Para os moradores da Baixada Fluminense, conviver com os desafios em torno da mobilidade urbana e das mudanças climáticas é cotidiano. De Itaguaí à Guapimirim, problemas como enchentes, calor extremo, falta de acessibilidade e longas jornadas de deslocamento são alguns dos desafios para quem mora, estuda, trabalha e precisa se deslocar pelos municípios da região.
No dia 15 de fevereiro, a Escola Municipal Bernardino de Melo, em Japeri, recebeu lideranças, especialistas e representantes do poder público para o evento “Mobilidade e Justiça Climática para a Baixada”. A iniciativa, organizada pelo Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP Brasil) e a Casa Fluminense, com apoio do Instituto de Clima e Sociedade (ICS), marcou o lançamento de três cartilhas com cinco propostas de políticas públicas para Japeri, Nilópolis e Nova Iguaçu — territórios que enfrentam grandes desafios de mobilidade urbana e as mudanças climáticas.
As cartilhas surgiram a partir de oficinas e encontros com a sociedade civil, onde foram analisados 45 indicadores e apresentados cinco mapas temáticos, que identificaram como a precariedade da mobilidade é agravado pelas mudanças climáticas. Para Luize Sampaio, coordenadora de informação da Casa Fluminense, os dados são fundamentais para construir propostas conectadas à realidade: “A ideia dos dados é a gente conseguir construir as propostas de forma elaborada, com os moradores, para que não se perca da realidade, mas também esteja alinhado com o que é mais emergencial”
Segundo os Perfis Municipais da Casa Fluminense, 1 a cada 10 moradores da Região Metropolitana do Rio de Janeiro comprometem 25% da renda com transporte público. Em municípios como Japeri, o peso da tarifa se soma a outros desafios climáticos, como a falta de serviços de coleta e tratamento de esgoto, e de segurança, com 100% das pessoas mortas nos transportes públicos sendo negras. Em Nova Iguaçu, 3 a cada 10 moradores gastam 25% da sua renda com transporte público e 64% da população declara não conseguir pagar suas dívidas. Já em Nilópolis, 85,7% das pessoas internadas por doenças de veiculação hídrica são negras e 100% das pessoas mortas nos transportes públicos também são.
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Diante dessas e outras urgências, foram discutidas e construídas soluções para os municípios, que se traduziram em três cartilhas que apresentam diagnósticos e propostas de políticas públicas para cada um dos municípios. A gerente de gestão de transporte do ITDP Brasil, Lorena Freitas, compartilhou sobre o projeto. “A ideia foi justamente analisar como os efeitos das mudanças climáticas se assentavam na realidade das pessoas que residem nesses territórios e dependem dos transportes públicos, para entender quais são as demandas desses grupos e conseguir desenvolver as cartilhas a partir disso”, explicou.
O evento de lançamento foi estruturado como um espaço aberto para diálogo, reunindo sociedade civil, representantes de organizações e gestores públicos, para debater as propostas apresentadas. Além do lançamento das cartilhas, aconteceu também encontro das Agendas Locais 2030 da Baixada Fluminense, onde os representantes das publicações compartilharam como essas discussões impactam seus municípios, destacando a realidade dos seus territórios.
Para Douglas Almeida, representante da Agenda Meriti 2030, essa troca de experiências foi fundamental. “Ver uma sala onde gestores públicos vêm dialogar a partir do que a sociedade civil está propondo é muito importante. O que estamos vivenciando aqui é o que deveríamos vivenciar em todos os municípios, a partir desse processo de diálogo e construção, onde a sociedade civil vê um problema, analisa, cria propostas e, de forma coletiva, isso pode se tornar uma política pública”, compartilhou a liderança.
Em um dia de sol e calor extremo, cerca de 100 pessoas se reuniram para debater mobilidade e justiça climática, evidenciando não apenas a urgência do tema, mas também o interesse popular em construir políticas públicas alinhadas com as demandas reais dos territórios. O lançamento das cartilhas representa um passo importante para a construção de soluções na Baixada Fluminense, mas não pode ser o último. Para que as propostas saiam do papel, é fundamental que a sociedade civil siga mobilizada, ampliando sua incidência e pressionando por mudanças estruturais, e que o poder público se mova a partir dessas demandas.
A Baixada Fluminense precisa de respostas e a necessidade de ação é urgente!
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