Um ano se passou desde a morte de Joana Bonifácio nas linhas de trem da Supervia no Rio de Janeiro. Joana morreu após ter o pé preso em uma das portas de uma composição que partia da estação Coelho da Rocha, no ramal Belford Roxo. Era dia 24 de abril de 2017. Joana tinha 19 anos.
Um novo ato foi marcado via rede social para que essa data não fosse esquecida. Familiares, amigos, vizinhos e ativistas estiveram presentes na vigília em memória de Joana, que morreu a caminho da faculdade. O ato ocorreu na praça em frente à estação e teve microfone aberto com falas da mãe de Joana, Teresa Cristina, e outras pessoas reunidas, além de um momento religioso no final.
O primeiro manifesto foi realizado por iniciativa da prima da vítima, Rafaela Albergaria. De lá para cá nada mudou. “Minha prima foi vítima do descaso e descobrimos que sua morte não foi a única a ocorrer nos trilhos nos últimos tempos”, afirmou Rafaela. De acordo com a organização do ato, “no último ano muitas outras vidas foram interrompidas nos mesmos trilhos e suas famílias sofreram com descaso semelhante e com a difamação dos seus entes queridos”.
Joana caiu no vão entre o trem e a plataforma. Esse espaço, possui um tamanho bem maior que o padrão das normas brasileiras. Logo após a morte de Joana, a empresa tentou culpar a vítima pelo ocorrido, dizendo que ela ignorou o aviso sonoro de fechamento de portas e mesmo assim tentou embarcar no trem em movimento. No entanto, quem utiliza diariamente o trem sabe que ele circula de portas abertas e que não existe sistema de segurança em estações como a de Coelho da Rocha.
Mulheres negras importam, vidas negras importam!
Rafaela Albergaria disse que “depois de todo o sofrimento ainda é necessário lutar para manter viva a memória de Joana contra as calúnias da concessionária que tenta culpabilizar e criminalizar, com conivência de órgãos do estado”. Um dos objetivos do ato é reforçar os direitos por memória, justiça, verdade e reparação.
O ramal Belford Roxo é conhecido como um dos mais precários com trens velhos sem ar condicionado ainda em circulação, sem segurança nas estações, falta de acessibilidade, além dos constantes atrasos causados por falhas da Supervia ou problemas de segurança pública. É nítido o descaso da concessionária que administra os trens metropolitanos, principal meio de transporte dos cidadãos e cidadãs que circulam entre a capital e os municípios da região. Segundo Cristiano Abreu, que utiliza todos os dias o trem para ir de Coelho da Rocha ao trabalho no Centro do Rio, “os trens do Ramal Belford Roxo são os únicos que saem da Central por horário ao invés de intervalo, muitos trens não possuem ar condicionado, os que têm não funcionam, além de muitos circularem com portas abertas”. A estrutura das estações também é motivo de insatisfação: “se o trabalhador quiser ir ao banheiro não adianta procurar na estação de trem, além disso as estações estão em péssimo estado de conservação” – acrescentou Abreu.
Na ALERJ segue em andamento a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga as irregularidades da gestão pública no setor de transportes no estado do Rio. O deputado Gilberto Palmares, vice-presidente da comissão, esteve presente no ato. Segundo dados da AGETRANSP, estima-se que cerca de 9 pessoas morreram só no ano de 2017 nas mesmas condições, porém esse número pode ser ainda maior. Informações levantadas por meio da Lei de Acesso a Informação (LAI) dão conta de que de janeiro a junho do 2017, 29 pessoas morreram decorrentes de atropelamentos ferroviárias, uma média de aproximadamente 5 pessoas por mês. Em breve uma audiência pública sobre o tema deverá integrar as atividades da CPI.
Com informações de Douglas Almeida, coord. de Mobilização e Incidência da Casa Fluminense, que esteve na homenagem/ato para Joana e de Rafaela Albergaria, prima da vítima e organizadora do manifesto.
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