Casa reúne 40 lideranças locais para pensar as suas cidades a partir do seu lugar

Texto por
Luize Sampaio
Data
7 de abril de 2022

Depois de dois anos, a Casa Fluminense inicia as aulas presenciais do Curso de Políticas Públicas em um grande reencontro com lideranças locais de diferentes territórios da metrópole do estado do Rio de Janeiro. Articulando uma rede que vai da Baixada Fluminense ao Leste Metropolitano, são ao todo 40 alunos que ontem (06/04) reinauguraram esse espaço de formação e planejamento de uma metrópole menos desigual. Para dar o pontapé inspiracional, o primeiro convidado foi o animador cultural, cineasta e fundador do primeiro coworking da Baixada- (Galpão Goméia), Heraldo HB. O artista ressalta a potência que essa formação tem para o futuro do Rio.

O animador cultural de Duque de Caxias, Heraldo HB, foi convidado para fazer a fala inicial do Curso este ano.

“Boa parte das novidades e alentos que têm surgido nos últimos anos, que têm me dado esperança, vêm de pessoas que passaram por esse curso. Estamos vivendo um desmonte de tudo dentro do campo das políticas públicas, mas também passamos por uma energia de reconstrução, não vamos começar do zero. Para um curso como esse é importante relembrar os marcos legais, o que já temos de ferramentas dos anos de acúmulos que temos em cada setor. Me sinto honrado de estar aqui”, afirmou o artista.

Para dialogar com a reflexão do HB, a aula inaugural foi mediada pelo geógrafo e coordenador geral da Casa Fluminense, Henrique Silveira. Com tema “Formação Social e Urbana do Rio de Janeiro”, Silveira destaca a história dos povos originários como premissa para começar a falar do Rio de Janeiro.

“O Rio é território Tupinambá, o genocídio que ocorreu aqui é uma das marcas para os processos de violência da história de todo o Brasil. A ideia da aula é a gente estudar e disputar a história e a memória da nossa região e fazer isso de forma coletiva. Eu não acredito em liderança que anda sozinha, temos que nos aquilombar”, resumiu Silveira.

A história da formação do Rio foi o tema da primeira aula do Curso de Políticas Públicas 2022.

A necessidade de se reunir em bonde foi o que sempre motivou Vitória Rodrigues, de 17 anos, estudante da Escola Politécnica da Fiocruz. Moradora de São João de Meriti, ela contou que desde os 15 anos tinha vontade de participar do Curso de Políticas Públicas da Casa. Agora como aluna, Vitória falou sobre as expectativas que tem para as aulas e como pretende levar essas ferramentas para dentro do seu território.

Vitória Rodrigues é uma das fundadoras do Atua Meriti.

“Acabei de iniciar um projeto com outras cinco amigas que se chama Atua Meriti, queremos melhorar a nossa cidade com a ajuda dos jovens. Então tudo que eu aprender aqui vou levar para lá e quero muito construir ações junto com o pessoal do curso, que a gente ande em bonde”, explicou Vitória. 

Uma das propostas do Curso é promover encontros de pessoas que estão em sinergia de intenções mesmo atuando por frentes e espaços diferentes. Na mesma sala que a Vitória está também Júlio Oliveira, de 56 anos, de São Gonçalo. O pastor é fundador e presidente do Instituto Casa Comum. A organização atua no apoio com cestas básicas para mães solos do Morro do Escadão e também em ações de acolhimento a comunidade trans no centro de São Gonçalo. Assim como o projeto da Vitória, o Instituto também nasceu recentemente a partir de um grupo de amigos.

Pastor Júlio Oliveira, de São Gonçalo, é um dos alunos do Curso de Políticas Públicas 2022.

“Essa questão da memória para mim é fundamental, eu me lembro quando me vi negro. Então não existe pensar na construção de políticas públicas para a cidade sem conhecer a nossa história. Saio da primeira aula bastante impactado e municiado para refletir sobre como o que acontece hoje em São Gonçalo é também reflexo de uma dinâmica de isolamento do nosso povo, que resultou no início dessa pobreza do Rio de Janeiro ”, concluiu Oliveira. 

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