Por mais jovens negros e periféricos nas universidades, a Casa Fluminense ampliou seu apoio a pré-vestibulares populares da Região Metropolitana do Rio. São 10 projetos selecionados de São Gonçalo à Queimados, cada um dos grupos recebeu sete mil reais de apoio para as atividades em sala. Juntos, os prés são responsáveis por 543 alunos, em sua maioria negros. Além de apoiar com recurso, a Casa propõe também encontros para um intercâmbio e boas práticas entre professores dos prés, no total são 174 voluntários.
Diferentes frentes da educação
Um dos diferenciais dos prés comunitários apoiados é que muitos trabalham de forma multifacetada para garantir a permanência dos seus alunos. Além das aulas, há uma preocupação em fornecer reforço escolar, refeições, passagem e apoio psicossocial. O fortalecimento da Casa também é pensado para essa ampliação de cuidado, é o que explica a coordenadora de mobilização da Casa, Fabbi Silva.
“É importante oferecer essas outras frentes porque entendemos que o aluno não vai conseguir estudar, muito menos entrar em uma universidade, se ele estiver com fome ou passando por questões emocionais sem o apoio devido. O Juventude Popular busca potencializar essas frentes, mostrando e trocando com os prés sobre a importância da garantia desses outros tipos de apoio”, contou Fabbi.
Apesar dos desafios que estão colocados em manter de forma independente um projeto de educação na periferia, o projeto Juventude Popular já mostra resultados sobre sua importância nessas iniciativas. O projeto já conta com 78 aprovações dos último ciclo de provas, 38 delas através da política de cotas. Do total de alunos aprovados em algum vestibular, 49% utilizaram o sistema de cotas. Um dos desafios dos prés é conseguir politizar entre os alunos a importância de utilizar essa política pública, uma prática ainda mais estratégica neste momento de disputa marcado pelos 10 anos da Lei de Cotas, com ameaças de retirada dessa política pública.
“As cotas são antes de tudo uma política de reparação histórica, a gente precisa conseguir mostrar isso para os alunos. É sobre pertencimento, ampliação de acesso, permanência e acima de tudo um direito nosso garantido a partir de muito esforço do movimento negro”, explicou a coordenadora de mobilziação da Casa.
Visão 2030 para a educação
Convidamos duas coordenadoras dos prés apoiados para contar o que sonham para a educação de olho no marco da Agenda Rio 2030:
Bianca Peçanha – Nica Jacarezinho, Zona Norte do Rio
“Não tem como pensar o Rio 2030 sem pensar a situação da juventude negra e favelada hoje, não dá para continuar com esse genocídio em massa que ocorre no nosso estado. É desesperador que nossos jovens sejam sempre alvos. Quero ver nossos estudantes entrando e permanecendo nas universidades, podendo sonhar um sonho de possibilidades, podendo viver o Rio de Janeiro de forma plena. A gente quer um Rio que respeite a nossa juventude preta”
Kemily Mello – Pré Vestibular Maria Madalena, Duque de Caxias
“Queremos ver nossa juventude indo prestar vestibular não como uma burocracia mas de pensar o ensino superior e a educação como uma possibilidade.A universidade precisa ser algo diário, chão deles, coisa que eles possam se lançar com cada vez mais naturalidade. E eles vão ver isso em 2030 a partir dos exemplos que estamos semeando agora”