A Casa Fluminense lançou a “Cartografia do Cuidado” durante a Audiência Pública “Os desafios para a implementação da Política de Cuidados”, realizada dia 6 de novembro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). A publicação mapeia equipamentos de cuidado na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, a partir dos territórios das 18 referências de cuidado que participaram da Formação Lideranças que Cuidam promovida pela Casa Fluminense.
Durante a Audiência Pública, realizada pela Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher e presidida pela Deputada Estadual Renata Souza, ela afirmou sobre a importância da política do cuidado para garantir o princípio da dignidade humana para as mulheres negras, principais responsáveis pelo cuidado no Brasil.
A Cartografia é uma ferramenta de incidência da Casa Fluminense justamente em direção a este lugar de dignidade para as mulheres negras, indígenas, pessoas LGBTQIA+, mães, educadores, ativistas e lideranças, que são referências de cuidado nos seus territórios da Baixada ao Leste Metropolitano. No mapeamento realizado para a cartografia, foi levantado que as lideranças que cuidam gastam em média 17 horas diárias com o cuidado e trabalho doméstico.
Luize Sampaio, coordenadora de informação da Casa Fluminense, destacou durante a Audiência como pautar o cuidado a partir das lideranças que cuidam é fundamental para pensar políticas públicas na metrópole.
“Um dos principais objetivos da Cartografia foi conseguir mapear quem são as lideranças que estão cuidando dos seus territórios quando o poder público fica ausente. Precisamos olhar para essas lideranças e fortalecer o que já existe para que a política do cuidado não parta do zero, ela precisa partir dessas pessoas”, diz Sampaio.
A Política do Cuidado é uma das políticas prioritárias da Agenda Rio 2030, que propõe a criação de uma política municipal integrada entre as secretarias de Trabalho, Saúde, Educação e Assistência Social, com participação da sociedade civil através de fórum ou conselho. Com o lançamento da cartografia, a Casa Fluminense reafirma seu compromisso em incidir ao lado das lideranças por uma política do cuidado construída com e a partir de quem cuida.

Na publicação, além da identificação do território de atuação de cada liderança, são mapeados os equipamentos públicos de cuidado existentes e inexistentes no entorno, indicando as urgências de onde essas lideranças atuam. A Cartografia também sistematiza as práticas de cuidado realizadas por elas, reconhecendo essas ações como tecnologias sociais de cuidado territorial e comunitário.
“O cuidado existe desde sempre e sempre foi sustentado por um gênero, mas precisamos também racializar esse trabalho, são mulheres negras que o sustentam. A urgência é que a política do cuidado esteja com um olhar efetivo para essas mulheres”, compartilha Debora Silva, uma das lideranças que cuidam, integrante da organização Sim! Eu Sou do Meio, e co-fundadora do Fórum Estadual do Cuidado.
Junto da rede de lideranças, a Casa Fluminense tem contribuído em espaços de debates sobre o cuidado e reafirmando a importância da Região Metropolitana do Rio de Janeiro e do Brasil avançar em uma política que seja pautada a partir de quem mais é impactado pelo trabalho invisibilidade do cuidado, afirmando que não há justiça de gênero sem justiça racial.






Durante o mês de novembro, das mesas de debates sobre cuidado e clima na COP 30 até a participação na Marcha das Mulheres Negras, a Casa esteve ao lado da Rede e das Lideranças que Cuidam, reafirmando o compromisso de lutar por dignidade para quem sustenta os territórios e o país a partir do cuidado. A organização também realizou outras ações este ano, como o Fórum Rio, que trouxe o debate sobre bem-viver e trabalho de cuidado; na editoria Fala Liderança com o texto “Cuidado e rotina de sobrevivência nos transportes públicos”, escrito por Maya Antunes; e a terceira temporada do podcast Próxima Estação que lançou o episódio “#12 Raízes do Cuidado”.
A Casa Fluminense vem há anos provocando debates e realizando ações que dialoguem com a pauta do cuidado, e a Cartografia chega como mais um instrumento para ampliar essa agenda, reafirmando que fortalecer quem sustenta os territórios quando o Estado falha é o início de um futuro mais digno para quem cuida, onde essas experiências possam orientar a construção de políticas públicas estruturantes.