Rio dá passo atrás investindo em ônibus a diesel apesar do compromisso de eletrificação da frota

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Comunicação Casa
Data
5 de abril de 2022

A prefeitura da cidade do Rio de Janeiro tem investido esforços nas discussões ambientais dentro da Conferência Rio+30 Cidades, mas recentemente, voltou atrás na decisão de eletrificação das frotas.  No início deste ano, a atual gestão anunciou que ônibus elétricos seriam comprados para compor o sistema do BRT TransOeste no trecho da Avenida Cesário de Melo. O edital não recebeu propostas e foi republicado, mas desta vez incluindo apenas a aquisição de ônibus a diesel, combustível que colabora para a poluição do ar. A principal crítica a licitação atual é que ela já nasce ultrapassada por prazos estipulados pela própria cidade. 

Entorno das estações de Madureira e Mercadão de Madureira. Integração SuperVia + BRT. Crédito: Acervo ITDP Brasil por Stefano Aguiar.

Esse retrocesso vai na contramão não só do anúncio da prefeitura como também do Decreto Nº 46.081/2019, que estipula que a partir de 2025 o Rio só vai contratar empresas e permitir veículos com zero emissão. Outra meta é que até 2030, essa frota sustentável tenha que representar 20% da frota. Esse descompasso mobilizou organizações da sociedade civil – como a Casa Fluminense, o ITDP e o Idec – a reivindicar que a gestão aproveite a licitação aberta para compra de ônibus para o BRT como uma oportunidade para se engajar efetivamente com seus compromissos e oferecer um transporte bom, barato, limpo, seguro e de qualidade para a população. 

Apesar das inovações publicadas recentemente pela Prefeitura, que prevê o sistema de bilhetagem digital e a separação dos contratos de provisão e operação para o transporte público, o edital para a compra de ônibus é baseado exclusivamente no diesel, tecnologia obsoleta e poluente. 

Não faltam registros de compromissos cariocas com a transição energética. A cidade é também signatária da Declaração de Ruas Verdes e Saudáveis – termo elaborado pela C40 com o desejo de  zerar a emissão de gases do transporte público a partir de 2025. Esse compromisso contrasta com a falta de ação que agora pode gerar um futuro descomprometido com o transporte público limpo e saudável para a população e para o meio ambiente. 

Risco à saúde dos cariocas 

Além da questão ambiental, os veículos movidos a combustíveis fósseis têm um impacto negativo para a saúde das pessoas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que a poluição do ar foi a principal causa de óbitos no país recentemente. O problema que afeta principalmente pessoas negras e pobres, principais usuários dos coletivos, aumentou 14% em dez anos no Brasil. Além de sofrerem diariamente com superlotações, calor, ausência de ônibus e atrasos, essas pessoas são mais afetadas por estarem em contato diário com as partículas emitidas durante a combustão que escapa dos veículos. 

Vale ressaltar que a crise causada pela Covid-19 colocou em evidência desafios já vivenciados pelo transporte público nas últimas décadas. Houve diminuição significativa de passageiros e perda de usuários para outros modos de transporte, como os que operam via aplicativos. A tecnologia é uma excelente aliada neste momento para atrair novamente a população e oferecer sistemas limpos, sustentáveis e de qualidade para todas as pessoas, principalmente as negras e pobres que não tem outra alternativa a não ser o transporte público.

Crianças e idosos também fazem parte dos grupos que são fortemente afetados. No caso das pessoas mais velhas, que têm sistema imunológico mais debilitado, os mecanismos de defesa corporais são mais frágeis e podem se sobrecarregar quando os sintomas se agravam, podendo ocasionar mortes por doenças respiratórias e cardiovasculares. Já as crianças são mais prejudicadas por inspirar uma quantidade maior de partículas nocivas, pois possuem uma frequência respiratória superior se compararmos com a dos adultos.

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