Quem já passou ou teve um familiar egresso do sistema prisional sabe como é a política carcerária da Região metropolitana do Rio de Janeiro opera. Além de não ressocializar os cidadãos, o encarceramento funciona a partir de uma lógica de violência e punitivismo. É contra essa realidade que a Frente Estadual pelo Desencarceramento luta, em apoio aos sobreviventes das violências do sistema prisional e socioeducativos, e acolhendo familiares de pessoas privadas de liberdade.
A violência policial e o encarceramento em massa têm um alvo. Segundo o Mapa da Desigualdade de 2023, das 1.169 mortes por intervenção de agente do estado na Região Metropolitana do Rio, 919 das vítimas eram negras; em 14 municípios, mais de 80% das pessoas assassinadas pelo estado eram negras, e em cinco municípios chegou a 100%.
A Frente Estadual pelo Desencarceramento acolhe esse público e suas famílias a partir de cursos, seminários, oficinas e rodas de conversas. Oferecendo atendimento jurídico, formação sobre direitos humanos, prevenção e combate a tortura, por exemplo. A luta desse coletivo é pelo acolhimento e ressocialização de um grupo que, após cumprir seu tempo de privação de liberdade, não é assistido por nenhuma política eficaz de reintegração dessas pessoas à sociedade.
Marilza Barbosa, que teve um familiar preso em 2016, passou a fazer parte desse espaço de luta e acolhimentos, e em 2017, a lideranças e outros familiares fizeram parte do lançamento da Frente Estadual pelo Desencarceramento no Rio de Janeiro. Desde então, o projeto vem promovendo diversos encontros de acolhimento e discussão sobre o tema.
“É um espaço que trata a pauta do sistema prisional e socioeducativo através do olhar dos sobreviventes, das pessoas que estão privadas de liberdade e das que visitam”, compartilha Marilza.
Apoiados pelo Edital Agenda Rio 2030 do Fundo Casa Fluminense de 2024, a Frente realizou diversas atividades de formação e assistência para as famílias e egressos ao longo do último ano. Entre as atividades, foi realizada a mesa de “assistência religiosa e encarceramento” e as rodas de conversa e atendimento jurídico.
No dia 9 de dezembro, o coletivo realizou seu último encontro do ano, com a roda “Racismo, prevenção à tortura e acesso à justiça”, que foi tema da plenária de fechamento de 2024. O evento foi um momento importante de acolhimento e luta, principalmente para as mães que fazem parte do coletivo, e também o marco de mais um ano concluído.
“Nós demos visibilidade a partir dos olhares de quem vive essa triste realidade de ter um familiar no sistema prisional”, finaliza Marilza.