Texto por

Data

Vigilância popular em saúde, pesquisadores de Santa Cruz denunciam crise ambiental no bairro

Martha Trindade foi uma das ativistas pioneiras contra o distrito industrial de Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio.  Um dos símbolos da luta contra a poluição do ar e preservação ambiental, Martha faleceu por conta de problemas respiratórios. A sua luta segue viva através de quatro jovens também moradores da região que se uniram em 2016 para criar o Coletivo Martha Trindade. O pesquisador Flávio Rocha, contou que o objetivo da iniciativa é de contrapor a narrativa da Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA).

“Eles sempre disseram que o ar de Santa Cruz era melhor que o do Leblon, então a gente foi medir essa qualidade. Esse processo de meditação nos confirmou que o ar daqui não é melhor que o do Leblon, inclusive, mostrou também que o ar está acima dos valores permitidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS)”, completou Rocha. 

Coletivo realizou a oficina “Mudanças climáticas e conflitos ambientais: um olhar sobre siderurgia” em parceria com a Casa Fluminense. Foto: Mayara Donaria

Apesar de estarem um dos bairros mais distantes das universidades públicas do Rio de Janeiro, o trabalho de levantamento cidadão de dados do coletivo chegou a Fiocruz e outros campos acadêmicos importantes, mas o grupo quer seguir numa outra direção também.  

O Martha Trindade tem realizado ações locais com a população, um desses encontros foi uma oficina apoiada pelo Fundo Casa. Durante a formação, moradores de Santa Cruz discutiram sobre racismo ambiental. 

“A produção de narrativas não pode ficar restrita às universidades e a população branca, a periferia tem a capacidade de construir também junto. Falamos muito sobre as populações que são sacrificadas em prol do desenvolvimento. Todo desenvolvimento tem um preço, aqui que tem sido a vida dessas pessoas”, afirmou o pesquisador do coletivo. 

Alunos da oficina tiveram acesso ao documento completo da agenda Plano Santa Cruz 2030 para pensarem em novos caminhos para o bairro. Foto: Mayara Donaria

Santa Cruz foi umas das primeiras regiões da metrópole do Rio a produzir uma agenda local, na publicação era defendido a importância de ter mais oportunidades de emprego para jovens negros e também a necessidade de uma compensação pelo desgaste que o distrito industrial causava na vida dos moradores. O bairro possui um dos dez menores IDH, enquanto o Leblon está em segundo lugar entre os melhores. 

Segundo Flávio, esses fatores socioeconômicos estimularam também a empresa a se instalar no bairro.

“Eles sempre pregaram um discurso de como trariam empregabilidade e desenvolvimento para o nosso território, mas quem mora aqui sabe que isso não é verdade. Esses processos de expansão industrial ignoravam e seguem ignorando os saberes locais, a soberania alimentar do território e as nossas populações tradicionais”, completou o pesquisador. 

Santa Cruz é uma região historicamente ocupada por populações tradicionais e pescadores, mas desde a década de 60 o território tem passado por um longo processo de industrialização, uma marca são os conjuntos habitacionais que cortam o bairro .Além da poluição do ar, a siderúrgica também impacta na vida e trabalho dos pescadores da região, o resultado da sua poluição pode ser visto na Baía de Sepetiba e no Rio Guandu. 

Alunos e representantes do coletivo fizeram uma leitura final com todas a propostas que apareceram durante a oficina. Foto: Mayara Donaria

A partir dos diagnósticos já colhidos e denunciados pelo Coletivo Martha Trindade e também das novas propostas que surgiram na oficina, o grupo agora está focado na produção de uma carta compromisso. Esse documento vai ser usado para fazer cobranças e propostas de mudanças para o distrito industrial. 

Compartilhe

Conteúdo Sugerido

Nós armazenamos dados temporariamente para melhorar a sua experiência de navegação e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao utilizar nossos serviços, você concorda com nossa Política de Privacidade.

Feito com WP360 by StrazzaPROJECT