o patrimônio e os serviços essenciais nas mãos de poucos chegam a níveis extremos, nos colocando como o 10º pior país no mundo, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Porém, o que não se sabia até então era como os brasileiros percebiam essa desigualdade no cotidiano. Uma pesquisa lançada no início de dezembro pela Oxfam Brasil/Data Folha mostrou que para 71% dos brasileiros, os muito ricos devem pagar mais impostos para financiar educação, saúde e moradia. É preciso desonerar a classe média e os mais pobres em prol de uma maior tributação da renda dos “muito ricos”.
A pesquisa aponta que, via de regra, a população percebe o tema, suas causas e soluções. A imensa distância entre pessoas muito ricas e o restante da sociedade é sentida pelo brasileiro médio, que, ao mesmo tempo, apresenta posições sintonizadas com o que tem apontado diversos estudos aplicados sobre saídas para esse imenso desafio – reversão de injustiças no sistema tributário, aumento do gasto social, aumento de oferta de trabalho e correção das desigualdades educacionais, entre outras. Esta percepção é condição fundamental para a mudança.
Para se ter ideia, 39 % das pessoas percebem e classificam a desigualdade como diferença socioeconômica e apenas 8% a classificam como carência de recursos e serviços. Outro dado é que 88% declaram estar entre a metade mais pobre do país numa escala de pobreza de 0 a 100 e duas em cada três pessoas não acredita que a desigualdade vá cair nos próximos anos. Há um certo pessimismo no ar misturado com total descrença, pois 88% das pessoas entrevistadas acreditam que as medidas do atual governo não alteram ou pioram o quadro de desigualdade no país. Ao mesmo tempo, 79% das pessoas acreditam que o combate às desigualdades é obrigação dos governos. Ou seja, a população tem a consciência do problema, mas falta a força motora que a faça agir, há pouca consciência política na capacidade de mudar esse cenário por meio do fortalecimento da sociedade civil em promover as mudanças que esperamos ver e isso é uma missão importante que devemos ter pela frente. Há luz no fim do túnel: 60% das pessoas concordam que o “mérito” não explica as desigualdades, afinal, o pobre que trabalha muito não terá as mesmas oportunidades que os ricos.
A priorização pública do problema, como visto na pesquisa, é o primeiro passo para que os atores políticos (sobretudo parlamentares e tomadores de decisão diversos na sociedade) se movam para propor e aprovar medidas que reduzam as distâncias que marcam nossa sociedade. A discriminação contra mulheres e a população negra representa barreira estrutural na superação de desigualdades, algo que nem mesmo boas políticas do passado recente – como as cotas raciais – deram conta de superar.
A amostra de entrevistados é de 2.025 pessoas em nível nacional, permitindo-se também a leitura por regiões (Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste). Entrevistas foram realizadas em 129 municípios de pequeno, médio e grande portes, incluindo regiões metropolitanas e cidades do interior.
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Para 79% da população, o Estado tem o dever de reduzir as desigualdades