por Vitor Mihessen*
Planos para o verão? Sim, temos. Não somente para o verão deste ano, como para os 4 ou 10 próximos, pelo menos. O atual Plano de Metas da prefeitura do Rio lançado na última quinta, 15/07, inclui, nas promessas para enfrentar as mudanças climáticas, implantar um parque urbano na Zona Oeste até 2024. Mas não especifica como, quando e onde.
Já a revisão do Plano Diretor compromete os governos municipais a não mais somente “assistirem” à [degradação da] Área de Planejamento 5, como equilibrar o “adensamento em regiões com fragilidades ambientais e sociais, distantes dos empregos e que ainda precisam de muitos investimentos públicos”. Queremos realmente crer, e ver sair do papel.
Ambos os processos de planejamento são monitorados e criticados por organizações da sociedade civil, como as que compõem a rede da Casa Fluminense e o Fórum Popular do Plano Diretor, para citar duas coalizões. É um momento histórico, de fato, mas sem muitos precedentes e experiências positivas. Portanto, é preciso convergir e pactuar algumas visões para conseguirmos olhar um horizonte coletivo de mais esperança para quem vive no Rio.
Neste sentido, um dos 10 eixos que propomos na Agenda Rio 2030 é o que defende uma Gestão Pública: eficiente e efetiva na provisão de direitos, transparente, participativa e, especialmente, territorializada. São adjetivos pouco vividos e sentidos pela nossa fragilizada democracia, mas que acreditamos ser parte do caminho para a redução das nossas desigualdades.
Em outros eixos, como o de Habitação, exigimos que as moradias sejam adequadas, seguras e sustentáveis. Entre as propostas de políticas públicas está a busca por “ampliar a arborização e o reflorestamento urbano”, para qualidade de vida, qualidade do ar e para a regulação climática nas cidades, no presente e no futuro.
Tratar do eixo Saneamento, justamente na área da cidade que sente há anos os prejuízos de um serviço concedido à iniciativa privada que não atua em favelas, é falar da dignidade do povo. Na Zona Oeste, o racismo ambiental é exercido em contrato. Tão básico quanto o mínimo, propomos neste eixo “criar parques verdes em periferias, proporcionando mais espaços de convivência, lazer, trabalho e cultura”.
E, justamente no eixo Cultura, semeamos as palavras: popular, inclusiva, democrática e fomentada. Entre as várias proposições, mencionamos “desburocratizar o uso de espaços públicos, equipando praças e parques com infraestrutura e segurança”. Desejamos também “preservar o patrimônio material e imaterial, para a promoção das manifestações culturais populares das periferias urbanas e a proteção de sítios arqueológicos e bens naturais da região”.
Com a defesa do Parque Urbano-Ecológico em Realengo, estamos buscando garantir esses e outros direitos sociais dos quase 250 mil moradores da Região Administrativa e visitantes. Nosso foco tem sido dar luz para o que nos têm assombrado no cotidiano do bairro e das adjacências, assim como na política, há séculos: o autoritarismo.
No nosso país, Rio de Janeiro, o trator passa, a boiada passa, e na nossa cara, os caminhões de entulho da “Zona Oeste Mais” têm passado diariamente, levando nossas árvores e aterrando nossa história. Precisamos novamente plantar, regar e colher, tudo para ontem.
Nesse curso, valorizando a memória local, o Movimento Parque de Realengo Verde faz sua luta há décadas, a partir de diversas entidades, que manifestam o interesse público na área. É um esforço necessário para que o terreno não seja repassado aos interesses privados da Fundação Habitacional do Exército (FHE), que é bem concreta na meta de subir prédios para militares. No site da FHE, é possível ver como, quando e onde o condomínio pretende ser instalado.
Eles verão que somos gerações de moradores e moradoras que sonham com nada mais que áreas verdes e públicas para lazer e que querem mostrar que mais blocos de cimento não têm cabimento. Como já cantamos a pedra, nossas condições sociais, sanitárias, climáticas e de infraestrutura urbana local não demandam mais um empreendimento imobiliário e sim um Parque Ecológico completo.
A gente quer inteiro e não pela metade!
Com muita imaginação e muita música, a Ocupação Parquinho Verde é uma coisa assim, que corre por fora e entra mostrando, na prática, o que pode ser expandido e desenvolvido de forma sustentável em toda a área do terreno. Com resistência e inovação, produzimos informação, mobilização e comunicação. É muita “ação”: humanitária, artística e política.
A gente não quer só comida!
Somando as estratégias possíveis, o processo de abrir um parque público municipal e impedir a construção do condomínio passa por todas as esferas, poderes e por todos nós. Muitos mandatos parlamentares, federais, estaduais e municipais estão nessa luta conosco, promotorias do Ministério Público e secretários do poder executivo também.
Mas, neste momento, é o prefeito quem tem a chave para entregar o Parque para população e para o Meio Ambiente. Nosso coletivo fez uma carta aberta que endereça ao Eduardo Paes a meta de implantar o Parque Urbano-Ecológico de Realengo: Pressione aqui!
E aí, prefeito, vai responder não?
*Vitor Mihessen é cria de Realengo, coordenador executivo da Casa Fluminense. Membro do Movimento Parque de Realengo Verde e da Ocupação Parquinho Verde.