Orgulho e Luta: Ativismo LGBTI+ na Baixada Fluminense

Categorias
Texto por
Comunicação Casa
Data
24 de junho de 2022

por João Victor da Silva*

 “[…] A luta de um corpo estereotipado, possuído de fetiche pelas esquinas, mas não possuidor de direitos […]”

Este verso faz parte da poesia “Orgulho e Luto”, de minha amiga pessoal Davlyn Lótus, que resume muito bem as mazelas de ser um LGBTI+ em terras tupiniquins. 

A população LGBTI+ brasileira, tem sido vitimada por diferentes formas de violência desde a colonização do país. Há 13 anos consecutivos, o Brasil tem sido classificado como o país que mais mata pessoas travestis e transsexuais no mundo.  Como reflexo da LGBTfobia estrutural,  minha comunidade tem sido negligenciada pelo poder público que não promove políticas públicas de inclusão. 

Aos 13 anos, pude me aproximar da ativista Catia Cilene, que foi a pessoa responsável por me introduzir à luta do movimento LGBTI+. Através desse contato, pude participar de debates, palestras, reuniões, e a implementação dos Centros de Cidadania LGBTI Baixada I & II, em Duque de Caxias e Queimados. E assim percebi o quão desassistida era a população LGBTI+ em minha cidade natal, Nova Iguaçu, Baixada Fluminense. No entanto, foi em 2020, com a chegada da pandemia de COVID-19, e do lockdown, que comecei a me envolver com os movimentos sociais e LGBTI+ do meu município, ao perceber que o poder público estava negligenciando LGBTs.

Nesse ínterim, decidi abandonar a vida enquanto assalariado e me dedicar inteiramente ao trabalho social, à fotografia e ao ativismo LGBTI+. Atualmente, faço parte da diretoria do Grupo Ellos, e da Casa Dulce Seixas, que tive o prazer de ver nascer, a primeira casa de acolhimento para LGBTs em vulnerabilidade socioeconômica, na Baixada Fluminense. Antes disso, eu sobrevivia trabalhando com empregos de baixa remuneração, e atualmente continuo lutando para ter uma vida estabilizada enquanto ativista.

Na foto, Catia Cilene e Shirley com mulheres trans que participaram de uma ação conjunta do Grupo ELLOS e da Casa Dulce Seixas de retificação de seus documentos. Foto: João Victor da Silva

A Casa Dulce Seixas teve um papel fundamental nesse despertar, após  elaborar o nosso último relatório anual, tive certeza de que estava fazendo o certo para o meu território. Durante os últimos dois anos de atuação a Casa já acolheu mais de 100 pessoas, e acabamos de produzir nossa 7ª ação de impacto social. Sob a presidência da travesti, babalorixá, e ativista Shirley Maria Padilha, a Casa Dulce Seixas, por meio de  esforços coletivos, tem feito a diferença no campo da assistência social. Com o apoio dos nossos colaboradores, combatemos a insegurança alimentar, regularizamos os documentos das pessoas em processos de transição de gênero, e na promoção da saúde sexual e mental. Nossas ações sociais já assistem mais de 50 LGBTs de toda a Baixada Fluminense.

Atendimento para acolhides na Casa Dulce Seixas durante a pandemia. Foto: João Victor Silva

Junto à Casa Fluminense, com o apoio do Fundo Casa e colocando em prática a Agenda Rio 2030, a Casa Dulce Seixas realizou reformas emergenciais para melhor acolher seus usuários e construiu o seu refeitório. Espaço este que também é usado para a realização de rodas de conversa, oficinas, e debates para os acolhides.

Paralelamente ao trabalho na Casa Dulce Seixas, também atuo junto ao Grupo ELLOS, Organização Não-Governamental que entregou centenas de cestas básicas para LGBTs vulneráveis, em Nova Iguaçu, durante a pandemia. Há 11 anos atuamos na promoção da autonomia, cidadania e direitos da população LGBTI+, e há 7 anos, estamos à frente da Parada do Orgulho LGBTI+ de Nova Iguaçu. Atualmente fomentamos ações afirmativas, implementando políticas públicas para grupos minorizados. Nós também colaboramos com o Conselho Municipal de Seguranca, Direitos Humanos e Cidadania, além do Conselho Municipal de Direito do Negro, ambos de Nova Iguaçu. 

Por fim, estamos avançando nessa longa caminhada de pessoas que se uniram na somatória de forças para uma sociedade mais justa e igualitária para pessoas LGBTI+. Ainda nesse mês ativistas dos Direitos Humanos, lideranças LGBTI+ e organizações da sociedade civil estarão ocupando a Câmara Municipal de Nova Iguaçu para a criação da Comissão Permanente que cuidará dos Direitos LGBTI+ no município. Como um LGBTI+ afrodescendente, engajado com os movimentos sociais, formado pelo ensino público, e morador da baixada fluminense, me sinto lisonjeado de ter sido selecionado para o Curso de Políticas Públicas 2022 da Casa Fluminense. No entanto, estou apenas começando.

*João Victor Silva – Cria de Nova Iguaçu, ativista dos Direitos Humanos LGBTI+, comunicador, estudante em Políticas Públicas pela Casa Fluminense, fotógrafo,  e diretor da Casa Dulce Seixas e do Grupo ELLOS.

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