LUTeS: Educação ambiental e saneamento ecológico na Maré

Texto por
Carín Nuru
Data
24 de janeiro de 2025

O Lutas Urbanas, Tecnologia e Saneamento (LUTeS), é um coletivo que exemplifica de como a tecnologia social pode impactar a realidade de um território. Criado no contexto da pandemia da COVID-19, o LUTeS atua desde 2021 no Complexo da Maré, pautando o racismo ambiental e propondo soluções locais e sustentáveis de saneamento e clima para a Maré.

O coletivo, além da educação ambiental para lideranças e nas escolas do território, já realizou a instalação dos dois primeiros biodigestores na Maré. Essa tecnologia social e ecológica de saneamento, transforma restos orgânicos em gás de cozinha e biofertilizante, autogeridos pela comunidade mareense alcançada pelo projeto.

A realidade climática na Região Metropolitana do Rio de Janeiro é alarmante. Segundo os dados publicados pelo Relatório Casa Fluminense: panorama sobre a crise climática na metrópole, cerca de 892 mil de pessoas não possuem a destinação adequada do seu esgoto, o que equivale a 7% da população. Quando relacionados ao recorte de raça, há uma grande diferença entre brancos e pretos. Os brancos sem destinação adequada de esgotamento sanitário são 5%, enquanto para as pessoas pretas esses valores são de 9%.

O LUTeS, que atua dentro deste contexto, apresenta uma solução para essa realidade que foi desenvolvida a partir da união de jovens negros, organizações da sociedade civil e grupos de extensão universitária da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O projeto é coordenado pelas jovens, Inahra Cabral e Gabriela Ferreira, e conta com a participação de cerca de 12 jovens mareenses, que compõem uma equipe interdisciplinar.

O coletivo trabalha com soluções locais, desenvolvendo tecnologias sociais e ancestrais para o enfrentamento ao racismo ambiental e promoção da justiça climática na Maré. Alinhado com as prioritárias desenvolvidas pela Casa Fluminense na Agenda Rio 2030, o LUTeS foi um dos projetos selecionados pelo Edital Agenda Rio 2030 do Fundo Casa Fluminense de 2024.

Com o apoio do edital, o projeto desenvolveu a Cartilha Biodigestor e a Cartilha BET (Bacia de Evapotranspiração). Segundo Carol Correia, integrante do projeto, a intenção das cartilhas é compartilhar as tecnologias com mais pessoas e projetos. “A ideia é mostrar o nosso  histórico, falar sobre outros exemplos do Brasil e ainda trazer um guia de instalação, para ajudar as pessoas a desenvolver essa tecnologia na no seu território”, compartilha Carol.

O lançamento das Cartilhas aconteceu no dia 14 de dezembro, na Arena Cultural Herbet Vianna, na Nova Holanda, uma das favelas do Complexo da Maré. Além do lançamento, a programação do evento contou com uma oficina de escalda pés, roda de conversa, a apresentação de um dos biodigestores, que fica localizado na arena, e um momento cultural com samba e exibição de filmes.

Além de atuar no campo da educação ambiental e saneamento ecológico dentro do Colégio Estadual João Borges de Moraes (Nova Holanda), o projeto também busca potencializar outros coletivos de favelas e periferias. Foi a partir disso que surgiu a iniciativa de desenvolver as cartilhas, projetando uma mobilização e incidência para a promoção de soluções ambientais para territórios favelados e periféricos.

“Nós achamos que seria importante produzir essa cartilha para dar acesso à informação para outras pessoas e organizações que também tem interesse em instalar essas tecnologias nos seus territórios”, afirmou Inahra.

Com ações que unem inovação, ancestralidade e mobilização, o LUTeS não apenas impacta a realidade local, como inspira outros projetos e territórios a enfrentarem as desigualdades socioambientais. O coletivo mostra como construir possibilidades de futuros para sua população a partir de tecnologias sociais e soluções sustentáveis.

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