Educação contra o Racismo Ambiental nas escolas de São Gonçalo

Texto por
Lucas Linhares
Data
6 de fevereiro de 2025

As consequências da emergência climática não afetam todas as pessoas da mesma maneira. Para aqueles que já sofrem com a ausência ou a má qualidade de serviços públicos no geral, fenômenos como calor extremo e inundações trazem desdobramentos ainda mais graves. Falta de água e luz, transportes públicos e escolas sem climatização adequada, habitações em áreas de risco ou pouco arborizadas são exemplos de problemas que afetam com mais frequência a vida de quem mora nas regiões mais periféricas da metrópole. 

Em São Gonçalo, por exemplo, dados dos Perfis Municipais divulgados pela Casa Fluminense revelam que mulheres negras somam mais de 63% do total de mulheres residindo em domicílios improvisados, não apropriados para a habitação. Além disso, os dados também mostram que o município apresenta um dos piores índices de qualidade de rios, baías e lagoas, e uma das menores áreas verdes por habitante da RMRJ.

É nesse contexto que o Centro de Educação Ambiental Gênesis, sediado no bairro Água Mineral, busca disseminar de forma lúdica e pedagógica o conceito de Racismo Ambiental e modos de enfrentamento para crianças da rede pública de ensino. Liderado por Lourdes Brazil, o projeto Xô Racismo Ambiental promove oficinas para estudantes do ensino fundamental e médio, que levam pra casa reflexões sobre como a desigualdade climática interdita diariamente o acesso a diversos direitos fundamentais. 

Na primeira etapa, o desafio é introduzir o tema. “No começo da atividade, muitas crianças dizem: ‘Puxa, mas eu amo o lugar onde eu moro, meus colegas, meus vizinhos’. Mas quando elas começam a listar as dificuldades que enfrentam todos os dias é que elas entendem que existe um problema, e que esse problema tem nome”, compartilha Lourdes. 

Em um segundo momento, o projeto leva as turmas para revisitar a história do bairro em uma imersão de campo. Ao entrevistar moradores mais antigos sobre as mudanças que ocorreram no território ao longo do tempo e visitar antigas áreas verdes, os alunos têm a oportunidade de aprofundar os conhecimentos a partir de suas realidades. O próprio Centro Gênesis, que integra o percurso das oficinas, está situado em um fragmento da Mata Atlântica onde são preservadas mais de 60.000m² de vegetação nativa, de acordo com o Instituto. 

“Estamos numa região com muitos contrastes, porque temos os problemas sociais evidentes, mas é um bairro importante e em crescimento, rodeado pelo centro de São Gonçalo, regiões como Alcântara e outros municípios como Niterói e Itaboraí”, conta Thaís Araújo, professora da rede estadual que acompanhou as atividades. 

No final os alunos são encorajados a propor soluções para os problemas identificados nas etapas anteriores de forma criativa, através de redações, cartazes, músicas ou desenhos. “A expectativa é que eles levem esses materiais para casa e conversem sobre isso” diz Lourdes. “Outro dia encontrei um funcionário de uma das escolas e ele disse: “A oficina funcionou, tudo que acontece de errado por lá as crianças dizem, ‘olha aí o racismo ambiental!”.  

O projeto é um dos selecionados pelo Edital Agenda Rio 2030, do Fundo Casa Fluminense, e integra uma rede de iniciativas populares que lutam por Justiça Climática, especialmente nos territórios que mais precisam.

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