Encontro Giro mostra que o caminho para as mudanças políticas está nas periferias

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Texto por
Luize Sampaio
Data
7 de agosto de 2020

Quais os desafios de realizar eleições seguras e participativas nas cidades no contexto da pandemia? Como a crise dos transportes apontam para uma agenda de prioridades comprometida com a melhoria das condições básicas de vida nas nossas cidades?

“A resposta está em Queimados, Belford Roxo, em toda a Baixada Fluminense e favelas do Rio. Ela está na prática desses sujeitos que já carregam a experiência de construção de uma agenda de políticas públicas em meio às adversidades da desigualdade dos seus territórios”, respondeu Marcelle Decothé, coordenadora de incidência do Instituto Marielle Franco, durante o primeiro Encontro Giro online, Eleições 2020 e a crise dos transportes nas cidades, que aconteceu quinta-feira (06/08) na página do facebook da Casa Fluminense. A fala da Marcelle resume o sentimento de quem participou da live, o pensar coletivo e periférico como instrumento principal para girar a política das cidades. 

As provocações que abrem o texto foram base para a discussão do evento que contou também com a participação de Gisele Castro, coordenadora do Golfinhos da Baixada e colaboradora da Agenda Queimados 2030, Vitor Mihessen, coordenador de informação da Casa Fluminense, além da mediadora, Maria Luiza Freire, coordenadora da Fundação Cidadania Inteligente no Brasil. O encontro foi o pontapé inicial das atividades online do Giro 2020, que tem como objetivo fortalecer pré-candidaturas nas eleições municipais deste ano que acontecem em um contexto de disputa bastante desafiador.

“Esse debate faz parte de um ciclo que a gente tem feito junto com a Casa Fluminense sobre as questões estruturais da desigualdade na metrópole do Rio e seus reflexos no processo eleitoral. Esse encontro vem em um momento em que estamos lançando a Formação Giro 2020 para dialogar diretamente com as prés-candidaturas sensíveis ao tema”, explicou Maria Luiza Freire, da Fundação Cidadania Inteligente.

O peso do transporte no debate eleitoral

A crise do transporte faz parte dessas demandas urgentes que já estão em pauta no cenário político, tanto na Câmara dos Deputados e Senado Federal quanto na Assembléia Estadual do Rio de Janeiro. A preocupação com o futuro dos modais tem mexido em discussões históricas, como por exemplo a do financiamento desse serviço. O coordenador de informação da Casa, Vitor Mihessen, apresentou o novo Mapa da Desigualdade que mostra por dados aquilo que os passageiros já percebem ao andar no transporte público: as passagens aumentam, mas a qualidade do serviço nas periferias só piora.

“O usuário hoje paga por todo o sistema. A tarifa é a única responsável pela sustentação do serviço, mesmo sendo um direito constitucional básico. A gente tem que lidar com a crise do transporte sabendo que se trata de um problema estrutural e histórico aqui na Região Metropolitana. As oportunidades de emprego se concentram na capital, obrigando moradores das outras regiões a se deslocar diariamente para conseguir acessar esses aparelhos”, afirmou Mihessen.

O Mapa da Desigualdade mostrou que boa parte da população da Região Metropolitana gasta em média ⅓ da sua renda só com passagem. A coordenadora do Golfinhos da Baixada e colaboradora da Agenda Queimados 2030, Gisele Castro, contou como o transporte no município interfere no bem estar da população, afirmando que a pandemia do coronavírus intensificou esse problema. 

“Nesse período de pandemia os ônibus estão passando com intervalo de 2 horas. Pensando em um trabalhador que precisa estar em Botafogo às 8h, que horas ele tem que sair de casa e por quantos modais vai passar? É uma situação muito cruel para as pessoas que moram nas periferias, tanto na quantidade de tempo que se perde na locomoção quanto pelo preço dessa passagem. Para os trabalhadores informais, que são muitos por aqui em Queimados, se torna ainda mais complicado já que tiram o valor da passagem do próprio bolso”, explicou Gisele.

Já no final do papo, cada painelista pontuou que recomendação dariam para aqueles que pretendem lançar suas candidaturas nas próximas eleições.  

Que conselho vocês dariam para quem vai se candidatar nas próximas eleições? 

Marcelle Decothé (Instituto Marielle Franco): É importante entender que nós somos frutos de um processo coletivo de resistência e que nenhum agenda é individual. Ocupar a política tem que ser uma ação conjunta e que também não se esgota nas eleições. Nossa luta não é eleitoral e sim estrutural. O projeto é ocupação em massa! 

Vitor Mihessen (Casa Fluminense): As candidaturas têm que estar atentas aos valores que vão defender, olhar para agendas urgentes como a defesa da democracia, redução das desigualdades e promoção do desenvolvimento sustentável (em todos os aspectos). E claro, é importante ler e conhecer projetos como as agendas locais 2030, o Mapa da Desigualdade, a plataforma PANE Antirracista e o relatório Para onde vamos.

Gisele Castro (Agenda Queimados 2030): Recomendaria que eles primeiramente estabelecessem diálogo com as ONGs, coletivos e iniciativas da sociedade civil. Essa relação é de extrema importância já que nós chegamos primeiro que o governo na ajuda aos territórios. A própria pandemia mostrou isso.

Para quem perdeu a discussão, ela está disponível aqui na íntegra. As inscrições para a Formação Giro 2020 estão abertas até o dia 11 de agosto. O público-alvo do curso são pré-candidaturas de mulheres, negras e negros, jovens, moradores de favelas e periferias, população LGBT+ e pessoas com atuação no debate de redução das desigualdades. 

Vale lembrar que a formação é gratuita e 100% online, para saber mais acesse: https://giro2020.org/

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