Trânsito do Rio causa desperdício que chega a R$ 9,3 bilhões

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Comunicação Casa
Data
21 de julho de 2014

Número estima preço da mão de obra parada no trajeto casa-trabalho na região metropolitana

Se o tempo que o trabalhador da Região Metropolitana do Rio gasta para fazer o trajeto casa-trabalho-casa fosse transformado em dinheiro, as perdas alcançariam R$ 9,3 bilhões anuais, ou 4,9% do Produto Interno Bruto (PIB) da Região Metropolitana do Rio. O cálculo é de pesquisadores da Casa Fluminense e tem como base o Censo de 2010, levando-se em conta que um milhão de pessoas gastam três horas diárias dentro de um transporte — ou um mês a cada ano, conforme O DIA  publicou neste domingo.

“Se os municípios fossem analisados isoladamente, o desperdício de horas seria pior”, afirma Carlos Eduardo Young, professor de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e parceiro da Casa Fluminense, que fez o estudo com Camilla Aguiar e Elisa Possas, pesquisadoras do Instituto de Economia da UFRJ.

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Usando o redutor de 70% do valor médio da hora de trabalho, 11 municípios da Região Metropolitana teriam perdas superiores a 5% do seu Produto Interno Bruto (PIB). Já em municípios onde existem polos econômicos, a perda com o tempo a mais no transporte fica em patamares bem inferiores.

“Na Região Metropolitana, a menor perda relativa está em Itaguaí — de 0,7% a 1,3%. A explicação é que há o Porto de Itaguaí, e 80% da população ocupada trabalham no próprio município, gastando menos tempo no transporte. O mesmo acontece em Duque de Caxias, onde há uma refinaria: lá, a perda vai de 1,3% a 3,6% do PIB”, analisa.

Nos municípios-dormitórios, onde há pouca oferta de emprego e as pessoas são obrigadas a longos deslocamentos para trabalhar na capital, as perdas são maiores. A máxima fica na cidade de São Gonçalo (de 4,7% a 9,4% do PIB), seguida por Mesquita (de 4,7% a 9,3%).

“Não adianta investir apenas na melhoria do transporte público. A descentralização de atividades fora do Rio também é essencial para garantir a redução de tempo no deslocamento”, acrescenta.

Os índices de perdas estão subestimados porque o estudo não contemplou outros aspectos relacionados ao desconforto e perda de qualidade de vida, como a contaminação do ar, as doenças cardiorrespiratórias e os acidentes de trânsito.

Falta de tempo para a qualificação une mãe e filha

Os atrasos constantes nos trens da Supervia tiram a oportunidade de convivência das operadoras de telemarketing Aparecida Bastos Levate, de 46 anos, e Andressa Levate, de 23 — mãe e filha. Enquanto Andressa trabalha num call center em Madureira pela manhã, a mãe fica em casa cuidando dos dois netos. Às 14h30 elas invertem os papéis e Aparecida vai para a mesma central de atendimento da filha. A dupla, que ganha em média R$ 750 mensais cada, sonha com a qualificação que nunca vem. “Já é cansativo trabalhar longe, mal vejo minha família. Os trens acabam antes das 22h e eu saio de lá às 23h. Acabo chegando em casa só 1h”, lamenta Aparecida.

O trajeto deveria ser simples, já que as duas moram perto da estação de Belford Roxo, e de lá até Madureira a previsão da concessionária é de 23 minutos de viagem, com intervalos de, no máximo, 15 minutos, até 7h56. “Chego 5h30 e o trem só sai às 6h30, às vezes 7h30. Fica tão cheio que nem piso no chão direito. E sai sempre com a porta aberta”, lamenta Andressa. “Poderia estar com meus filhos.” A mãe também sofre. “Queria me qualificar, mas faltam tempo e dinheiro.”

Colaborou: Tássia di Carvalho

Matéria originalmente publicada no jornal O Dia

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