O fazer cultural como política pública na Baixada

Texto por
Comunicação Casa
Data
6 de setembro de 2023

Por Carín Nuru

Produzir possibilidades culturais para um território rico em criatividade com pouco investimento financeiro parece um trabalho difícil. Mas para a galera do Gomeia Galpão Criativo esse cenário faz parte do dia a dia. O grupo trabalha há oito anos na construção de um espaço que reúna coletivos culturais da Baixada Fluminense, para criarem juntos projetos e ações de audiovisual, comunicação e cultura. Localizado no centro de Duque de Caxias, o Gomeia foi fundado em 2016 e leva o nome de Joãozinho da Gomeia, coreógrafo, figurinista, mobilizador cultural e social, que nasceu na Bahia e viveu durante 1946 em Caxias.

O curso de Políticas Públicas de Cultura do Gomeia recebeu mais de 100 inscrições.
Foto: Lucas Linnhares.

O Gomeia é um dos projetos apoiados pela Casa Fluminense no Edital Agenda Rio 2030: Enfrentamento ao Racismo Ambiental, Geração Cidadã de Dados e Incidência Política, e a partir dessa parceria tem produzido a segunda edição do Curso de Formação em Políticas Públicas de Cultura. O animador cultural e um dos coordenadores do Galpão, Heraldo HB, contou que a motivação para a criação do curso veio da percepção empírica de que o território tem uma demanda muito grande por formação cultural.

“A ideia do curso é formar conselheiros, pessoas que possam intervir no processo cultural, e essa missão está sendo conquistada com êxito. Agora com as conferências de cultura tem muita gente empolgada, interessada, trocando material entre si e  criando uma rede de apoio”, conta HB.

A turma tem um perfil muito diverso de alunos, moradores de diferentes territórios da metrópole, como Belford Roxo, São João de Meriti e a cidade do Rio, por exemplo. Desde artistas e gestores culturais experientes até pessoas que querem entrar para o mercado da cultura e das artes. O Curso de Formação em Políticas Públicas de Cultura do Goméia teve mais de 100 inscrições e tem mais de 30 pessoas efetivamente presentes.

Roteiro Cultural de Caxias

No último sábado (02) rolou no Lira de Ouro, ponto de cultura da cidade, uma aula sobre os panoramas das políticas públicas de cultura na Baixada Fluminense para os alunos do curso e da Escola Livre de Artes da Baixada Fluminense (ELAdaBF).

A aula começou com uma introdução conduzida pelos organizadores do Gomeia, Clara de Deus e Eduardo Prates. Em seguida, houve o lançamento da ELAdaBF em uma Aula Magna ministrada por Heraldo HB. O cofundador do Goméia contou sobre a história e pioneirismo de Caxias, da educação até a cultura e, principalmente, do samba e da música.

Da sala de aula até as ruas, a aula teve um momento de percurso cultural por Caxias. A turma passou pelo monumento de Zumbi dos Palmares que tem na cidade, indo até a Praça da Emancipação. No local estava rolando uma grande roda de capoeira em comemoração aos 50 anos da Roda de Caxias. Depois disso, o grupo seguiu para visitar à exposição “Memórias Afetivas Cidades Grafitadas” nos muros do SESC da cidade. O percurso da aula  terminou no Galpão e reuniu por volta de 60 pessoas, todos discutindo em uma aula participativa sobre a história e os efeitos da cultura no território.

Mais de 60 pessoas acompanharam a aula aberta pelas ruas de Caxias.
Foto: Lucas Linnhares

Heraldo descreveu que a cultura tem uma perspectiva de mobilização muito grande na região. “Muita gente que não é da cultura acaba sendo tocado por essa mobilização do fazer cultural”, compartilhou.

Quem financia a cultura periférica?

Apesar de Duque de Caxias estar entre as 20 cidades mais ricas do Brasil, segundo o Mapa da Desigualdade de 2020, produzido pela Casa Fluminense, só 0,11% das despesas no orçamento municipal do território são empenhadas para a cultura. E fica a pergunta: para onde está indo o dinheiro de uma das cidades mais ricas do Brasil?

Atividades como as desenvolvidas pelo Galpão são sempre realizadas com pouca grana e muita vontade de continuar o legado cultural de um território. Clara de Deus, uma das organizadoras do projeto, contou durante a aula como eles começaram, há anos atrás, trabalhando com menos recurso ainda do que se tem hoje. “Começamos a vir aqui no chão de barro ensaiar”, compartilhou.

O futuro da Política Pública de Cultura

O Fundo da Casa Fluminense trabalha com projetos alinhados com a Agenda Rio 2030. O nosso apoio é para que as iniciativas do Leste à Baixada desenvolvam os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) nas suas próprias favelas e periferias. A Casa escolheu projetos que estão construindo metas alinhadas com as justiças de gênero, racial, econômica e climática. Heraldo HB, conta como o Curso está pensando no futuro de Caxias e da metrópole.

“A gente tem uma ideia já há muito tempo da importância das políticas públicas. Precisamos ocupar os conselhos e trabalhar com a co-gestão da sociedade civil no governo, porque é o povo que consegue realmente monitorar e sugerir as melhores soluções para os problemas da metrópole”, contou HB.

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