Mobilidade plena é bem mais que transportes. Supõe o reordenamento dos fluxos no espaço urbano, a integração eficaz dos seus usos, o combate à segregação socioespacial. Em outras palavras, um sentido de desenvolvimento capaz de refazer a experiência cotidiana na cidade para todos, sob pena do colapso diário compartilhado.
Entre 2010 e 2020 os trens metropolitanos do Rio, que transportam em média 620 mil passageiros por dia, receberão R$ 1,2 bilhões de investimentos públicos. A linha 4 do metrô, que liga a Zona Sul da capital à Barra da Tijuca, receberá R$ 8,5 bilhões do Governo do Estado, podendo vir a transportar, no máximo, 300 mil passageiros diariamente.
Gestão de transportes é muito mais que a multiplicação de vias e veículos. Presume sistema, articulação eficiente de modos múltiplos de estar e de circular pela cidade. A pé, em bicicleta, de ônibus, BRT, barca, metrô ou trem, em moto ou carro, e outros meios que estejam por surgir. Prioridade à circulação local, por calçadas ou ciclovias, ao transporte público, e compartilhamento de veículos individuais. Frequência, previsibilidade e conforto, além da disponibilidade. Abertura para o futuro, de baixo carbono e de inovação tecnológica, no qual o funcionamento do conjunto, com opções diversas segundo trajetos, momentos e usuários, será sempre mais importante do que qualquer serviço em particular.
2 milhões de pessoas na metrópole deixam seus municípios de residência diariamente para acessar oportunidades de lazer, estudo e trabalho nas áreas privilegiadas da capital. Um réveillon por dia, não festejado.
Construindo sobre esses princípios, o Rio tem a oportunidade de vislumbrar a superação gradual daquele que é hoje talvez o principal dreno de qualidade de vida no dia a dia dos seus moradores. Corresponder de forma qualificada aos 2 milhões deles que deixam diariamente seus municípios de residência para buscar oportunidades de lazer, estudo e trabalho nas áreas privilegiadas da capital. Deixar o posto de metrópole com maior tempo diário de deslocamento casa-trabalho no país, além de um dos maiores do mundo. Prover o acesso pleno, a um tempo mais democrático e eficiente, a tudo que a cidade oferece.
- Requalificação da malha de trens metropolitanos e suas estações, nivelando-a aos padrões de conforto, respeito aos horários e informação ao usuário existentes no metrô.
- Expansão das redes de metrô e barcas, com a implantação da Linha 3 em Niterói/São Gonçalo e a ampliação e qualificação dos serviços de barcas na Ilha do Governador, na Baixada e em São Gonçalo.
- Aprimoramento dos serviços de ônibus e BRTs, expandindo o uso de GPS para o monitoramento dos veículos e a previsibilidade aos usuários, reforçando os requisitos de frequência, conservação e segurança e enfrentando a resistência das concessionárias à regulação e controle públicos.
- Ampliação das infraestruturas viárias para pedestres e ciclistas, com o alargamento e qualificação de calçadas, melhorando a caminhabilidade, a expansão da malha de ciclovias e ciclofaixas, a adoção de políticas de desenho urbano voltadas a valorizar a circulação por meio delas e a expansão de programas de educação para a convivência adequada nas vias por pedestres, ciclistas e motoristas.
- Foco permanente no acesso universal aos serviços de transporte, com excelência no atendimento a mulheres, idosos e pessoas com deficiência, expansão da oferta de serviços noturnos, regulamentação de serviços informais em territórios populares e ampliação contínua de investimentos para a redução das tarifas.
- Implantação efetiva de sistema de transportes na metrópole, com o avanço contínuo na interconexão de serviços nos seus 21 municípios, integração tarifária e criação de agência para a centralização da cobrança e distribuição de recursos; garantia do acesso pleno dos órgãos reguladores às informações de serviços de todos os concessionários e reforço das capacidades de coordenação entre eles; e ampliação vigorosa dos meios de participação e transparência pública na gestão do sistema.
- Desestímulo ao uso do transporte individual, com a revisão de exigências de vagas de garagem em novos edifícios, elevação de custos de estacionamento em vias públicas, regulamentação e incentivo ao uso de serviços de veículos compartilhados.