O Funco Casa Fluminense selecionou oito projetos do município do Rio, na Zona Oeste foram 3 iniciativas com atuações diversas. Em um ano atípico, todas carregam em comum o trabalho humanitário com foco na preservação da população do seu território. Mas, enquanto um projeto busca a conservação do seu passado, outros criam atividade para mobilizar o futuro. Confira abaixo um pouco da história e caminho de cada um deles:
A educação foi um dos setores mais abalados com a pandemia. Em Vila Kennedy, o Projeto Socioeducacional e Desenvolvimento Cultural SAAF percebeu a piora do cenário durante as entregas de cestas básicas e kits de higiene no bairro. Com muito tempo ocioso e sem a entrega das apostilas prometidas pela prefeitura, muitos corriam o risco de perder o ano. O SAAF passou então a acompanhar o desenvolvimento desses alunos em casa. Durante as entregas de alimentação, o grupo aproveitava para levar cópias das apostilas das escolas, que estavam disponíveis no site da prefeitura porém muitas famílias do bairro não tinham acesso por não ter internet ou celular. A coordenadora do projeto, Ana Carolina Santana, contou que se antes da pandemia eles já lidavam com muitas crianças com dificuldade de leitura, o receio é que esse quadro piore.
“Sem incentivo ou dinheiro para imprimir as apostilas o risco era que muitos desaprendessem a ler ou tivessem o seu desenvolvimento prejudicado. Por isso passamos a auxiliar eles em casa”, explicou a coordenadora.
Ana Carolina contou também que as escolas só começaram a se comunicar com as famílias após uma reportagem na tv em que SAAF denunciou o que estava acontecendo. Em meio a essa situação, o grupo tem usado o apoio do Fundo para distribuir livros paradidáticos para as crianças da região entre 6 e 14 anos. Serão entregues no total 250 livros com temática negras e com histórias capazes de provocar um sentimento de reconhecimento e auto estima. O próximo exemplar que vai ser distribuído nesta sexta-feira (4/11) é o livro “Amoras” do rapper Emicida.
Na outra ponta da Zona Oeste, na Cidade de Deus, a Casa Dona Amélia tem contribuído para o fortalecimento territorial a partir do acolhimento emocional das crianças, jovens e mulheres do bairro. A organização busca ser um espaço para troca de experiências, mas precisou adaptar as suas atividades durante a pandemia. O formato de atuação tem sido o virtual, o que tem possibilitado um alcance maior da participação da comunidade. Nas lives, o grupo trouxe desde assuntos sobre a maternidade até discussões sobre os direitos da criança e do adolescente.
O Fundo Casa Fluminense também tem ajudado no auxílio dado ao grupo de mulheres da Cidade de Deus, através da criação de planos de reação individuais e coletivos para as consequências da pandemia da covid-19. A representante da Casa Dona Amélia, Ingrid Braga, contou quais são os próximos passo que o projeto almeja.
“Com as ações de suporte materno buscamos contribuir para a garantia da alimentação saudável de diversas famílias, e também para a criação de soluções locais que estejam alinhadas com as urgências das mães do território. Desejamos em breve conseguir aprofundar o diálogo sobre a economia criativa e a valorização da cultura de favela como possibilidades de mobilidade social”, afirmou Ingrid.
A organização está produzindo um documentário chamado “Cartografias Dos Bailes” com objetivo de proporcionar a visibilidade das soluções criativas que surgem a partir da cultura e do empreendedorismo social.
Com mais de 200 anos de história, a comunidade do Quilombo Cafundá Astrogilda, localizada no Parque da Pedra Branca em Vargem Grande, organizou o recurso recebido pelo Fundo por duas frentes, com objetivo de conseguir fortalecer o território e também preservar sua história. O primeiro foco foi voltado para o momento emergencial em que vivemos com a pandemia. O projeto Cozinha Solidária do Quilombo tem distribuído quentinhas toda segunda-feira para as comunidades no entorno da região quilombola. A outra parte do recurso será usado no término da construção de parte do espaço que vai sediar o museu do Quilombo. O representante do grupo, Sandro Santos, conta que a criação do museu é uma forma de preservar a história de toda a região.
“Entre 1936 e 1960 o quilombo também foi um centro espírita, temos aqui imagens que são verdadeiras relíquias não só religiosas como também históricas. Nosso trabalho aqui é de formiguinha, em cada projeto tentamos sempre tocar as pessoas aqui da região, melhorar o conhecimento delas sobre a cultura do quilombo e também preservar a história desse espaço que veio de muita luta”, contou Santos, que também é agente de defesa ambiental.
O Quilombo Cafundá Astrogilda passou por uma série de ameaças de remoção do Parque na última década. Em 2014, eles conseguiram obter o seu reconhecimento ambiental pela Fundação Palmares. Mesmo assim, o grupo ainda se sente ameaçado pelo processo de gentrificação local, a questão fundiária ainda é um problema pois o território do quilombo ainda não foi demarcado.
O Fundo Casa Fluminense apoiou 20 projetos do leste à Baixada Fluminense. A cada semana vamos contar um pouco sobre o perfil dos grupos de cada um dos territórios selecionados. Começamos falando das cinco iniciativas da Baixada.