Uma pesquisa inédita da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e Gênero & Número apontou para um sério problema dentro das redações dos jornais dos grandes veículos de imprensa no Brasil: as desigualdades de gênero. Identificar a situação das jornalistas nas redações, os tipos de assédio e violência que enfrentam em suas rotinas de trabalho e como respondem a eles, suas posições hierárquicas e o modo como enxergam a perspectiva de gênero nas coberturas é essencial para compreender o papel da mídia – interna e externamente – nas assimetrias de gênero.
Segundo o Censo de 2010, as mulheres representam 58% dos jornalistas de 20 a 29 anos, são 64% dos estudantes dos cursos de jornalismo e também são maioria (63%) entre os profissionais que detêm títulos de especialização, mestrado ou doutorado. Apesar disso, as jornalistas ainda não romperam o “teto de vidro” da profissão: conforme o Censo, elas recebem cerca de 19% a menos do que seus colegas homens e a maioria dos empregadores da área (62%) são do gênero masculino.
As mulheres também não costumam estar nos conselhos editoriais e nos cargos de editor-chefe, permanecendo nos níveis de gerência média. De acordo com estudo do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (GEMAA-UERJ), elas representam menos de 28% dos colunistas de jornais como O Globo, Folha e Estadão. Se consideramos gênero e raça conjuntamente, o quadro é ainda mais dramático e a sub-representação das mulheres negras é muito aguda.
Outro estudo apontou que a cobertura jornalística na América Latina é fundamentalmente centrada nos homens e as mulheres são muito mais frequentemente alocadas em notícias relacionadas à família, beleza e cosméticos do que à economia ou política.
As conclusões gerais são que o gênero ainda é uma forma de diferença presumida muito presente nas interações cotidianas no jornalismo, afetando as mulheres em vários níveis: ser mulher prejudica relações e redes profissionais, produz formas específicas de estresse e risco no trabalho e tem efeito negativo sobre as chances de ascensão profissional e econômica.
Com informações de Verônica Toste, socióloga responsável principal pela pesquisa Mulheres no Jornalismo Brasileiro e da série O Jornalismo no Brasil em 2018.