Favela é antes de tudo uma planta típica da caatinga brasileira. Essa espécie de arbustiva espinhosa entrou para a história do país durante a Guerra de Canudos, liderada por Antônio Conselheiro no Morro Favela no sertão baiano. E o que isso tem a ver com o Rio de Janeiro?
Os soldados e ex-escravizados que participaram do conflito, quando retornaram para o Rio, passaram a ocupar a região localizada no entorno da Central do Brasil. Foi dessa maneira que surgiu o Morro da Favela, conhecido hoje como Morro da Providência, primeira favela do estado do Rio. Apesar de carregarem o nome da planta, são raras as comunidades fluminenses que possuem essa espécie de cacto plantadas nas suas vielas. Para alimentar e repercutir a história sobre a favela e as favelas, a organização Providência Agroecológica criou a ação “Caravana Cultural de Plantio da Favela”.
O Providência Agroecológica é a junção do projeto Horta Inteligente, tocado pela Elisângela Almeida e a ex-aluna do curso de políticas públicas da Casa, Lorena Portela, e o Naturalê, fundado pela Alessandra Roque. O projeto foi fundado e coordenado por essas duas mulheres moradoras do morro que se uniram por terem a mesma perspectiva de trabalhar junto com educação ambiental e agroecologia. Lorena explicou como surgiu a ideia da caravana.
“A proposta de fazer a caravana veio quando a gente conseguiu que uma pessoa de Canudos trouxesse ela até aqui. Depois disso, iniciamos um trabalho interno de produzir mudas dessa planta para poder distribuir entre os parceiros de plantio de outras favelas. Tem todo um processo de cultivo por se tratar de uma planta originária da nossa caatinga, estamos adaptando ela para um bioma de mata atlântica. Então além de doar as mudas, as caravanas são um espaço de transmitir e compartilhar essas técnicas para que todas as favelas tenham sua favela viva ”, contou a coordenadora.
O objetivo das organizadoras e ativistas ambientais que tocam o projeto é a valorização das memórias materiais e imateriais ligadas à favela ao Morro da Providência, que completou 125 anos em 2022. Para isso, o grupo vai mobilizar uma série de dez ações locais, com intervenções e oficinas culturais, para o intercâmbio entre grupos de agroecologia de favelas da cidade do Rio de Janeiro que atuam pela segurança e soberania alimentar e nutricional.
O primeiro dia de atividade foi realizado no Morro da Formiga, na Tijuca, Zona Norte do Rio. A organização Providência Agroecológica montou um dia de atividades para as crianças em parceria com o coletivo local, Formiga Verde.
Na ação rolou uma pintura do painel de uma das hortas da comunidade e também uma roda de conversa entre as crianças e um dos moradores mais antigos do morro, seu Aristides, de 72 anos.
O Providência Agroecológica é um dos projetos apoiados pelo Fundo Casa que surgiu durante a pandemia. Hoje, o Providência Agroecológica tem uma sede onde funciona uma escola em que acontecem aulas de agricultura, artes, reforço escolar e várias atividades culturais para crianças e adolescentes do território.