Circuito do Guia: Conectando tecnologias sociais e ancestrais do Rio

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Texto por
Luize Sampaio
Data
1 de novembro de 2023

Durante a semana do meio ambiente, em junho, a Casa Fluminense lançou o Guia para Justiça Climática. A publicação reúne 15 tecnologias sociais e ancestrais criadas por lideranças  e coletivos periféricos de toda a metrópole com objetivo de enfrentar os efeitos do racismo ambiental em seus territórios. Em setembro, uma nova etapa foi iniciada, o circuito do Guia reuniu os grupos para uma troca de tecnologias.

Foto: Luize Sampaio

Em um intercâmbio metropolitano, o circuito realizou três dias intensos de oficinas com as organizações Teto Verde, Amigas, Instituto EAE, Agenda Realengo 2030, Espaço Gaia e Visão Coop. Esses eventos serviram para que esses coletivos pudessem compartilhar sobre as tecnologias desenvolvidas por eles e criar uma rede de colaboração a favor da justiça climática e do enfrentamento ao racismo ambiental na Região Metropolitana do Rio. Confira: 

Teto Verde e Amigas: criatividade para lidar com a falta de recursos 

O calor extremo fez com que o Cassiano Sanduba, cria da favela Parque Arará, na Zona Norte do Rio, criasse o projeto Teto Verde. Ele que cresceu perto das plantas, teve a ideia de transformar a sua laje em um grande jardim. Essa mudança verde fez com que a sua casa ficasse mais fresca e, a partir dessa experiência, Cassiano então desenvolveu o projeto e buscou replicar essa tecnologia pela favela. Durante o circuito, o Teto Verde saiu da Zona Norte e foi até Itaguaí, na Baixada Fluminense. 

Ana Paula Sales, fundadora do AMIGAS, recebeu o Cassiano para aprender essa técnica e fazer um teto verde na sede onde funciona a sua cozinha solidária que distribui em média, aos domingos, comida para cerca de 200 pessoas. O espaço já conta com uma horta comunitária mas agora, depois da oficina com o Cassiano, vão também iniciar a instalação de um Teto Verde na laje.

Foto: Luize Sampaio

Instituto EAE e Agenda Realengo: educação e ativismo ambiental

Foto: Carín Nuru

No alto do Maciço do Gericinó, conhecido como Serra do Vulcão e localizado no município de Nova Iguaçu, é onde a galera do Instituto EAE realiza seu trabalho de educação ambiental e ecoturismo, se dedicando à conscientização ambiental e proteção do território. O coletivo luta não só para combater os incêndios criminosos que acontecem na Serra, como também  fazendo um trabalho de reflorestamento do Maciço.

Foi lá que rolou a segunda oficina do Circuito do Guia para Justiça Climática, na Cabana do Vulcão, camping que fica localizado na Serra. O Instituto EAE recebeu o pessoal da Agenda Realengo e juntos eles apresentaram um dia inteiro de troca sobre suas experiências com justiça climática e compartilharam os saberes que desenvolveram atuando nos seus territórios.

Foto: Carín Nuru

A oficina do EAE começou com uma caminhada guiada, apresentando a riqueza e a história do território, em seguida os integrantes da Agenda Realengo compartilharam sobre as estratégias que eles desenvolveram ao atuarem na defesa do Parque de Realengo Verde, uma área abandonada no centro de Realengo que eles lutam para que seja transformada em um parque ecológica. Eles compartilharam sobre como a luta pelo Parquinho Verde, como é conhecido, deu impulso para a elaboração da Agenda Realengo 2030, que expõe as desigualdades do território de Realengo e pensa em propostas para um futuro mais sustentável.

Durante o circuito teve também uma oficina de pintura natural, apresentada pela galera do EAE, que encerrou o dia conduzindo a atividade para um reflorestamento coletivo, onde todos os participantes da oficina tiveram a oportunidade de plantar uma árvore e contribuir para o reflorestamento da Serra.

Espaço Gaia e Visão Coop: um olhar da juventude para seus territórios

Foto: Luize Sampaio

Para fechar o circuito, o laboratório digital Visão Coop, de Queimados, foi até São Gonçalo, visitar o Espaço Gaia, coletivo que fomenta ações de doulagem coletiva com gestantes ex-catadoras do antigo Lixão de Itaoca. O dia começou com um circuito pelo território, que apesar da desativação antiga do aterro sanitário, ainda sofre com a poluição no solo que degrada o manguezal da região e prejudica a saúde da população desde a gestação. Até hoje, moradores de Itaoca não possuem acesso à água potável nem à rede de saneamento de esgoto. Houve um espaço de escuta dessa população, em sua maioria catadores ou filhos de ex-catadores, que enfrentam as consequências do racismo ambiental antes mesmo do nascimento. 

O objetivo da atuação do Gaia é tentar garantir condições mínimas para essas gestantes com apoio de fraldas, rodas de conversa sobre violência obstétrica, acompanhamento de uma doula, chá de bebe coletivo entre outras atividades. Mas as organizadoras do projeto perceberam que para garantir uma gestação saudável era preciso combater o racismo ambiental, que degrada dentro e fora da casa dessas futuras mães. O Visão Coop foi convidado para apresentar como grupos da Baixada Fluminense estão atuando frente à crise climática. Eles realizaram uma oficina de mapeamento de problemas por regiões do território.

Foto: Luize Sampaio

Além de organizar brigadas contra enchentes e incidir politicamente nos conselhos da cidade, o Visão também produziu um documentário para denunciar os problemas de diversas cidades. Em “Como sobreviver ao racismo ambiental”, o grupo apresenta histórias de queimadas, enchentes, poluição do ar entre outras violações ambientais que ocorreram na Baixada Fluminense.

Caminhos para o Futuro Sustentável da Metrópole

Foto: Luize Sampaio

As oficinas foram desenvolvidas pela Casa com o apoio da Rede Comuá, marcando o mês da filantropia com atividades que potencializam a construção de rede e a colaboração social para se pensar em um futuro possível para o Rio. O Circuito foi um momento muito importante para que as tecnologias sociais e ancestrais que estão presentes no Guia para Justiça Climática pudessem circular por diferentes territórios da metrópole. As trocas das oficinas mostraram a potência das ferramentas desenvolvidas pela população, não só para se pensar em um futuro mais sustentável, mas também em uma metrópole que valoriza as tecnologias desenvolvidas nas suas favelas e periferias.

Isso reforça a importância de olharmos para um amanhã mais verde e justo, a partir da sociedade civil, das favelas e periferias, para construirmos uma narrativa de sustentabilidade e transformando não apenas o ambiente, mas também a estrutura social da metrópole, apontando o caminho para um Rio mais sustentável.

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