Olimpíadas sem vitórias na modalidade acesso a direitos 

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Comunicação Casa
Data
21 de junho de 2016

Limites do ciclo olímpico são ponto de partida para debate sobre o futuro do Rio na Conferência Ethos 360º

Os painéis de debate da primeira Conferência Ethos 360º realizada no último dia 16 tiveram como pano de fundo um dos mais conhecidos cartões postais da cidade, a Marina da Glória. De dentro do espaço de conferências do Bossa Nova Mall, no Aeroporto Santos Dumont, os participantes desfrutaram a beleza visual da paisagem sem serem incomodados pelos terríveis odores que por vezes os ventos trazem da Baía de Guanabara.

Atletas, turistas e cidadãos fluminenses podem não ter a mesma sorte durante as competições esportivas que serão realizadas em agosto. “O cartão postal está lá para ser olhado, mas o que fica de legado é uma Baía poluída” disse José Marcelo Zacchi, coordenador executivo da Casa, no debate sobre Transparência e Legado nos Jogos Rio 2016 com Paula Oda, do Instituto Ethos e Tania Braga, do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016. Para José Marcelo, a cidade perdeu a oportunidade de enfrentar seus desafios estruturais de desigualdade no acesso a serviços e baixa interação entre sociedade civil e poder público na definição de prioridades e construção de políticas.

“O Rio decidiu não deixar como legado o fim da cidade partida. Houve momentos em que havia condições de se avançar na universalização do acesso à cidadania, mas esses esforços ficaram pelo caminho”, destacou ele relembrando o paulatino esvaziamento de programas como o Morar Carioca e a UPP Social. “No que tange à provisão de serviços nas favelas, voltamos a níveis de investimento abaixo do que tínhamos no passado recente”, constatou.

A ausência de participação na definição dos rumos de desenvolvimento da cidade foi comprovada pelo Instituto Ethos no estudo Transparência dos Jogos Rio 2016. A pesquisa avaliou a transparência pública nos investimentos relacionados aos Jogos Olímpicos nas três esferas de governo medindo o conteúdo disponível sobre administração e orçamento dos empreendimentos; os canais de informação utilizados para difundi-los (presencial e online); e os canais de participação abertos para ouvir cidadãos a respeito dos investimentos feitos (audiências públicas, conferências, ouvidoria e conselhos de políticas públicas).

Na média geral, que vai até cem, o pior colocado foi o governo do Estado com 23,86. Governo federal alcançou 38,42 e a administração da capital, 40,93. As pontuações, sempre abaixo dos 50%, foram consideradas baixas pelo Instituto. O desempenho no bloco canais de participação foi o pior em todas as esferas: em nenhuma delas, por exemplo, houve pontuação no indicador “Conselhos de Políticas Públicas” (veja o estudo completo).

Na mesa Rio pós-Jogos: cidade sustentável? Henrique Silveira, coordenador executivo da Casa, Pedro da Luz, presidente do IAB-RJ e Dani Francisco, jornalista e produtora cultural da Terreiro de Ideias, aprofundaram o debate sobre uma visão de futuro. Para o arquiteto Pedro da Luz, o Rio metropolitano encaixa-se no perfil de cidade excludente marcada pelos entraves ao deslocamento dos cidadãos e os baixos índices de qualidade de vida. Na visão do IAB, isso só poderá ser mitigado com a efetiva implantação de uma cultura de projeto e planejamento, instrumento essencial para que haja transparência.

“A elaboração do plano de intervenção urbanística é o momento de se levantar hipóteses e tomar decisões: teríamos escolhido fazer o metrô até a Barra se ponderássemos que com a mesma verba era possível revitalizar todas as estações de trem até Santa Cruz, beneficiando um número muito maior de pessoas?”, indagou ele.

Impossível falar do futuro da cidade metropolitana sem pensar naqueles que mais tem a vivência desse território: jovens de Duque de Caixas, Nova Iguaçu, São Gonçalo e outras periferias metropolitanas cuja circulação cotidiana deixa como marca a experiência do Rio ampliado. Dani Francisco enfatizou a importância de descentralizar a oferta de meios de produção, estimulando a já potente cena cultural desses territórios e fomentando novas narrativas sobre o Rio.

A Casa Fluminense vem desde 2013 pautando uma visão de futuro voltada universalmente ao conjunto da metrópole e acredita que a mobilização cidadã pode transformar o momento das Olimpíadas em ponto de partida para aquilo que não foi linha de chegada. Participe desse movimento!

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