Faltam menos de 100 dias para a tão esperada eleição de 2022. Além das campanhas territoriais contra os atuais ocupantes do cargo de presidente e governador do Rio, a sociedade civil organizada da Região Metropolitana do estado também estuda e traça formas de lidar com um outro grande problema: a violência política. O último Encontro Casa reuniu representantes de organizações como Observatório de Favelas, Perifa Lab e Instituto Marielle Franco para entender quem enfrenta diariamente esses ataques.
No Rio de Janeiro, em períodos de disputas eleitorais, um fenômeno antigo volta a ter força, principalmente, na Baixada Fluminense. O levantamento “Violência e Política na Baixada Fluminense” feito pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e o Observatório de Favelas identificou 43 casos letais de atores políticos entre 2015 e 2020. Isso significa um político assassinado a cada 50 dias. Nova Iguaçu, Seropédica e Duque de Caxias são as cidades com mais vítimas, foram oito mortes em cada uma delas. O perfil dos mortos é em sua maioria de homens e brancos, o pesquisador da UFF, André Rodrigues, explica o motivo.
“Esse perfil corresponde a elite política que domina a Baixada há décadas, são vários grupos e famílias que disputam esses territórios. O perfil das vítimas mostram também que existe uma violência intra e entre iguais”, afirmou Rodrigues.
Além de acompanhar os casos de mortes, o estudo traz também um panorama sobre o crescimento de vereadores eleitos na região vindos do setor da segurança pública e privada. O destaque fica para Queimados em que 17,4% dos eleitos, entre 2015 e 2020, vieram de cargos da segurança como policiais, bombeiros e vigias. A diretora do Observatório de Favelas, Raquel Willadino, associa esse aumento a Bolsonaro e ao bolsonarismo, que para ela segue em vigor independente de uma possível reeleição do presidente.
“O peso dessas candidaturas de profissionais do ramo da segurança nas vereanças segue a mesma lógica do aumento de policiais em cargos do executivo estadual. Todos estão replicando o modelo nacional com militares nos ministérios”, conclui Raquel.
As diferentes formas de violência contra políticos
Durante o Encontro Casa, houve uma discussão sobre as etapas e diversas formas de repressão que atores políticos que destoam dos perfis de políticos hegemônicos tradicionais sofrem.
- Violência política eleitoral e institucional por Marcelle Decothé, gestora no Instituto Marielle Franco
“Realizar uma campanha eleitoral é um desafio gigante no Brasil, apesar de já ser lei a necessidade de candidaturas femininas, ainda existem muitas incertezas. Muitas vezes ocorre uma disputa institucional dentro dos próprios partidos para que essas atrizes políticas tenham acesso à direitos óbvios como recurso eleitoral, segurança e apoio não só formal como também participativo do partido”
> Relembre: a quinta vereadora mais votada do Rio de Janeiro, Marielle Franco, foi executada a tiros
- Violencia política de gênero por Ana Carolina Lourenço, co-fundadora do movimento Mulheres Negras Decidem
“O debate sobre a importância da representação no Brasil não vem atrelado a uma proteção, não se entrega um plano de permanência para as candidatas eleitas.”
> Relembre: a vereadora de Niterói, Benny Brioli, denunciou uma ameaça de morte, enviada pelo e-mail do deputado estadual, Rodrigo Amorim.
- Violência política territorial por Arthur Sampaio, diretor do PerifaLab
“É um desafio muito maior ser candidato progressista que consegue alcançar votos na Zona Oeste da cidade do Rio ou na Baixada Fluminense. O voto dessas regiões tem outro peso, esse ator político precisou enfrentar a milícia, o tráfico e a elite política local. Candidaturas que consegue furar esses desafios e permanecer vivos são candidaturas chaves que precisam de proteção”
> Relembre: bandidos armados invadiram base do então candidato a vereador, Wesley Teixeira, em Duque de Caxias
O debate sobre violência política e caminhos para o Rio de Janeiro nessas eleições foi o tema deste segundo Encontro Casa 2022. A reunião é aberta apenas para associados da Casa Fluminense.