Adiar não é cancelar: Casa segue na pressão contra o aumento da passagem do trem

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Texto por
Luize Sampaio
Data
29 de janeiro de 2021

A Casa Fluminense, junto com várias organizações e movimentos sociais — como o Meu Rio e a União Estadual dos Estudantes — sindicatos e mandatos parlamentares, faz parte do Movimento Contra o Aumento da Passagem que convoca o ato “Supervia, Aumento Não” na próxima segunda-feira (01/02), às 17h. O protesto contra o reajuste da passagem do trem será realizado no centro do Rio, em frente a sede da  agência reguladora Agetransp. A ação é uma resposta a tentativa da Supervia de fazer um aumento de 25,5% na tarifa. Mesmo em meio a pandemia, a concessionária usa a crise financeira como justificativa para esse acréscimo de R$1,20 no bolso do passageiro.  O auxiliar de serviços gerais e usuário dos trens, Luiz Gustavo Silva, afirma que essa mudança de preço é uma covardia.

“A pandemia ainda não acabou, mas a gente tem que trabalhar até porque todas as contas estão ficando mais caras. É difícil. Esse aumento de tarifa é uma covardia ainda mais durante esse momento que a gente tá vivendo. Se eu não conseguir mais vir de trem para o trabalho, vou ter que pegar o trânsito da Avenida Brasil até o centro do Rio. Um trajeto que faria em 30 minutos, vou demorar 1h30”, explicou o morador de Duque de Caxias.

A organização Meu Rio, apoiada por outros grupos da sociedade civil, lançou uma campanha virtual contra o reajuste. No site, a população pode ajudar o movimento enviando uma mensagem direta ao governador do Rio, Cláudio Castro, e também para representantes da Supervia, Secretaria de Estado de Transporte e da Agetransp. Com mais de 5 mil mensagens enviadas, a pressão digital resultou no adiamento do reajuste por pelo menos 20 dias.  O governo agora vai negociar um novo valor que vai entrar como um termo aditivo no contrato de concessão da Supervia, que vai até 2048. A  gestora da organização Nossas, Debora Pio, explicou porém que essa é a primeira de uma série de reivindicações que o movimento busca fazer. 

O ato contra o aumento da passagem será no dia 1 de fevereiro, às 17h, em frente a Agetransp (Av Presidente Vargas, 1100, Centro).

“Desde o início da pandemia a gente tem visto os trens lotados, um sistema precário que protege muito pouco os trabalhadores do vírus. Nossa principal estratégia tem sido o site de pressão, mas a Supervia já estava no nosso radar muito antes disso. Queremos o cancelamento desse aumento, mas não só isso. Vamos cobrar também mais transparência da Agetransp e Supervia, para eles abrirem essa caixa preta e a gente poder entender como funciona a fórmula que calcula o reajuste da tarifa”, contou Debora. 

O transporte ferroviário corta a Região Metropolitana do Rio sendo em muitos municípios a opção mais rápida de chegar até a capital fluminense, que concentra as oportunidades de emprego. Por conta disso, o Movimento Contra o Aumento da Passagem foi conversar com a população usuária dos trens sobre o reajuste injusto nas estações de Queimados, Central do Brasil, Madureira, São Cristóvão, Campo Grande, Belford Roxo, Nilópolis, Coelho da Rocha, Santa Cruz e Bangu. Para o representante da bxd_Qm2, organização cultural de Queimados, Lennon Medeiros, a adesão da população do município foi significativa. 

“Durante a panfletagem, olhei lá pra dentro da estação e vi uma multidão de cabeças baixas, lendo. Pessoas vieram nos pedir folhetos pela grade! Não faltou discussão. Teve um cara que parou na escada e resolveu nos ajudar gritando que “R$5,90 é sacanagem”, falando do aumento. Teve um outro que ficou ligando pras pessoas pra contar que ia aumentar, falando que o certo era fazer greve. A maior parte da população estava comentando que a qualidade do serviço está cada vez pior”, relatou Lennon. 

Integrantes do Movimento Contra o Aumento da Passagem em Queimados panfletando sobre o reajuste na estação. Foto: Henrique Silveira

A diretora de assistência estudantil da UEE-RJ, Dani Marinho, integra a articulação e também participou dessas trocas nas estações. A militante do coletivo RUA – Juventude Anticapitalista reforçou que com o agravamento da desigualdade social e a alta na taxa de desemprego, principalmente entre os jovens, essa mobilização contra o reajuste  é uma luta também da juventude fluminense. 

“Existem jovens em plural no Rio e somos atravessados e conectados de muitas formas pelo trem, desde os mc’s e poetas que utilizam os ramais pra expressar sua arte e gerar uma grana, até os estudantes universitários, que saem de todos os cantos com destino à UERJ e outras instituições. Com o estado do Rio atravessando uma crise financeira, ainda temos que encarar uma proposta absurda de aumento de R$1,20 na passagem”, lamentou Dani.

Mais de dez estações foram ocupadas pelas mobilizações para conversar com a população e convocar para o ato contra o aumento da passagem.

O adiamento do reajuste permanece até o dia 15 de fevereiro, entendendo que adiar não significa cancelar o aumento, o ato de segunda-feira é mais uma etapa de pressão popular para que o estado interfira nesse plano da Supervia. O coordenador geral da Casa, Henrique Silveira, reafirma o compromisso do movimento em estimular uma rede de  monitoramento e cobrança contínua sobre a questão do transporte na metrópole. 

“Pela Casa Fluminense, estamos buscando estimular a articulação contra o aumento da passagem entre diversos setores sociais, com movimentos estudantis, mandatos parlamentares e outras organizações que defendem o transporte público como direito. Identificamos as articulações em São Paulo como o Movimento Passe Livre e o pessoal do Tarifa Zero em Belo Horizonte, e aqui no Rio de Janeiro fica o desafio de fortalecer um movimento semelhante que discuta acesso e financiamento também”, explicou Silveira. 

O acesso ao transporte é um direito básico e uma pauta recorrente na luta da Casa. Em 2020 produzimos uma reportagem sobre o peso da tarifa no bolso da população do Rio e como o financiamento extratarifário pode ser uma ferramenta para equilibrar essa conta.

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