“A palavra ‘política’ sempre esteve muito distante de mim, fazer esse curso é um desafio porque eu nunca acreditei na política e agora estou com vontade de entender e também fazer parte desse processo de alguma forma”. A fala foi feita por Carla de Souza, uma das novas alunas do Curso de Políticas Públicas organizado pela Casa Fluminense. Ela traduz o sentimento que foi apresentado pelos alunos nesta quarta-feira (04/03), dia de abertura do curso.
Essa 5ª edição do curso conta com algumas novidades, como: a implementação de três novas aulas, criação de oficinas e visitas externas à espaços importantes para se entender a formação da metrópole, entre eles a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e o Cais do Valongo. Além disso, nesta edição, a banca de seleção do Fundo Casa Fluminense vai escolher alguns projetos coordenados pelos alunos para apoiar.
Foram 40 selecionados no processo seletivo que recebeu mais de 800 inscrições, com representantes de 12 municípios da metrópole . Entre os critérios de seleção, a diversidade de raça, gênero e territórios foi um dos principais. A aluna Lana de Holanda, destacou essa pluralidade de causas e pessoas. “Eu fiquei pensando: ‘caramba, tem uma corrente gigantesca de trabalhos legais aqui!’. Para mim, o curso tem essa potencialidade de juntar todo mundo para fazer mobilização. Isso incentiva uma construção de parcerias que surgem aqui e se mantém no depois”, afirmou Lana.
Já são mais de 140 alunos formados pelo curso, dentre o perfil selecionado, as mulheres negras são um dos principais públicos-alvos. A história da nova aluna, Clara Souza, exemplifica a necessidade desta priorização. “Eu sou da geração anterior à política pública de cotas e isso fez muita diferença na minha vida. Esse orgulho de ser negro e de ser da favela não era muito fomentado. Eu me entendi mulher negra só aos 30 anos, depois dessa onda de políticas afirmativas. Então, esse curso faz parte de toda essa minha vontade de retomada desses espaços e de colocar o meu corpo político neles também”, explicou Clara.
A primeira aula que teve como tema a formação social e urbana do Rio de Janeiro, o coordenador executivo da Casa Fluminense, Henrique Silveira, foi o facilitador. A ideia era mostrar que existe outra forma de contar a história do estado, a partir da visão daqueles que são sempre invisibilizados começando pelos indígenas locais, os Tamoios. “A história de uma cidade sempre é uma disputa de narrativa, quem vai contar decide quem será silenciado”, explicou Henrique.
Transformar os olhares é o trabalho do Alessandro Conceição, outro novo aluno do curso, que atua no Centro de Teatro do Oprimido. Ele contou que o teatro ajuda os oprimidos a contarem a sua versão da história. Cria do Complexo do Viradouro, em Niterói, Alessandro está animado para criar esse novo cenário dentro do curso. “Reparando aqui nessa primeira aula, conseguiram unir gente de variadas regiões do Rio para pensar a metrópole. É fascinante conseguir criar esse espaço de troca e de ações que visam uma transformação para o Rio. Eu estou ansioso não só para trocar com todo mundo mas também para implementar mudanças concretas”, contou Alessandro.