Seminário Geração Cidadã de Dados: impulsionando a participação social na formulação de políticas públicas

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Texto por
Comunicação Casa
Data
28 de setembro de 2023

A Casa Fluminense vem durante os últimos 10 anos discutindo, com a sua rede, sobre a realidade e o futuro da metrópole do Rio de Janeiro. Isso reverbera na necessidade da construção de políticas públicas para viabilizar o direito integral à vida para toda a população. Para isso é preciso entender os desafios que essas pessoas enfrentam, possibilitando a construção de melhorias, e é aí que entra a Geração Cidadã de Dados.

O Seminário Geração Cidadã de Dados (GCD), projeto realizado pela Casa Fluminense com o data_labe, se propôs a discutir sobre a GCD, pensar em soluções para a falta de dados de grupos como a população LGBT+, indígenas e quilombolas, e   consolidar uma rede de produtores que estão dispostos a incidir politicamente para a construção de melhorias para a nossa metrópole.

O evento, que aconteceu nos dias 19 e 20 de setembro, foi realizado na sede do data_labe, com convidados que fazem parte da rede das instituições, e foi transmitido ao vivo pelo canal do YouTube da Casa Fluminense. A programação reuniu especialistas, ativistas e representantes de organizações comprometidas em desenvolver metodologias para gerar dados de forma coletiva, com uma participação cidadã mais ativa, para construir e transformações dos seus próprios territórios.

Primeiro Dia: conhecendo e navegando pela Geração Cidadã de Dados
Foto: Patrick Marinho

A abertura do seminário foi marcada pela mesa “GCD: metodologias, tecnologias e epistemologias”, composta por Clara Sacco, do data_labe, Vitor Mihessen da Casa Flu, Juliana Coutinho do Visão Coop, Mariana Galdino do Lab Jaca, em uma conversa mediada por Juliana Marques do GEMAA. No papo foram abordadas questões como o potencial dos dados gerados pela comunidade, e como a participação colaborativa gera pertencimento.

Durante a mesa, Juliana Coutinho, da Visão Coop, descreveu a GCD como uma ferramenta disponível para se criar uma contra-narrativa da sua própria existência. Para ela, enquanto uma mulher negra periférica, o pertencimento se constrói também através da GCD. 

“Para gente ter o pertencimento precisamos  ser pautados, e para que de fato sejam gerados dados sobre nós, que a nossa narrativa seja assistida, atendida e cuidada”, compartilhou.

Mariana Galdino do Lab Jaca acrescentou descrevendo que a “forma melhor da gente contemplar e desmarginalizar essas narrativas, é pensar uma metodologia colaborativa, cidadã, em que o morador não é objeto, mas sim o sujeito”, afirmou.

Analisando o Rio em dados, apesar das faltas 

Neste dia teve também o “Lançamento do Mapa da Desigualdade 2023”, uma publicação produzida pela Casa Fluminense, que reúne dados governamentais e informações geradas por meio da Geração Cidadã de Dados, para entender como estão as desigualdades da metrópole do Rio. Os indicadores do Mapa são categorizados pelas justiças racial, de gênero, econômica e climática. Durante a roda de lançamento, os participantes destacaram a importância desses dados para a identificação de problemas sociais, ressaltando a fragilidade dos dados públicos e a importância da GCD para a construção desta publicação.

Foto: Patrick Marinho

A mesa de lançamento teve a presença de Lucas Martins, Taynara Cabral e Cláudia Cruz, da Casa Fluminense, Luiz Valverde do OCA/IPP e Wescla Vasconcelos do Fórum TTRJ. Durante o debate, além da apresentação do mapa e da descrição da metodologia utilizada pela Casa para a construção do material, foi debatido sobre a falta de informação e interseção dos dados públicos quando se refere a questão de gênero, sexualidade e raça.

Taynara Cabral, coordenadora de comunicação da Casa, destacou o slogan do mapa: “para enfrentar as desigualdades é preciso conhecê-las”. Descrevendo como a falta de informação sobre alguns grupos ainda implica diretamente na falta de políticas públicas para essa população. Ela levantou o questionamento de “Como a gente vai pensar política pública se não conhecermos como as desigualdades se materializam?”

Wescla, do Fórum Estadual de Travestis e Transexuais do Rio de Janeiro, completou o questionamento, falando sobre a falta de informações sobre pessoas LGBT+ nas bases de dados públicas, sobretudo pessoas transgêneras, e destacou a importância do levantamento de dados a partir da GCD para a construção da narrativa dessas pessoas.

“É preciso um grande esforço para tornar essas pesquisas mais plurais, contemplando a identidade de gênero e orientação sexual, e é a Geração Cidadã de Dados que pode favorecer para que as pesquisas sejam mais contemplativas”, compartilhou Wescla.

O primeiro dia do seminário fechou com o compartilhamento de experiências, metodologias e práticas GCD, no painel “Quem está fazendo?”. Foram apresentadas iniciativas que estão utilizando a GCD em perspectivas territoriais, descrevendo o impacto tangível da participação cidadã na coleta e análise de dados para o desenvolvimento de políticas mais inclusivas e participativas.

Foto: Patrick Marinho

Nesta mesa houve uma grande rodada de troca, através da participação de Edilma Carvalho do Censo da Providência, Buba Aguiar da Pipa, Jessica Souto do Movimentos, Fernanda Távora da Agenda Realengo, João Meireles do Observatório do Marajó. Além da mediação compartilhada de Pablo Nunes do CESeC, Elena Wesley do data_labe e da Fernanda Bruno da Lavits.

Segundo Dia: comunicação e tecnologia como ferramentas para GCD

O segundo dia de programação iniciou a partir do debate “Comunicação e incidência”, onde os participantes exploraram como os processos de GCD podem fortalecer comunidades, impactar a opinião pública e servir como instrumentos de incidência política. Para tocar esse debate, foi convidado o Jader Gama do Plantaformas, a Camila Barros do De olho na Maré, a Vitória Régia do Gênero e Número, com a mediação de Luize Sampaio da Casa Flu.

A conversa construiu uma troca sobre como a comunicação pode contribuir para a incidência política das informações produzidas pela galera que constrói a GCD, além de ser uma grande ferramenta para a tradução e distribuição desses dados, conseguindo criar uma disputa de narrativa, sobretudo em relação à comunidade favelada e periférica, negra, quilombola, indígena e LGBT+.

Na mesa, a Camila, do De olho na Maré, compartilhou sobre o trabalho de monitoramento do impacto da insegurança pública nas favelas da Maré . 

“Quando a gente pensa em incidência, mostrar os dados de quem vive essa realidade, de quem está no território, é extremamente importante para gente pautar o poder público para que isso de alguma maneira retorne como políticas públicas para os moradores da maré”, afirmou Camila.

Foto: Patrick Marinho

Em seguida, o painel “Tecnologias e ferramentas de trabalho com dados” abordou as metodologias utilizadas na coleta e análise de dados criados pela Geração Cidadã de Dados, destacando os desafios e soluções encontradas nesse processo. Essa troca foi realizada com a participação de Larissa Amorim da Casa Fluminense, Polinho Mota do data_labe, Carlos Nhaga do Fogo Cruzado e com mediação de R. Ramires do Infocria.

O ponto culminante do seminário aconteceu com uma plenária final, onde os participantes se uniram para uma elaboração coletiva de um manifesto da Geração Cidadã de Dados, definindo o conceito da GCD, expondo os problemas que ela aborda, apresentando soluções e delineando o papel crucial do poder público na adoção dessa tecnologia para a formulação de políticas públicas mais inclusivas. O seminário foi construído a partir de discussões e a colaboração coletiva, de todos os participantes e do público que acompanhou online e contribuiu para as discussões através das perguntas.

Foto: Patrick Marinho

A Casa Fluminense e o data_labe continuam construindo ideias e colaborações para impulsionar o avanço da Geração Cidadã de Dados como uma abordagem fundamental para a melhoria das políticas públicas no Brasil. Reiterando o compromisso de continuar promovendo a GCD como uma ferramenta poderosa para a construção de políticas públicas mais justas e igualitárias. O próximo passo é a sistematização dos pontos abordados durante o encontro e as trocas feitas na plenária, o documento de recomendações criado de forma coletiva será entregue ao poder público de diferentes níveis de poder.

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