O projeto Juventude Popular nas Universidades (Juv) finalizou mais um ciclo, marcado por desafios e conquistas para os 10 pré-vestibulares apoiados pelo Casa Fluminense. Com o encerramento da atuação de 2024, o Juv reafirmou mais uma vez a potência da educação popular como ferramenta de transformação em territórios favelados e periféricos.
Na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, a educação enfrenta desafios alarmantes, que colocam crianças, jovens e adultos em uma realidade de precarização do ensino. Em 20 dos 22 municípios da metrópole do Rio, tem pelo menos uma escola pública funcionando sem água, esgoto, energia elétrica e/ou alimentação básica, segundo o Mapa da Desigualdade 2023.
Nesse cenário de desigualdade histórica, o Juventude Popular nas Universidades atua como uma resposta a esses desafios, impulsionando a entrada de pessoas periféricas e faveladas no ensino superior. Em 2024 o projeto completou cinco anos de atuação, que neste ciclo apoiou os pré-vestibulares: Curso Popular Enraizados, Pré-vestibular Comunitário Nós por Nós, Santa Cruz Universitário, PVC Maria madalena, Pré-vestibular Comunitário Solano Trindade, Nica Jacarezinho, Pré-vestibular para Negros e Carentes (PVNC), Pré-vestibular Popular Akari, Gente Formando Gente e Pré-vestibular Ampara.
Mais do que um apoio financeiro, a Casa Fluminense oferece um suporte institucional, acompanhando de perto cada pré-vestibular a partir de visitas, encontros de início e encerramento de ciclo. Em 7 de dezembro de 2024, a Casa realizou um encontro de finalização, onde os projetos puderam se reunir para contar seus processos durante 2024, compartilhando as vitórias e aprendizados do ciclo.
“O Encontro de Encerramento para além da celebração é uma oportunidade que os pré-vestibulares têm de fazer um intercâmbio de experiências, aprendizados e práticas pedagógicas. Conversamos muito sobre os desafios da educação popular, mas sobretudo das vitórias que as organizações alcançaram e da esperança de cada vez mais facilitar o acesso da juventude periférica na universidade”, compartilhou Bruna Neves, assessora de mobilização da Casa — equipe que realiza o acompanhamento do projeto.
A renovação de um ciclo de sonhos
Desde 2020, o Juv já apoiou 17 pré-vestibulares, resultando na aprovação de mais de 100 estudantes de 16 territórios da metrópole do Rio. Esses números, marcam a potência do projeto, mas não dão conta de contar toda a história por trás da atuação dessas organizações. Para cada estudante aprovado, há uma trajetória individual, uma família e um território que atravessou desafios como a exclusão digital, a insegurança alimentar, o racismo ambiental e a precarização do acesso à educação.
A parceria da Casa Fluminense com os prés permitiu que os projetos enfrentassem as dificuldades e criassem soluções para os desafios presentes nos seus territórios. Em 2024, o trabalho dos prés ultrapassou a preparação para o vestibular, se tornando um local de acolhimento e fortalecimento comunitário. O Santa Cruz Universitário, por exemplo, ofereceu apoio psicológico para estudantes atravessados por diversas questões sociais. Já o Nós por Nós e o PVCN, oferecem refeições aos estudantes, a partir da urgência da insegurança alimentar do território.
“A segurança alimentar sempre foi uma preocupação no Nós por Nós, e demos um suporte alimentar através do lanche, garantindo que os alunos não fiquem com fome enquanto estiverem nas aulas. Sem esse apoio da Casa, seria bem difícil manter a quantidade de alunos”, explica Marcilene, da equipe do Nós por Nós.
Durante o encontro de encerramento do ciclo de 2024, foram realizadas atividades que permitiram que os projetos olhassem para trás, avaliando e compartilhando experiências desse processo. O objetivo foi trocar sobre as estratégias para superar os desafios que possam se apresentar no próximo ciclo de apoio.
“Lá no Santa Cruz Universitário a gente conseguiu realizar a mostra de profissões, que ampliou o conhecimento dos alunos, mostrando novas possibilidades de futuro. Nós também levamos os alunos para conhecer o próprio território e outros lugares, como cinema e museus, que muitos estavam indo pela primeira vez. Isso só é possível por causa desse apoio”, destaca Luara, coordenadora do Santa Cruz Universitário.
Transformando realidades
O projeto reafirma a educação popular como uma estratégia de combate a desigualdade de raça, gênero e econômica. Presente na Agenda Rio 2030, como uma das propostas de políticas públicas prioritárias para a Metrópole, a Casa enxerga esse apoio como uma ponte que resgata questões do passado, olha para o presente e possibilita a construção de novos futuros.
“Um encontro como esse a gente sai com várias ideias, compartilhando muitas experiências. O que é muito bom pra gente!”, compartilhou Letícia do Pré-vestibular de Acari.
Foi a partir desse fortalecimento de redes que a Casa Fluminense encerrou o ciclo de 2024 com os pré-vestibulares. Renovando a esperança de poder impactar territórios, promovendo não apenas o acesso à educação superior, mas o fortalecimento e a ampliação de oportunidades culturais e sociais. E é isso que a Casa quer continuar projetando para os próximos ciclos: uma rede de educação popular que inspire sonhos, amplie horizontes e promova mudanças estruturais na vida de pessoas periféricas e faveladas.