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Lideranças que Cuidam: Casa Fluminense lança nova formação sobre política do cuidado

O Brasil tem avançado na pauta do cuidado, instaurando a política do cuidado tanto ao nível nacional quanto estadual, no Rio de Janeiro. Mas, quando lideranças negras, periféricas e faveladas pensam nesse avanço, surge uma provocação importante: como essa proposta vai chegar nos territórios e alcançar quem está na ponta, cuidando de suas comunidades?

A Casa Fluminense lançou, no último mês de agosto, o “Lideranças que Cuidam”, uma formação que buscou fortalecer lideranças que atuam com o cuidado em favelas e periferias da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. O objetivo foi contribuir coletivamente para o trabalho realizado por essas lideranças em seus territórios e, ao mesmo tempo, refletir com elas sobre a construção da política do cuidado e de que forma essa lei pode alcançá-las.

A formação reuniu 21 lideranças, todas moradoras de favelas e periferias da Baixada Fluminense, Leste da Metrópole, Zona Oeste e Centro da cidade do Rio de Janeiro. Transitando por territórios como Duque de Caxias, São Gonçalo e Vila Kennedy, os encontros foram itinerantes e levantaram temas como a apresentação da agenda do cuidado, a partir de uma perspectiva de racial, em uma aula conduzida por Thamires Ribeiro, especialista em cuidado, e Luiza Xavier, do Instituto Procomum.

Também houve uma oficina com Luna Costa e Marcelle Decothé da Narra, sobre a construção de uma ação de incidência coletiva, considerando a política estadual de cuidado como um espaço de protagonismo para mulheres negras, indígenas e pessoas LGBTQIA+ de favelas e periferias. Além disso, a formação contou com uma aula sobre captação de recursos, que tratou dos desafios em torno do tema, com a participação de Andreia Simplício, do Fundo ELAS+.

A jornada, composta por quatro encontros, foi finalizada no sábado (30), em um dia especial no Terreiro Três Mangueiras, em São Gonçalo. Para encerrar esse processo coletivo de formação onde foram mapeados equipamentos públicos e sociais de cuidado já existentes na RMRJ, trazendo também a apresentação das práticas realizadas por cada uma das lideranças. O encontro, facilitado pela coordenadora executiva da Casa Fluminense, Larissa Amorim, e pela assessoras, Maria Clara Monteiro e Lorrayne Honorato,  foi um momento potente de troca sobre as percepções da formação e os encaminhamentos para a incidência política em torno dessa pauta.

Segundo Luize Sampaio, coordenadora de informação da Casa e que tem participado de articulações em torno da pauta do cuidado, ainda é necessário que a nova política abarque também os territórios. 

“O cuidado é um dos trabalho mais antigos e menos valorizados do nosso país, em todos os tipos de poderes e lógicas sociais, as cuidadoras foram deixadas de fora das agendas. A política encerra o ciclo de invisibilização, reconhece elas como trabalhadoras mas não dá conta do território. Para darmos esse passo precisamos reconhecer que são as mulheres negras e indígenas, que estão nas nossas comunidades, as lideranças que cuidam de quem o estado não cuida. Elas já marcham há séculos, precisamos nos juntar a elas por reparação e promoção de bem viver para quem nos garante vivos” afirmou Luize. 

Valorizar as lideranças que são apoio e cuidado onde o poder público não chega é também visibilizar o trabalho não remunerado realizado por elas, que vêm assumindo, historicamente, um papel essencial para a garantia de direitos e a manutenção da vida de territórios e comunidades. Reconhecer e fortalecer esse protagonismo é uma forma de ampliar as possibilidades da política de cuidado e fazer com que ela alcance quem mais precisa.

Como destacou Elna, do Coletivo CURE: “Através do resgate das memórias dos ancestrais, trazemos um processo de bem-viver e manutenção da vida das mulheres da comunidade, pensados por um viés originário, entendendo que é importante reconhecer o cuidado por meio dos primeiros cuidadores.”

A discussão sobre o cuidado orienta diversas ações, projetos e mobilizações da Casa Fluminense, estando presente inclusive na Agenda Rio 2030 como uma proposta de política pública prioritária para a redução das desigualdades na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Nesse sentido, o Lideranças que Cuidam também marca o início de uma campanha do cuidado, liderada pela Casa Fluminense e pela Narra, para ampliar o debate público e construir pontes entre lideranças faveladas e periféricas, sociedade civil e poder público.

A Casa Fluminense segue fortalecendo quem está na linha de frente do cuidado, reconhecendo essa prática como um direito e como uma ação transformadora nas favelas e periferias, que vem, desde muito tempo, sustentando o país.

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