A realidade educacional da Região Metropolitana do Rio de Janeiro coloca a juventude das favelas e periferias longe do sonho de ingressar na universidade e usar a educação como ferramenta de transformação social. Sem apoio público, sem políticas de incentivo e sem investimento, os pré-vestibulares comunitários são uma resposta a esse problema e se sustentam com a força da sociedade civil, garantindo em diversos territórios o que deveria vir do Estado: possibilidade de futuro através da educação.
Os dados reforçam o tamanho desse desafio. No contexto metropolitano, 95% dos inscritos no Enem com renda familiar de até um salário mínimo estudaram na rede pública, e 70% dos inscritos na prova sem acesso à internet em casa são negros, de acordo com o Mapa da Desigualdade da Casa Fluminense (2023). Em realidades onde a cor da pele e o CEP ainda determinam as oportunidades, os prés comunitários seguem sendo pontes fundamentais entre a juventude periférica e o ensino superior.
Foi nesse cenário que surgiu o Juventude Popular nas Universidades (JUV), uma das linhas de apoio do Fundo Casa Fluminense, que realiza um programa com dez pré-vestibulares populares da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. De Santa Cruz a São Gonçalo, os prés já colocaram centenas de alunos em universidades públicas, garantindo que o acesso à educação superior seja, de fato, um direito de todos.
O Juventude Popular nas Universidades, que faz parte dessa luta agora passa por um processo difícil onde perdeu seus financiadores e precisa da ajuda da sociedade civil para manter as portas abertas e continuar garantindo a entrada de jovens populares na universidade.

“A gente trabalha nas falhas do poder público. Aí vamos tentando tapar esses buracos na medida do possível, ajudando alunos que têm dificuldade de mobilidade, pagando passagens do bolso para o aluno não faltar aula. São coisas que a gente tem atenção e sensibilidade para garantir uma educação com dignidade, que é tudo”, compartilha Samuel Azevedo, um dos representante do Curso Popular Enraizados.
Além do Curso Popular Enraizados, o programa do Juv apoio o Pré-vestibular Comunitário Nós por Nós, Santa Cruz Universitário, PVC Maria madalena, Pré-vestibular Comunitário Solano Trindade, Núcleo Educacional Popular e Antirracista (NEPAN), Pré-vestibular para Negros e Carentes (PVNC), Pré-vestibular Popular Akari, Gente Formando Gente e Pré-vestibular Ampara.







Junto com a Casa Fluminense, lançaram a Campanha Juventude Popular nas Universidades, com o objetivo de arrecadar R$ 100 mil em 45 dias para fortalecer o programa e garantir que mais jovens possam se preparar para o Enem e para os vestibulares. A arrecadação vai ajudar com materiais, espaços de aula, alimentação, transporte, inscrições nos vestibulares, entre outras despesas que ajudam a construir um espaço de educação de qualidade, multiplicam o impacto das iniciativas que já mudam vidas todos os anos.
“A Casa Fluminense possibilitou, além do aporte financeiro, esse espaço de escuta e de contato com outros pré-vestibulares da metrópole inteira, onde nos encontramos com as mesmas dificuldades e com as alegrias que temos em comum que é colocar a juventude nas universidades”, conta Amanda Almeida, uma das integrantes do Gente Formando Gente.
Fortalecer o JUV é reconhecer o papel desses pré-vestibulares comunitários como tecnologia social. Uma ferramenta histórica de educação popular que combate o racismo e as desigualdades estruturais. Dez anos após a política de cotas ampliar o acesso de negros e indígenas ao ensino superior, o avanço dessa conquista foi freado por crises políticas e econômicas. Durante a pandemia e o desmonte das políticas educacionais, quem permaneceu nos territórios foram os prés comunitários, mantendo viva a esperança de uma juventude que insiste em sonhar.
“Não tem como falar sobre democratização de acesso ao ensino superior sem falar de pré-vestibulares comunitários que atuam nesses espaços. Por mais que existam ações afirmativas, política de permanência nos espaços das universidades, são esses prés que estão atuando nas bases e eles precisam ser fortalecidos. Essa campanha ela vem com o intuito de evidenciar o trabalho que esses prés fazem na ponta diariamente. É mais do que uma simples ação de arrecada fundos para ajudar, é sobre o reconhecimento da educação popular como tecnologia social na Região Metropolitana”, explica a coordenadora de mobilização da Casa Fluminense, Paola Lima.
A Casa Fluminense acredita que a educação é uma ferramenta de transformação social e que os pré-vestibulares são espaços onde essa transformação acontece. Por isso que, uma das propostas políticas prioritárias para a Metrópole do Rio, segunda a Agenda Rio 2030, é a construção de pré-vestibular social gratuito, voltado a alunos da rede pública ou bolsistas do ensino privado. A proposta de institucionalizar e ampliar os prés comunitários, a partir do apoio do governo, no reconhecimento da educação popular como uma tecnologia social consolidada pelas periferias e essencial para reduzir desigualdades raciais e territoriais.
Enquanto essa política não é implementada de forma integral e efetiva na metrópole, os prés comunitários continuam cumprindo esse papel com poucos recursos, muita mobilização e o compromisso coletivo de transformar o acesso à educação. Por isso, é urgente somar apoio na campanha que busca recursos para manter as atividades dos 10 prés que fazem parte do programa Juventude Popular nas Universidades. Apoiar essa campanha é investir em uma política que não institucionalizada, mas que já é viva nos territórios construída de baixo pra cima e sustentada pela força da sociedade civil.
