Dentro de cerca de 60 dias, uma votação na Alerj decide o destino do Projeto de Lei 1252/2012. O texto cria o Programa Estadual de Recuperação da Malha Ferroviária com Objetivos Turísticos e sua tramitação é acompanhada com atenção por ativistas. Caso a proposta seja aprovada, pode ficar mais perto de sair do papel a volta às atividades da Estrada de Ferro Mauá (inaugurada em 30 de abril de 1854), primeira ferrovia do país e via importante para o deslocamento no Rio Metropolitano.
A Associação Fluminense de Preservação Ferroviária (AFPF) é uma das entidades a favor da iniciativa. A ideia é reativar a linha de trem que funcionou entre 1883 e 1926 entre Petrópolis e Guia de Pacobaíba, localidade situada em Magé, na costa norte da Baía de Guanabara – assim como a ligação por barcas da Praça XV com o último local. Recursos da lei Rouanet e de empresas como a Vale financiariam o projeto, que será útil não só para o transporte de visitantes. “Esse trem pode ser turístico nos fins de semana e atender passageiros comuns no resto do tempo”, afirma Antonio Pastori, vice-presidente da AFPF. Segundo ele, a proposta chegou a ser apresentada ao Iphan em 2015, que encaminhou o texto ao DNIT no fim daquele ano. “Desde então, não obtivemos respostas”, diz Antonio.
A volta da Estrada de Ferro Mauá teria um impacto significativo na circulação na região. Pelas contas da AFPF, a ferrovia poderia transportar 11.200 pessoas por dia, quase 8.000 a mais do que o necessário para que sua operação seja economicamente viável. “Aumentar a capacidade da BR-116 custaria bilhões. A reativação da ferrovia e das barcas sai por menos de R$ 200 milhões”, compara Antonio. Outro efeito positivo do projeto é a recuperação da memória ferroviária da região, que hoje conta com poucas linhas de trem em operação.
É claro que a iniciativa envolve desafios. A estimativa é que o restabelecimento do primeiro trecho da via férrea, entre Guia de Pacobaíba e Bongaba, custe R$ 63 milhões. As obras nessa região envolvem a recuperação do antigo cais e de uma ponte sobre o rio Inhomirim. Já a recriação da segunda parte do trajeto, entre Bongaba e Petrópolis, é avaliada em R$ 66 milhões e inclui a construção de um túnel ou um viaduto para transpor a BR-116. Além disso, várias áreas do traçado foram asfaltadas, ocupadas ou tiveram trilhos roubados.
A história da Estrada de Ferro Mauá remonta a 1854. Naquele ano, o barão que dá nome à ferrovia inaugurou seu primeiro trecho, entre Guia de Pacobaíba e Raiz da Serra. Em 1883, a via foi estendida até Petrópolis pela Companhia Grão-Pará. Era comum que Dom Pedro II partisse de barca da Praça XV, desembarcasse em Magé uma hora depois e, por meio do trem, chegasse à cidade imperial em meia hora. Com a construção da estação da Leopoldina em 1926, a ligação hidroviária entre a Praça XV e Magé foi desativada e a conexão ferroviária entre o centro do Rio e Raiz da Serra passou a ser feita pelo que se tornou hoje o ramal Vila Inhomirim. A retirada dos trilhos entre Raiz da Serra e Petrópolis aconteceu em 1964, assim como a desativação do trajeto original da Estrada de Ferro Mauá. “Hoje, existe uma demanda que não havia quarenta anos atrás e que justifica a volta dos trens à região”, resume Pastori.
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