José Marcelo Zacchi, pesquisador associado do IETS, Marcus Vinícius Faustini, coordenador da Agência de Redes para a Juventude, e Pedro Strozenberg, secretário executivo do ISER.
O Rio está em movimento. Após décadas de dificuldades, a revitalização econômica, a redução dos índices de violência e a reversão de expectativas negativas são conquistas que não devem ser minimizadas.
Mas elas não podem também nos retirar a clareza do que está por ser feito. Refletindo os esforços de atores diversos em sua sociedade, o Rio fez avanços no reconhecimento de suas favelas como partes plenas da cidade, merecedoras dos mesmos direitos e serviços públicos providos nas demais áreas. Mas esta visão, sabemos, está longe de completar-se, e são grandes os riscos de estagnar-se na mera presença policial em tensão permanente com a comunidade, com programas urbanos e sociais imprescindíveis não se efetivando.
Contamos hoje com uma máquina pública em melhores condições do que no passado recente, da conservação urbana à capacidade financeira. Mas o acúmulo de conflitos em torno de investimentos públicos sem consulta ou negociação adequadas em locais tão distintos como Ipanema, com as obras do metrô, Morro da Providência, lidando com remoções e intervenções urbanas, e Vila Autódromo, na rota do Parque Olímpico, revela um Estado ainda muito mais centralizador e menos transparente do que o desejável.
Por fim, a expansão de oportunidades sociais e econômicas e a redução da pobreza em áreas diversas premiam esforços recentes e sinalizam a possibilidade de uma metrópole revigorada. Mas a persistência da concentração das atenções nas zonas centrais da capital, mantendo em segundo plano o restante da cidade, da região metropolitana e do estado, reflete-se em índices de desigualdade que caem em ritmo bem menor do que no restante do país e demarca a distância para um Rio que se pense e se realize efetivamente inteiro, aberto e para todos e que não esconda a sua potência popular.
Motivados pela tarefa de superar esses desafios, lançamos hoje no Centro Cultural de Santa Cruz, na Zona Oeste da cidade, a Associação Casa Fluminense, como nova plataforma de construção coletiva de políticas para o Rio de Janeiro. Situada no espaço de uma sociedade civil ativa e autônoma, a Casa reúne pessoas de organizações diversas comprometidas com a promoção da cidadania em todo o Rio e estará permanentemente aberta à participação daqueles que desejem somar-se.
Em sua primeira ação, a Casa Fluminense abrigará a criação da “Agenda Rio 2017”, mobilizando vozes de toda a cidade, metrópole e estado para a formulação de propostas na direção do Rio que queremos, indo além dos grandes eventos nos próximos anos. O que precisa existir neste Rio, do “depois de 16”, para o qual estamos ou deveríamos estar caminhando? O que não está sendo feito hoje para chegar a ele? Nos próximos meses, buscaremos reunir novas respostas a essas perguntas, em depoimentos de pessoas diversas e uma série de encontros temáticos distribuídos pela região metropolitana. A formação compartilhada da agenda, agregando visões e propostas para a superação dos limites apontados aqui como fruto deste processo, materializará a contribuição inicial da Casa à construção pública no Rio e oferecerá a base para sua atuação permanente de monitoramento, debate e proposição de políticas para uma existência comum mais igual e democrática.
Realizar em Santa Cruz o primeiro passo neste percurso não é, evidentemente, gratuito. Como é sempre preciso lembrar, o bairro, localizado no extremo oeste da cidade e síntese também dela em suas carências, vitalidade e riqueza histórica, será seu ponto mais distante ou ponto de partida, dependendo da perspectiva com que se olhe. Para nós, e todos que compartilham a formação da Casa, dos quais temos a honra de atuar aqui como porta-vozes, será o marco de lançamento de uma jornada que busca garantir que o movimento iniciado no nosso Rio de agora possa de fato nos levar longe e na melhor direção.