Nyiara: a emancipação através do acolhimento

Texto por
Comunicação Casa
Data
24 de novembro de 2023

O cenário do sistema prisional no Brasil é desafiador, principalmente quando consideramos o recorte de gênero e raça. Ano após ano o número de mulheres negras em privação de liberdade aumenta. Segundo dados do Levantamento de Informações Penitenciárias (INFOPEN), realizado em 2018, 62% da população prisional feminina é composta por mulheres negras. As mulheres encarceradas sofrem, além da violência institucional, violações de direitos básicos e o abandono familiar. O trabalho de acolhimento dessa população, não só durante seu tempo de encarceramento, mas quando conseguem suas liberdades, é essencial para sua reintegração social.

No Brasil, 62% da população prisional feminina é composta por mulheres negras. Foto: Lucas Linnhares

A Organização Nyiara – Espaço de Acolhimento e Aprendizagem, que atua em São Gonçalo, começou seu trabalho em 2017 a partir do entendimento de uma das integrantes, Joyce Gravano, da necessidade de acolhimento dessas mulheres e de suas famílias. O projeto oferece cursos gratuitos de cabeleireiro e manicure, aulas do Encceja e também realiza ações como o guarda-roupa solitário e apoio alimentar com distribuição de cestas básicas

Segundo Mariana Andrade, enfermeira e coordenadora do projeto, o Nyiara entende a necessidade do acolhimento integral, não só das mulheres mas também de suas famílias. 

“A gente realiza contação de histórias com as crianças, porque essas mães quando vêm para o nosso espaço não têm com quem deixar seus filhos, então é importante ter um espaço para que essas crianças também sejam acolhidas“, ressaltou Mariana.

O projeto adapta suas atividades também para os filhos dessas mulheres, que muitas vezes não possuem rede de apoio. Foto: Lucas Linnhares

Acolhimento e aprendizado na prática

O projeto entende que o suporte vai além de abrigo e emprego, esse é o apoio mínimo que as políticas de Estado deveriam oferecer para auxiliar a reintegração dessas mulheres socialmente. A assistência emocional e psicossocial dessas mulheres e famílias, por exemplo, são questões que não são consideradas pelos governos, quando essa população sai do sistema prisional.

Nyiara realiza ações de emancipação feminina através da aprendizagem. Foto: Lucas Linnhares

Entre as atividades realizadas pelo projeto, eles realizam rodas de conversas, entendendo a importância da criação de espaços seguros, onde essas mulheres sintam-se ouvidas e compreendidas. Para Mariana, o que motiva o trabalho do Nyiara é ver o impacto notável que as atividades têm na vida dos moradores do território.

Ela compartilhou sobre Iracema, uma das acolhidas pela organização que foi a primeira aluna do Encceja e em 2021 ingressou na universidade. Segundo Mariana, ela entrou com uma bolsa de 100% na Estácio para cursar Psicologia. 

“Isso para mim foi uma realização, pensar que fizemos um bom trabalho. Foi um divisor de águas na minha vida e percebi realmente que estou no caminho certo, conseguindo ajudar os meus”, compartilhou.

Olhares para o futuro

A organização é uma das apoiadas pela edição de 2023 do Fundo Casa Fluminense, através do “Edital Agenda Rio 2030: Enfrentamento ao Racismo Ambiental, Geração Cidadã de Dados e Incidência Política”. Além do apoio do Fundo Casa Fluminense, o Nyiara também já recebeu outros financiamentos, mas Mariana descreve que a ajuda da população, que se tornou rede de apoio das ações da organização, são essenciais para todo o trabalho que eles desenvolveram até hoje.

“Geralmente todas as nossas festas, são os parceiros do território que nos ajudam, os amigos dos amigos, que fazem as doações e dão os presentes para a gente poder realizar as atividades”, contou a coordenadora.

O projeto está expandindo e hoje também atua mensalmente no município de Maricá, atendendo e dando suporte às mulheres e famílias do território. Eles lutam por um futuro em que a prefeitura de São Gonçalo possa oferecer mais apoio psicossocial, não só para a reintegração das pessoas encarceradas, mas para toda a população do município.

“Sonho por uma São Gonçalo mais humanizada, sem violência de gênero e  sem feminicídio. Onde as pessoas não utilizam a cidade só para dormir, que tenha emprego, lazer, cultura e saúde”, compartilhou Mariana.

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