Os laboratórios informativos do Fórum Rio 2021 reuniram mobilizadores sociais de diferentes territórios da Região Metropolitana do Rio. Foram dois dias intensos com dez labs que discutiram todos os eixos do Relatório de Monitoramento Agenda Rio 2030, nova publicação da Casa que traz um resumo dos retrocessos e avanços nas políticas públicas da RMRJ. A baixa imunidade da saúde pública, a má gestão e falta de transparência dos municípios, o futuro da educação, a crise no transporte e a arte na periferia foram alguns dos temas abordados.
Para cada mesa, foram convidados algum parceiro que apresentava a causa que leva seu projeto a se mobilizar e outro rosto da rede Casa apresentando uma ferramenta de incidência que ajude na movimentação em prol dessa causa. Um exemplo foi o “Lab Gestão Pública: por uma administração responsável e transparente” que contou com a participação do assessor de informação da Casa, Lucas Martins, e da Mariana Vianna, representante da Agenda Japeri 2030. O pesquisador da Casa mostrou como funcionava na prática a ferramenta de pedido de acesso à informação, uma lei federal que ajuda a Mariana lá em Japeri a reivindicar e pressionar a prefeitura da cidade por mudanças.
“Nós fazemos esse trabalho de captar e divulgar a informação sobre a gestão para a população nas feiras de rua, nas academias, nas estações ou em qualquer lugar. A gente apresenta os dados e diagnósticos que fazemos, assim buscamos chamar mais gente para a nossa luta. Nós esperamos voltar no próximo Fórum com mais noticias e mais encaminhamentos positivos para a nossa cidade”, afirmou Mariana
Apesar da variedade de temas e vivências, algumas angústias e impasses foram comuns nas falas de todos os labs como a urgência da fome, a falta de transparência do poder público e a necessidade de maior integração entre os municípios da metrópole. Para a coordenadora do Observatório dos Trens, Rafaela Albergaria, é preciso pensar em novas centralidades e melhor distribuição dos recursos públicos pela metrópole. Para ilustrar, ela usa a questão da crise nos trens.
“Parte dos nossos problemas de mobilidade urbana, por exemplo, não se restringe apenas às questões do transporte. Temos problemas que só serão resolvidos quando forem criadas outras centralidades dentro da nossa metrópole. É isso que explica o investimento de bilhões em uma estação para a Barra no lugar de reformas nos trens. Precisamos olhar para outros lugares e fazer uma distribuição mais igualitária dos recursos, dividir o orçamento e investimento dentro dos territórios, hoje fica tudo na cidade do Rio”, contou Rafaela.
Os projetos da Baixada, do Leste e das Zonas Oeste e Norte do Rio chegaram em peso nos labs. Já pensando em abrir espaço para essas novas centralidades, em Realengo, o grupo Agenda Realengo 2030 tem feito barulho em busca de uma área verde do bairro. A arquiteta e urbanista, Larissa Monteiro, contou que esta não será só uma vitória para o bairro e sim para toda região.
“O parque de Realengo não serve só para Realengo, mas sim para toda a cidade. Ao ocupar esse espaço, a gente está reivindicando qualidade de vida e lazer para todos. Habitar também tem a ver com a qualidade do nosso território e não só a casa onde moramos”, contou a arquiteta.
Encerramento ao vivo no Quintal de Casa
Para finalizar essa série de trocas, na sexta-feira o Fórum Rio encerrou o evento este ano com shows da rapper Afrodite BXD e da DJ DAMATTA, seguidas do grupo Movimento Mulheres Sambistas. As apresentações estão disponíveis no youtube da Casa e foram feitas durante a live de encerramento do evento que ocorreu no Centro Cultural Phábrika, Fazenda Botafogo, Zona Norte do Rio de Janeiro. O coordenador do espaço, Mauro Barros, foi também um dos convidados dos bate-papos que ocorreram entre os intervalos das apresentações. Depois de um período complexo para o setor cultural, ele falou sobre a importância de ter um Fórum realizado na Phábrika, mesmo com a restrição de público e sendo apenas um evento transmitido de forma online.
“Receber o Fórum aqui dá uma carga nova de motivação para enfrentar os desafios e permanecer com o nosso trabalho. São grupos como a Casa Fluminense que trouxeram para gente uma realidade nova, de que não estamos sozinhos ou abandonados. A gente que é de realizar e de prática, de quem faz acontecer no território e no nosso raio de ação, muitas vezes achamos que estamos invisíveis e essa atuação em rede que o Fórum proporciona mostrou que não”, afirmou Barros.
Os desafios que estão em jogo no ano que vem também foram pautas de conversa na live de encerramento. O coordenador geral da Casa, Henrique Silveira, falou sobre as prioridades para a organização e outros parceiros para o próximo ano. Entre as principais ações estão a mobilização no movimento Vira Página.
“A grande tarefa é o Fora Bolsonaro, esse é um compromisso que toda a sociedade precisa ter agora. Nosso país não aguenta mais quatro anos desse governo, não vai sobrar nada do Brasil. Acho que para isso existe uma tarefa específica que é conversar, sobre tudo com que acreditou nesse projeto. A gente precisa conversar com quem achava que as coisas iriam melhorar e estão vendo que não foi isso que aconteceu. Não é só o país que está rachado, nossas famílias também. E a mensagem principal é falar da inflação absurda, a conta não fecha. Nossa onda de conversas começa por aí”, explicou Silveira.
Uma das obras que inspira o movimento Vira Página é a obra “Mais importante é inventar o Brasil que nós queremos ” (2021) do artista visual, Elian Almeida. A pintura traz mulheres negras tecendo e cuidando da bandeira do Brasil. A artista gravou uma participação para a live Quintal de Casa e disse que acredita na importância do resgate do verde amarelo no ano que vem.
Essa rede da Casa também marcou presença nos labs e encerramento do Fórum Rio 2021. Entre as organizações e os coletivos participantes estavam: Agenda Realengo 2030, Ocupação João Cândido, Plano Santa Cruz 2030, Agenda Queimados 2030, Observatório dos Trens, Agenda Caxias 2030, Lab Jaca, Cocozap, Apadrinhe Um Sorriso, Favela Vertical, Agenda VK, PVNC Vila Operária, Nossa Meriti, FAIM Festival, Mulheres da Parada, Teatro das Oprimidas, Agenda Japeri 2030, Sim! Sou do Meio e Instituto Marielle Franco.