Museu da Memória Negra: Reconhecendo a herança afro-brasileira em Petrópolis

Texto por
Carín Nuru
Data
16 de janeiro de 2025

Para construir políticas públicas que alcancem pessoas negras, é preciso compreender suas realidades e contextos em que vivem. Mas como fazer isso em um território onde a herança e a memória afro-brasileira foram apagadas?

O Museu da Memória Negra de Petrópolis, atua no município dentro deste contexto, pautando o resgate e a valorização da história e herança africana. No município, a desigualdade racial se manifesta para além da falta de acesso à cultura, a disparidade de direitos está também na realidade dos 62,9% da população negra vivendo em situação de rua e os 55,9% morando em domicílios que não são destinados à habitação, segundo os Perfis Municipais, divulgados pela Casa Fluminense.

Entendendo essa realidade e com o desejo de mudar o contexto negro do território, Filipe Graciano, Renata Aquino, Pedro Cipriano, Lucas Ventura e Ariane Egydio criaram o Circuito de Memória Negra de Petrópolis. Iniciativa que conecta a história do território à memória negra, a partir das construções materiais e imateriais de Petrópolis. “É  um circuito que pode ser feito a pé, que rememora toda a presença negra da cidade que foi apagada”, explica Graciano.

Foto: Lucas Linhares

Para o Arquiteto e Urbanista, a realização do circuito é também uma estratégia de reparação para a população negra e descendente do povo que teve sua história esquecida. “O Circuito estrutura uma possibilidade de futuro. Reconhecer que a população africana contribuiu com a história e construção da cidade é importante para alcançarmos também a restituição econômica, de terra e bens”, afirma ele.

O Museu da Memória Negra de Petrópolis atua desde 2021 e começou como um museu virtual, onde fundaram um acervo de identidades negras da cidade, promovendo ações representativas para a população afro-petropolitana. Selecionados pelo Edital Agenda Rio 2030 do Fundo Casa Fluminense, eles realizaram o primeiro circuito no dia 29 de novembro, em parceria com a Casa Fluminense e com a Associação de Guias de Petrópolis.

Segundo Graciano, a missão dos integrantes é levar o circuito para ainda mais pessoas, chegando inclusive nas escolas. “A ideia é fazer o circuito também com alunos e professores para eles colocarem nas suas narrativas a presença negra na cidade”, diz o integrante do Museu.

Abordar a valorização da herança negra, indígena e quilombola a partir da cultura e educação popular é uma estratégia antiga usada por lideranças, principalmente de favelas e periferias, que assumem a missão de resgatar suas histórias e saberes, fortalecendo a autoestima e a ancestralidade dos territórios. E o Museu da Memória Negra de Petrópolis, com muito compromisso e responsabilidade, tem também utilizado dessas ferramentas para que a história africana do seu território seja resgatada e se mantenha viva.

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