Conheça 5 projetos locais que estão garantindo comida na mesa e visão de futuro para seus territórios

Texto por
Luize Sampaio
Data
11 de maio de 2021

Mudar a realidade de um território é um desafio coletivo compartilhado por moradores e líderes locais de muitos pontos da Região Metropolitana do Rio. Os projetos do Fundo Casa 2020 mostraram que não existe apenas uma forma de se propor essa mudança. O foco sempre é o combate à desigualdade, começando pela a garantia da soberania alimentar, mas, as 20 organizações apoiadas mostraram que ações de arte, cultura, esporte e política também têm que ter espaço nas periferias.  Durante o evento de encerramento do Fundo Casa 2020, realizado na última terça-feira (04/05), os representantes tiveram a chance de trocar experiências e conversar sobre os desafios que a pandemia trouxe para os projetos sociais.  A baixa recente do número de doações é um dos principais pontos de alerta atualmente. Mesmo com os desafios, os grupos de todos os cantos da metrópole, conseguiram construir soluções locais para repensar o futuro dos seus territórios.

O esporte é a principal frente do Golfinhos da Baixada, em Queimados. A instituição atendeu mais de mil famílias durante o ano de 2020, o foco do projeto é fornecer aulas de natação para as crianças da região como uma forma de combater a violência e a evasão escolar. Com a crise financeira e observando o perfil das mães desses alunos, o Golfinhos resolveu criar um curso de pequenos reparos de obras voltado para essas mulheres como uma forma de estimular o olhar para uma nova profissão e o empoderamento feminino. A gerente de projetos, Gisele Castro, coordenou as oficinas.

Curso Dezcontruir realizado pelo Golfinhos da Baixada com apoio do Fundo Casa Fluminense. Foto: @golfinhosdabaixada

“Olhando para esse momento de pandemia, todas as nossas carências ficaram ainda mais evidentes e as pessoas mais impactadas foram as mulheres pretas, mães solos e população LGBTQ+. O curso de reparos foi incrível, um sopro de esperança em meio ao desespero. Além da formação, tivemos espaço também para trocar sobre a questão da violência doméstica, falar sobre sexualidade e respeito.”, contou Gisele.

Em Vila Kennedy, o projeto SAAF usou brincadeiras, desenhos e livros como forma de preservar a educação das crianças da área. As coordenadoras perceberam durante as entregas de alimentos o abandono do ensino, principalmente entre os mais novos. Elas então distribuíram histórias sobre a força das favelas e a valorização da população negra. A ideia era estimular nas crianças desde cedo a noção de pertencimento e aceitação com o próprio território e suas histórias. O SAAF lançou um vídeo em que as próprias crianças mostram o impacto desse trabalho.

A arte nas ruas foi o que aproximou e possibilitou a edição 2020 do Festival de Artes em Imbariê, distrito de Duque de Caxias. Criado em 2018,  FAIM vem se consolidando como uma das principais atrações artísticas da Baixada, mas com a pandemia eles tiveram que se reinventar. Para não causar aglomerações e mesmo assim conseguir impulsionar o trabalho dos artistas locais, a alternativa encontrada foi usar os muros da região. Essa exposição de arte a céu aberto feita com lambes coloriu Imbariê e aproximou ainda mais os moradores dos artistas locais. Nesse meio tempo, o FAIM distribuiu 5 mil cestas e 80 obras pelo distrito.

Exposição Eu Quero Respirar com colagem pelos muros de Imbariê. Foto: @faim

“A nossa região possui o maior adensamento populacional de Caxias e o nosso festival era essa reunião de pessoas também, isso antes da pandemia. Tivemos dúvidas se íamos conseguir manter o festival em 2020. A chamada da Casa para o Fundo nos estimulou a criar outros meios de mostrar a arte da nossa região e agora a gente pensa em manter a ideia dos lambes para as próximas edições”, adiantou Osmar Paulino, idealizador do FAIM.

A política pautada pelos moradores foi a inovação trazida pelo projeto Sim! Eu sou do meio. A organização usou parte do recurso para realizar uma série de encontros chamados Geral no Meio, que reuniu candidatos à prefeitura e à vereança de Belford Roxo. Essa foi uma forma de trazer o debate das eleições para uma região que é historicamente excluída destas discussões. A idealizadora do projeto escreveu sobre essa experiência de fortalecer a democracia na Baixada na coluna Fala Liderança “A Sociedade Civil precisa estar no meio dos processos de decisão”

Apesar da tentativa de alcançar outros segmentos, o combate à fome foi o principal trabalho desenvolvido por todos os apoiados do Fundo Casa Fluminense 2020. Em São Gonçalo, a Cozinha Comunitária do MTST percebeu um aumento na procura por quentinhas principalmente durante os primeiros meses da pandemia, antes da chegada do auxílio emergencial. A questão da qualidade do alimento foi um dos principais destaques do projeto que buscou parcerias para garantir que as refeições fossem feitas com produtos  saudáveis vindos de redes da agricultura familiar local.

A Cozinha Comunitária, em Santa Luzia, no município de São Gonçalo foi a primeira do MTST no Brasil. Foto: @mtstrj

“A gente queria fornecer uma marmita de trabalhador para trabalhador, ou seja, os alimentos eram produzidos no campo e eram trazidos direto para a nossa cozinha. Isso gerou uma conexão direta entre a roça e a favela, uma parceria que durou um ano e fundamental para ampliar a nossa rede de parceiros e produtores”, explicou Danilo Cuin.

Durante um ano devastador para muitos dos territórios metropolitanos, os 20 projetos do Fundo Casa 2020 se fortificaram como pontos focais essenciais nas suas regiões. Além da ajuda humanitária, eles movimentaram iniciativas como rodas de rima online, oficinas de escrita, elaboração de jornais comunitários, agendas locais de políticas públicas entre outras ações. No campo da proposição, lideranças de Japeri, Queimados, São Gonçalo, Santa Cruz e Maré consolidaram publicações com objetivo de estimular o desenvolvimento sustentável de suas regiões. Essa última edição do fundo distribuíu um recurso de 185 mil reais através da Chamada Agenda Rio 2030, em apoio à ações de enfrentamento da pandemia.  Os projetos foram selecionados a partir de uma carta convite enviada para grupos da região metropolitana do Rio que já trabalhavam com soluções locais nos seus territórios.

Durante o evento de encerramento, a coordenadora de mobilização da Casa Fluminense, Fabbi Silva, falou sobre o impacto da COVID dentro dos projetos. Fabbi acompanhou todo o desdobramento final desse processo. 

“Sabemos das perdas e do impacto disso não só dentro do trabalho dos apoiados como na vida de cada um de nós. Nosso pensamento está com aqueles que não estão mais aqui e também com tantas outras lideranças que permanecem lutando pelas vidas do seu território. Dar espaço para que a gente fale também dessas dores é imprescindível. Todos os projetos trabalham em rede, que são estruturados e pensados por pessoas. Precisamos ter sempre esse olhar atento de afeto e cuidado para que a gente não se perca. Quem está na linha de frente agora não pode se perder”, concluiu a coordenadora. 

Para conferir mais sobre a história por trás de cada um dos projetos, acesse as matérias abaixo sobre o perfil dos apoiados de cada uma das regiões da metrópole: Baixada Fluminense, Leste FluminenseZona Oeste e Zona Norte.

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