Mulheres de Belém criam publicação inspirada na Agenda Rio 2030

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Texto por
Luize Sampaio
Data
19 de julho de 2022

As abelhas são responsáveis por garantir a sustentabilidade de ecossistemas, através do pólen elas ajudam no surgimento de novas flores e frutos na natureza. Foi inspirada nessa premissa que surgiu o grupo Jandyras, que em tupi significa abelha de mel. Formada por 20 mulheres jovens da região metropolitana do Pará, a rede de articuladoras ambientais criou uma Agenda Climática para Belém inspirada na Agenda Rio 2030. Ambas elaboram propostas de políticas públicas contra a emergência climática que atinge principalmente as populações mais pobres. 

Mariana Guimarães, uma das gestoras da organização Ame o Tucunduba que formou o Jandyras, explica as semelhanças entre as agendas. 

“A Jandyras veio de uma convocatória feita por nós, buscamos mulheres, em sua maioria negras, para discutir a questão climática da nossa Região. A partir dessa formação surgiu a ideia de criar uma agenda como a da Casa Fluminense. A organização nos recebeu para trocas e discussões sobre as melhores metodologias. O que a gente mais queria era conseguir criar uma agenda tão técnica e ao mesmo tempo acessível como a Agenda Rio 2030”, explicou Mariana. 

A Agenda Climática para Belém foi produzida por pesquisadoras e mobilizadoras da Região Metropolitana do Pará.

Primeiras conquistas da Agenda Belém  

Uma das estratégias que as Jandyras se espelharam foi na incidência política, desde a produção da agenda esse já era um dos objetivos. Em pouco menos de seis meses, já surgiu a primeira vitória. As mulheres conseguiram pressionar a Câmara Municipal de Belém para a criação do Fórum Municipal de Mudanças Climáticas. O espaço já era previsto em lei, mas nunca tinha entrado para o Plano Plurianual da cidade. 

Sua instauração dá um “check” em uma das propostas prioritárias da Agenda Belém. A publicação que é composta por 5 eixos temáticos: Mobilidade Urbana, Justiça Ambiental e Racial, Infância e Clima, Direito à Cidade com enfoque em habitação social e direito à água e saneamento. 

Racismo ambiental, quando a  desigualdade ambiental se encontra com a desigualdade racial

Belém fica em um dos estados que compõem a chamada Amazônia urbana. Apesar do bioma, a cidade possui um baixo percentual de arborização com apenas 22,3%, segundo Censo 2010, o  menor índice do Brasil. 

A cidade lidera um outro ranking desanimador. Belém é a capital brasileira que mais contribui para emissão de gases efeito estufa, segundo o relatório do SEEG 2020. A cientista social e integrante do Jandyras, Cláudia Pessoa explicou como esse fenômeno faz parte da lógica do racismo estrutural. 

“Apesar de estamos dentro da Amazônia urbana, a cidade vive um processo de distanciamento com a natureza. Os moradores não se consideram vivendo dentro desse bioma. Nossa relação com o meio ambiente se transformou, a cidade foi virando as costas para seus rios. Os negros, maioria nas periferias da Amazônia, são os que mais sofrem dentro de seus centros urbanos. É aí que a desigualdade ambiental se encontra com a desigualdade racial, e para isso se dá o nome de racismo ambiental”, resumiu a pesquisadora 

Seus rios e nossa Baía, para pensar no futuro 

Uma das principais mudanças com a urbanização da região Amazônica foi a desconexão que isso gerou entre a população e os rios. Por isso, a Agenda agora busca formas de levar essa discussão para a juventude. Um dos planos é a criação de um jogo, é o que explica Cláudia. 

“Os projetos de ocupações trazidos pela ditadura militar mudaram significativamente a nossa relação com os rios. Houve um distanciamento da sociedade com a natureza, as pessoas pararam de se reconhecer enquanto moradores da região amazônica. Isso altera a sua relação com o meio ambiente. Belém foi virando as costas para seus rios, que foram deixando de ter a importância social e econômica que poderiam ter”, explica a representante do Jandyras. 

Na Agenda Climática para Belém, o grupo reforça a potencialidade que esses rios possuem. Segundo elas, eles acabariam com dois problemas da cidade de uma vez: a falta de transporte público e alto índice de emissão de gases. Elas apontam o investimento em transporte aquaviário como uma solução limpa e estratégica para a Belém, que é composta por 42 ilhas. 

“A cidade tem que parar de  crescer de costas para seus rios. Ignorar os nossos rios é ir contra as correntes das nossas características naturais. Os rios são a solução da cidade e não os problemas”, resumiu Mariana. 

A Agenda Climática para Belém está disponível para download assim como a Agenda Rio 2030.  

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