O jornal O Dia publica hoje artigo de integrantes da Casa Fluminense sobre a Agenda Rio 2017 e o seminário que se realiza na FEBF, em Caxias. O diário publicou o texto em versão reduzida e apenas em nome do diretor executivo da Casa, José Marcelo Zacchi. Veja abaixo a íntegra do texto.
Rio Metrópole
José Marcelo Zacchi, Neiva Vieira da Cunha e Dudu de Morro Agudo*
O Rio é a segunda maior região metropolitana do país, com seus 12 milhões de habitantes e 19 municípios, distribuídos em uma área de 5.600 km2. É evidente, na experiência cotidiana deste conjunto, o grau de interdependência em dimensões diversas: transportes, segurança, saneamento, desenvolvimento econômico, e assim por diante.
A região metropolitana do Rio de Janeiro foi historicamente no entanto uma metrópole negada. Com o seu centro, na capital, sendo também a capital da República, e constituindo mais tarde um estado autônomo até 1975, tivemos ao longo do tempo uma imensa concentração de atenções e esforços públicos no núcleo central da metrópole e, não menos importante, a formação de uma consciência coletiva que antes recusa do que acolhe o sentido de um espaço urbano e destino social comuns.
O resultado disso, visível ainda hoje, é uma metrópole que toma a decisão de priorizar a destinação de R$ 8,5 bilhões para a extensão do metrô na sua área central, enquanto posterga investimentos para a superação de carências históricas na sua malha de trens metropolitanos. Ou que concentra também no seu núcleo os esforços de melhoria na segurança pública, gerando avanços nele, mas aprofundando a desigualdade na exposição à violência no conjunto do seu território e população. É ainda um cenário no qual municípios inteiros, como Duque de Caxias ou Itaguaí, não contam com sequer um quilômetro de esgoto tratado, ou um município como Itaboraí pode ter 3/4 de sua população sem acesso à agua corrente. E que assim, de forma não surpreendente, uma tarefa essencial como a despoluição da Baía da Guabanara pode arrastar-se por décadas sem que seja possível avançar.
Na paralisia com a Baía, como nos transportes, saúde e outras áreas, o Rio sofre também com o fato de ser a única das principais metrópoles brasileiras que não conta com nenhuma instância pública de gestão metropolitana, dedicada à integração de estratégias para a superação dos desafios sociais, urbanos e econômicos comuns. Isso, é claro, é também reflexo do distanciamento histórico apontado acima, e resulta no fim das contas em um quadro no qual os municípios da metrópole fluminense praticamente monopolizam as últimas posições em indicadores sociais e de infraestrutura quando comparados a seus vizinhos mais próximos de São Paulo ou Belo Horizonte, e em um espaço com taxas de pobrezas que podem ir de 15% em Niterói a 46% em Japeri, vivenciando nos últimos anos uma redução das taxas de desigualdade bastante inferior à do Brasil.
Com isto em vista, realizamos hoje, dia 24, no campus da FEBF/UERJ, em Duque de Caxias, o seminário “Pensando a Metrópole”, reunindo especialistas e vozes diversas para aprofundar em conjunto os principais desafios trazidos por este quadro e propostas para sua superação, e a oficina “Segurança Cidadã na Baixada”, mobilizando ideias e agentes para o enfrentamento deste tema na região que concentra hoje as as maiores taxas de violência no Rio.
Mais do que uma iniciativa isolada, o encontro marca também o início da atuação da Associação Casa Fluminense, criada em abril como novo espaço para a construção coletiva de políticas orientadas a um Rio inteiro, mais igual e democrático, voltado a expandir benefícios para todo o seu conjunto e afirmar-se como a “cidade metropolitana” compartilhada que é e precisa ser.
Nesta partida da sua ação, a Casa promove em conjunto com pessoas e organizações comprometidas com isso em todo o Rio, a elaboração da “Agenda Rio 2017”, reunindo até o final do ano visões e propostas para a realização deste objetivo, indo além dos grandes eventos. Somando vozes e forças nesta caminhada, esperamos poder contribuir para a construção deste destino comum, imprescindível para a conquista de avanços genuínos para o Rio, e mais do que tempo na nossa trajetória histórica.
* Diretor da Casa Fluminense; professora da FEBF/UERJ e pesquisadora do LeMetro/UFRJ; fundador do Movimento Enraizados