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Relatório Juventude Popular nas Universidades reúne práticas de quem sustenta os sonhos nas periferias

Promover a inclusão e a permanência de pessoas negras, indígenas e moradores de favelas e periferias no ensino superior é um desafio, mas é também parte de um projeto político de justiça social e uma forma concreta de romper ciclos históricos de exclusão e assimetrias sociais que se perpetuam entre gerações, limitando oportunidades e restringindo o acesso a direitos básicos.

A Casa Fluminense nasceu com o compromisso de contribuir para a redução das desigualdades na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Acreditamos que a educação é um dos caminhos centrais para construirmos cidades mais justas. Alinhados à esta agenda política e reconhecendo os pré-vestibulares comunitários, sociais ou populares como uma tecnologia social, o projeto Juventude Popular nas Universidades surgiu como uma iniciativa do Fundo Casa Fluminense para fortalecer os pré-vestibulares sociais e comunitários da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. A proposta oferece suporte financeiro e promove o compartilhamento de estratégias de gestão e mobilização de voluntários, contribuindo para que os pré-vestibulares sigam cumprindo sua missão: inserir pessoas negras, periféricas e oriundas de escolas públicas no ensino superior.

Larissa Amorim, coordenadora executiva da Casa Fluminense, destaca a importância dos pré-vestibulares populares tanto para ampliar acesso à educação, como também para formação cidadã dos alunos.

“Os pré-vestibulares populares têm esse papel de construtivo de identidade, de cidadania, de relação com o território. É sobre acessar a universidade e acessar uma série de outras coisas a partir disso. Existe um diálogo que é sobre como pensar politicamente essa conexão da educação com os territórios e com essa formulação das suas identidades. É uma coisa que os coordenadores dos prés estão lidando e construindo, tem uma formação de cidadania que acontece para além de qualquer prova e conteúdo que está colocado nesse processo de aprovação” afirma Larissa. 

Um relatório de estratégias e um guia com tecnologias

Ao longo de cinco anos de existência, o Juventude Popular nas Universidades acompanhou de perto histórias inspiradoras e formou uma rede de educadoras e educadores que compartilham suas experiências, metodologias e aprendizados. Acreditando na potência do fazer dessas organizações, surgiu a ideia de construir o relatório Juventude Popular nas Universidades.  

O relatório contextualiza as políticas de ações afirmativas e de educação para relações étnico-raciais, narra a contribuição histórica dos movimentos na criação dos prés como tecnologia social, além de sistematizar e difundir as práticas e saberes forjados no dia a dia pelos pré-vestibulares populares que integram o projeto em um guia de estratégias. 

Nele estão conhecimentos que se constituem como verdadeiras estratégias de resiliência diante dos muitos desafios presentes em contextos favelados e periféricos, estratégias que continuam abrindo portas para que uma juventude historicamente privada de direitos básicos possa acessar, ocupar e transformar o espaço universitário. Isso, por si só, já seria revolucionário. Mas os espaços de pré-vestibulares populares vão mais longe ao se proporem a articular os conteúdos curriculares exigidos nos exames com processos de formação cidadã e emancipadora, ampliando possibilidades de outros futuros que extrapolam os limites de uma sala de aula. 

É uma prática que parte da ideia de que educar é um ato político e que, portanto, a educação de jovens e adultos negros e periféricos que estão em busca de uma vaga na universidade é uma estratégia de transformação social para construir uma sociedade mais justa e igualitária. O relatório Juventude Popular nas Universidades é um esforço para contribuir com a luta pela manutenção e continuidade dessas iniciativas, que, na maioria das vezes, mesmo sem recursos, são fundamentais para que a população dos territórios onde atuam possa alcançar o sonho do ensino superior e romper ciclos de desigualdades. 

Uma noite para compartilhar os desafios e celebrar as conquistas

A noite de lançamento do Relatório aconteceu na Casa de Cultura, localizada no Centro do Rio, com convidados dos pré-vestibulares comunitários, a equipe Casa Fluminense e representantes da sociedade civil. Durante o lançamento, tivemos um painel que contou com a participação da equipe de mobilização da Casa Fluminense, responsável pela construção da publicação, e também dos coordenadores dos pré-vestibulares populares apoiados e os convidados Fabbi Silva, ouvidora geral da Defensoria Pública do Rio de Janeiro; Ana Paula Brandão, diretora da ActionAid; Lourrane Cardoso, do Fórum de Pré-vestibulares Populares do Rio de Janeiro; e Natã Neves, do Fórum Favela Universidade.

Os número apresentados no relatório mostram também o impacto e a importância do programa. Paola Lima, coordenadora de mobilização da Casa Fluminense reforça isso. 

“Existem várias práticas e estratégias construídas ao longo dos anos para não só manter esses prés mas também aprovando, inserindo essas pessoas nas universidades públicas e federais. Então, a gente está falando de recurso para as matrículas, de recurso para apoiar a transposte para voluntariado por exemplo. Ao longo desses anos, já foram apoiados 17 cursos, já foram alcançados 14 territórios e 7 municípios da região metropolitana do Rio de Janeiro. E também são mais 900 voluntários envolvidos, 1780 alunos atendidos e mais de 340 aprovações.” comenta Paola.

Pré-vestibulares que apontam para novos futuros

É urgente que o poder público reconheça e integre essas experiências como parte de uma política pública estruturada — com financiamento contínuo, suporte técnico e pedagógico — e as articule às demais políticas de acesso e permanência no ensino superior. 

Durante o lançamento, a ouvidora Fabbi Silva trouxe esse lembrete: “Pensar uma política de enfrentamento olhando os pré-vestibulares enquanto espaço de atuação efetiva, de garantir a democratização do acesso, a educação é pensar no avanço. Eu espero que esse relatório seja utilizado também quanto mecanismo político para que os futuros candidatos ao governo do Estado, e também olhando para o Legislativo Executivo, entendam que discutir educação popular no âmbito dos pré-vestibulares é efetivar um olhar de aprofundamento sobre o quão necessário é pensar política a partir desses territórios, utilizando os pré-vestibulares populares enquanto ponte de diálogo.”

Valorizar e fomentar os pré-vestibulares populares é essencial para que essas iniciativas sigam atuando em seus territórios, gerando oportunidades para profissionais da educação, fortalecendo equipamentos públicos e, sobretudo, colocando a juventude popular nas universidades. A Casa Fluminense celebra esse lançamento e renova seu compromisso de seguir fortalecendo a atuação de pré-vestibulares populares na missão de ampliar possibilidade de futuro para a juventude.

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