Soluções locais se mostraram como as ferramentas mais eficientes no combate a crise gerada pelo coronavírus. Com a ausência do poder público, muitos territórios favelados e periféricos contaram apenas com o apoio dos grupos, coletivos e organizações da região. Para estimular esses tipos de iniciativas locais, o Fundo Casa Fluminense selecionou este ano 20 projetos espalhados na região metropolitana do Rio. No total, os recursos do fundo alcançaram 8 municípios e na cidade do Rio, os projetos apoiados se concentram na zona norte e zona oeste. O valor do apoio varia entre 7 a 10 mil reais para cada iniciativa.
Criado em 2015, o Fundo Casa Fluminense quer fortalecer a atuação de atividades que tem como foco a redução das desigualdades. Esse trabalho é feito através da mobilização e descentralização de recursos e também com suporte logístico para organizações selecionadas. Conversamos com a assessora de mobilização da Casa Fluminense, Yasmin Monteiro, sobre o projeto e as novidades deste ano. Confira:
O que é o Fundo Casa Fluminense?
O Fundo é a estratégia de fomento direto da Casa Fluminense, voltado para apoiar grupos e organizações formais e informais que promovem iniciativas de mobilização comunitária, monitoramento cidadão de políticas públicas, defesa de direitos e soluções locais para os desafios estruturais da metrópole. Nosso foco prioritário é democratizar o acesso a recursos para grupos que atuam nas periferias e não estão inseridos nos circuitos de financiamentos de maior porte e apoiar projetos que contribuam para a superação das desigualdades e para mobilização e incidência em torno das metas da Agenda Rio 2030. A Chamada Agenda Rio 2030 é uma das modalidades de apoio do Fundo, que é aberta anualmente.
Qual é o objetivo da Chamada Agenda Rio 2030 e como a pandemia afetou esse processo?
A Chamada tem como foco a seleção e apoio a iniciativas de monitoramento de políticas públicas e de incidência alinhadas com a Agenda Rio 2030 porque entendemos que essas são estratégias que precisam ser cada vez mais territorializadas e protagonizadas pelos grupos que mais vivem os efeitos das desigualdades e das violações de direitos. Com o avanço da pandemia, entendemos que era necessário adaptar o escopo para contemplar os desafios que a crise trouxe para os grupos comunitários periféricos a quem a chamada é direcionada. Muitos grupos estavam dedicados à ações emergenciais de solidariedade como a distribuição de cestas básicas, kits de higiene e campanhas informativas. Esse trabalho tem uma série de custos logísticos que não estavam sendo cobertos. Por mais que as doações em forma de cestas básicas e materiais de higiene estivessem chegando, isso não cobria por exemplo, os custos de manutenção das atividades dos grupos ou mesmo a distribuição dessas doações.
Quais mudanças foram feitas para encarar essa nova realidade?
A gente percebeu que muitas organizações precisaram parar com as atividades regulares por conta da pandemia e da necessidade de ajudar os territórios onde atuam. Então não adiantava fazer uma chamada que também não contemplasse essas iniciativas. Além de selecionar projetos de soluções locais e de monitoramento cidadão, expandimos a chamada para contemplar organizações que precisam de recurso institucional para atravessar a crise, mas também grupos que não conseguiram acessar recursos suficientes para atender, por exemplo, a demanda local das famílias em situação de insegurança alimentar e que seguem atuando nessa frente. Também incluímos uma linha de apoio voltada para ações culturais, de cuidado e de promoção da saúde mental nas comunidades.
Como foi feita a seleção dos projetos contemplados?
A partir da nossa experiência enquanto articuladores no Rio Contra Corona, entendemos que era fundamental direcionar a chamada para as organizações engajadas em campanhas de solidariedade durante a pandemia, pelo risco e necessidade que essa atuação gera. Por isso, decidimos fazer a chamada deste ano através de uma carta convite direcionada aos grupos comunitários parceiros do Rio Contra Corona, mas também para outras iniciativas comunitárias e redes de solidariedade. Foram enviados 57 convites e recebemos 46 propostas, destas selecionamos 15 dentro do recurso que tínhamos disponível. Felizmente, depois de uma articulação com o Instituto Ibirapitanga, conseguimos incorporar mais recursos e expandir a seleção e incluir mais 5 projetos.
Quem foi apoiado?
Muitas atuações incríveis! Apadrinhe um Sorriso, Associação Cultural Companhia de Aruanda, Associação Phábrika de Arthes, Casa Dona Amélia, Centro Esportivo e Educacional Golfinhos da Baixada, Coletivo Conscientizar, Organizar e Educar (COÉ), Coletivo FALA (Fábrica de Apoio a Linguagem Artística), Coletivo Ponte Cultural, Cozinha Comunitária do MTST, data_labe, Festival de Artes em Imbariê (FAIM), Fórum Popular Permanente de Japeri, Instituto Enraizados, Liderança Popular Cidadã, Por Gentileza, Programa Santa Cruz 2030, Programa Social Sim! Eu Sou do Meio, Projeto SocioEducacional e Desenvolvimento Cultural (SAAF), Quilombo Cafundá Astrogilda e o Quilombo Morro da União.
Quais são os próximos passos do Fundo no acompanhamento destes projetos?
No dia 24 de novembro vamos realizar um encontro com os apoiados para um intercâmbio em monitoramento de políticas públicas, quando cada grupo vai apresentar o trabalho que está desenvolvendo. Queremos criar um espaço de conexão e de diálogo sobre as experiências e planos futuros, um momento para trocar e pensar juntos soluções que podem ser interessantes para todos os territórios. No ano que vem, vamos fechar o processo da chamada com um seminário também voltado para o monitoramento de políticas públicas, entendendo que esse é um tema central para fortalecermos a capacidade da sociedade civil de participar não só das soluções de emergência, mas também nas de médio e longo prazo. Será um evento aberto ao público e o objetivo é compartilhar os frutos e resultados do trabalho dos grupos e pensar estratégias de atuação conjunta para o novo ciclo de gestões municipais.
Esta entrevista inaugura uma série de matérias dedicadas a apresentar as iniciativas apoiadas por região e contar o que estão realizando localmente. Acompanhe!