O Rio de Janeiro tem problemas diversos, como sabemos. Nenhum deles, no entanto, é mais gritante ou degradante para a cidade do que a desigualdade fundamental que a define. A clivagem profunda entre morro e asfalto que atravessa a capital, os abismos de condições de vida na proporção direta das distâncias do núcleo central que marca a metrópole, os contrastes na oferta de infraestrutura e serviços públicos evidentes e desconcertantes quando se circula por ela.
Nos extremos de condições de vida na metrópole, Niterói usufrui de renda média quase 5 vezes maior que Japeri, enquanto as taxas de pobreza na Baixada superam o dobro das da faixa litorânea da capital a Maricá.
Não há mistérios aqui. A tarefa mais urgente do Rio é e será por muito tempo concentrar esforços em desfazer distâncias em direitos e oportunidades legadas por sua história, priorizando com determinação e efetividade a ação nas áreas que contam com menos presença pública no cotidiano. Encarar o imperativo da integração plena das favelas e demais áreas informais ao tecido da cidade, ao mesmo tempo que direcionando investimentos sociais, urbanos e econômicos para os pontos na metrópole com a demanda mais clara em relação a eles. Guiar-se por indicadores objetivos na definição de prioridades, em lugar da reprodução de privilégios ou redes de clientela, e pelo princípio simples de perseguir padrões igualitários na oferta de serviços, equipamentos e infraestrutura públicos essenciais em toda a cidade.
Em 2011, a Zona Sul da capital possuía 5 vezes mais centros culturais, 10 vezes mais salas de cinema e 12 vezes mais teatros do que a Zona Oeste, contando com menos de 2/3 da população desta.
O desafio real é assim o de romper a inércia no acesso também desigual à formação da agenda pública, e afirmar o sentido comum de que não poderá haver cidade exitosa sem dar conta disso. Igualdade e superação de fronteiras são requisitos de vida coletiva, e não pode haver chamado mais nítido para o Rio do que realizá-los.
- Adoção de programa de igualdade territorial para a metrópole, com a definição de metas mínimas para a provisão de infraestrutura e serviços urbanos, serviços básicos de educação, saúde e segurança pública e equipamentos de cultura, esporte e lazer como critério norteador para a destinação de investimentos públicos.
- Retomada efetiva de políticas de urbanização e integração de favelas, alcançando a criação de infraestrutura e serviços de qualidade e a promoção genuína de direitos e oportunidades para seus moradores. Estabelecer processos transparentes de participação, debate e negociação comunitárias das opções de intervenção e desenvolvimento local, integrando as dimensões de urbanização, serviços, segurança, inserção econômica e transição para a formalidade. Combinar a ação sobre a infraestrutura e espaços públicos com ofertas ampliadas de oportunidades de moradia e programas de melhorias habitacionais nas residências existentes.
- Criação de fundos e programas de desenvolvimento local nos municípios, ampliando as oportunidades de participação na gestão pública local, apoiando o fortalecimento da sociedade civil e da vida comunitária e promovendo a expansão de oportunidades econômicas, culturais e de mobilidade social.