Donas da Agro

Categorias
Texto por
Comunicação Casa
Data
26 de outubro de 2021

por Letícia da Hora*

Segurança Alimentar e Nutricional, Soberania na Produção de Alimentos, Agroecologia, Restauração e Preservação Ambiental nas periferias urbanas são as causas pelas quais as Mulheres da Parada militam no projeto Donas da Agro. Somos um coletivo de mulheres da Parada São Jorge, comunidade do município de São Gonçalo – RJ, que surgiu em março de 2020 com objetivo de apoiar famílias da nossa comunidade, afetadas pela crise causada pela primeira onda da pandemia de COVID-19.

Apesar da nossa articulação ser recente, muita coisa já foi feita e projetamos ainda mais para o futuro próximo. Com o Donas da Agro, temos a meta de plantar, até o final do ano, mais seis agroflorestas em territórios periféricos. Atualmente contamos com uma agrofloresta, dois canteiros de hortas coletivas, hortas e agroflorestas nos quintais das famílias atendidas pela organização, além de oferecer o curso “Sistemas Agroflorestais – Agricultura e Meio Ambiente em Harmonia”.

Até o final de 2021, as mulheres do Donas da Agro vão plantar seis agroflorestas em territórios periféricos. Foto: @mulheresdaparada

Esta luta por segurança alimentar começou no ápice da primeira onda da pandemia causada pelo COVID-19, quando criamos o Mercadinho Solidário. Trata-se de um estabelecimento sem fins lucrativos, onde 150 famílias de outras duas comunidades gonçalenses, do Sacramento e Santa Isabel, fazem suas compras do mês gratuitamente. Lá as famílias têm acesso a insumos de prevenção ao Covid-19, alimentos não perecíveis que integram a cesta básica e outros tão importantes quanto, mas que não estão inseridos, tais como: canjica, ervilha, lentilha, aveia, milho de pipoca, produtos de higiene pessoal, produtos de limpeza, legumes e hortaliças sem agrotóxicos e com alto teor nutricional que vem da nossa horta comunitária. 

O Mercadinho Solidário, do Mulheres da Parada, oferta alimentos para 150 famílias gonçalenses. Foto: @mulheresdaparada

Todas estas iniciativas nascem em um cenário de crise sanitária e econômica, sem apoio algum do Estado para mitigar os efeitos da pandemia nas favelas. Dessa forma, precisamos nos levantar enquanto organização da sociedade civil para garantir o direito básico: que nossa comunidade não morresse de fome. Quando o Governo Federal enfim lançou o auxílio emergencial que, inclusive, apresentou diversos imbróglios, nós, as mulheres da comunidade Parada São Jorge, já estávamos organizadas e atuando. Enquanto a fome e a desnutrição têm voltado a apresentar índices altíssimos no Brasil, projetos como o Donas da Agro tornam-se fundamentais na luta por segurança alimentar e nutricional atrelada à preservação e restauração do meio ambiente nas periferias.

Certa vez, quando estávamos terminando o mutirão do primeiro canteiro do Donas da Agro, uma criança ao ver o resultado do nosso trabalho fez a seguinte constatação: “Plantar é melhor que pedir legumes no CEASA”. Meses antes havíamos feito uma ação sem sucesso para arrecadar alimentos no Centro de Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro – CEASA RJ, o que foi muito frustrante. Essa criança soube do ocorrido e após ver a nossa plantação chegou a essa conclusão. E é por isso que amo o Donas da Agro! Conseguimos produzir alimentos, mas não qualquer alimento. É alimento orgânico, sem veneno, melhor que o do mercado e em abundância, como é conhecida a agricultura da agrofloresta. Isso traz dignidade, eleva sua autoestima, gera benefícios para a saúde física e mental, além de impactar positivamente na nossa biosfera reduzindo drasticamente a emissão de carbono na atmosfera e recuperando áreas degradadas.

Por aqui seguimos idealizando e executando diversos projetos, dentre eles: Donas da Parada, Mulheres & Advocacy, Donas da Agro. Todos pautados nas problemáticas enfrentadas pelas mulheres gonçalenses, já que nossa vivência enquanto mulheres deste território — majoritariamente negras e faveladas  — nos dá conhecimento de causa. Nossa perspectiva é ampliar e articular cada vez mais com atores centrais nessa discussão da segurança alimentar e da soberania alimentar, criando mais estratégias sustentáveis de produção nas comunidades, inclusive pautando o compromisso na Agenda São Gonçalo 2030 com o Ressuscita São Gonçalo, atrelada a reivindicação do saneamento básico e da coleta de resíduos.

* Letícia da Hora é agrofloresteira, gonçalense, publicitária, ativista social, líder comunitária, idealizadora das Donas da Parada e consultora cultural da Associação Karanba.

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