Zero tarifa, emissões e mortes conheça a Coalizão Triplo Zero

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Texto por
Luize Sampaio
Data
26 de abril de 2023

A mobilidade urbana atravessa o dia a dia de toda a população e é através do transporte que as pessoas acessam outros direitos básicos como saúde e educação. E por ser esse eixo tão central do cotidiano das metrópoles, a mobilidade carrega junto traços da desigualdade social que estão presentes nas cidades. Essas violências podem alcançar cada pessoa de diferentes formas como: a impossibilidade de se deslocar por causa do alto custo da passagem, problemas respiratórios causados pela emissão de gases poluentes nos modais e até mesmo acidentes e óbitos por falta de infraestrutura dos serviços.  Foi pensando nesse contexto que surgiu o projeto Coalizão Triplo Zero: zero tarifa, zero emissões e zero mortes. 

Formado por organizações, movimentos sociais e pessoas que pesquisam e atuam no tema da mobilidade urbana, o projeto foi lançado na última segunda-feira (24/04) no Rio de Janeiro, no marco e em memória aos seis anos da morte de estudante Joana Bonifácio, que foi assassinada pela Supervia o tentar embarcar em trem a caminho da universidade.

Na busca por justiça, verdade e mobilidade digna, o lançamento em live contou com a presença da coordenadora executiva da Casa, Larissa Amorim; da coordenadora de gestão da mobilidade no ITDP Brasil, Lorena Freitas; da idealizadora e prima da Joana, Rafaela Albergaria; com mediação da representante do Mulheres Negras Decidem, Ana Carolina Lourenço. 

Zero Tarifa por Larissa Amorim (Casa Fluminense)

“O peso da tarifa é um dos principais temas de luta da Casa Fluminense, isso porque segundo dados do Mapa da Desigualdade (2020), boa parte da população da Região Metropolitana do Rio compromete ⅓ da renda com o transporte. A Coalizão luta para a implementação do SUM, um Sistema Único de Mobilidade Urbana, que assim como o nosso SUS, integraria os equipamentos e planejamento do transporte público de nosso país. Isso pode garantir uma integração tarifária e física entre os modais, melhorando a acessibilidade da população e criando mais espaço de controle e participação social. A implementação do SUM estabelece também um uso mais assertivo de um fundo de mobilidade urbana nos estados, que consiga subsidiar e custear esse serviço. O transporte público não pode ficar como uma mercadoria gerida por empresas que não estão pensando no acesso universal e democrático da população” 

Zero Emissões por Lorena Freitas (ITDP)

“Quando a gente fala de emergência climática, pode parecer um tema muito distante do nosso cotidiano, mas quando reparamos nas enchentes cada vez mais comuns, em que vidas são perdidas por falta de um planejamento dos nossos gestores, percebemos como esse tema está tão próximo de todos nós. A mobilidade tem um papel muito importante nisso já que nas grandes cidades, o transporte é a principal fonte de gases poluentes. E pensar em mobilidade limpa não é só eletrificar todos os carros, isso não atinge as periferias que dependem do transporte público. A gente precisa de investimento massivos em transporte coletivos com matrizes energéticas menos poluentes. O principal é repensar a lógica, o foco não são os carros se o que queremos é uma transição justa, equitativa e que quem mais depende do transporte público, consiga acessar a cidade com dignidade”

Zero Mortes por Rafaela Albergaria (Observatório dos Trens)

“A morte da minha prima me fez refletir sobre as barreiras colocadas pelo racismo, machismo e classicismo. Estamos em um lugar de violência sistemática, são uma diversidade de barreiras para que a gente consiga acessar direitos e outras possibilidades de futuro. A mobilidade nos coloca hoje frente a uma política de não acesso de vários âmbitos. Quem mora na periferia se desloca não só para acessar oportunidade de emprego mas também outros serviços básicos. Eu sou de São João de Meriti que é uma cidade com cerca de 500 mil habitantes e nenhum hospital público. A nossa possibilidade de existir é retirada do território, a necessidade e o custo de deslocamento para quem vive nessas regiões é muito alta. A possibilidade de se deslocar está diretamente relacionada com a nossa possibilidade de existir. Todo ano, quando lutamos por justiça e reparação para a morte da minha prima, precisamos lidar também com as mortes simbólicas provocadas a partir da narrativa criada pela Supervia. Existe um apagamento dessas histórias, dessas mortes. Faz seis anos que a Joana morreu, e vejo como ela não morreu sozinha, a interrupção violenta da sua vida mudou tudo na nossa família, todos da nossa família morreram aos poucos”. 

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