Números se aproximam do cenário encontrado no Nordeste, região mais pobre do país
Maria Luisa Barros
Rio – Um em cada três jovens da Baixada Fluminense, com idade entre 18 e 24 anos, não trabalha e tampouco estuda. Eles fazem parte da ‘geração nem-nem’, formada por brasileiros fora do mercado de trabalho, por falta de qualificação profissional, e que há muito desistiram dos bancos escolares, desestimulados por seguidas repetências. O estudo faz parte da quinta reportagem da parceria do DIA com a Casa Fluminense, instituição que pesquisa a realidade da Região Metropolitana do Rio. O Censo 2010 do IBGE, utilizado como fonte, mostra que a realidade atinge 137.990 jovens (32,2%) de um universo formado por 428.637 pessoas na região.
Os números se aproximam do cenário encontrado no Nordeste, região mais pobre do país onde há a maior concentração dessa geração. Na capital fluminense a situação é menos dramática, mas preocupante. Os ‘nem-nem’ representam 176.348 cariocas, que correspondem a 25,3% do total de 695.792 pessoas. O Estado de São Paulo, por exemplo, tem 23,3%, enquanto Minas soma 23,5% e o Espírito Santo,
24,8%.
Para os especialistas ouvidos pelo DIA, falta estímulo para retomar os estudos em escolas de baixa qualidade. A idade avançada é outra barreira difícil de transpor. O fenômeno é mais comum entre a população de baixa renda, mas também afeta famílias de classe média, cujos jovens tendem a adiar a saída da casa dos pais ou a depender da aposentadoria dos mais velhos. Segundo o autor do estudo, o mestre em Economia da Casa Fluminense Vitor Mihessen, a situação está relacionada à precária mobilidade no Rio, sobretudo na Baixada, onde se perde até 3 horas por dia no trânsito.
“A falta de um transporte de massa de qualidade, e de baixo custo, é um forte impedidor da saída desses jovens em busca de emprego”, diz. Na opinião dele, o problema é ainda pior para as mulheres. “Não sobra tempo para cuidar dos filhos, se ela fica 8 horas no trabalho e mais 3 horas no trânsito”, resssalta.
Entre os municípios da Baixada, Duque de Caxias é a campeã no ranking dos ‘nem-nem’, seguida por Nova Iguaçu e Belford Roxo. Por outro lado, em números proporcionais ao total de jovens, Japeri lidera, com 40,7% de desocupados nessa faixa etária. Mihessen lembra que é grande a rotatividade entre os jovens nas empresa. “Algumas funções antigas não se modernizaram a ponto de atrair os jovens e não há estímulo ao empreendedorismo”,diz.
Para cineasta, falta estímulo
Há três anos, a Agência de Redes para a Juventude trabalha com jovens de nove favelas cariocas, oferecendo bolsas de estudo e apoio a projetos empreendedores. Criada pelo escritor e cineasta Marcus Vinícius Faustini, a agência é um modelo de ação social que cria uma nova perspectiva de futuro. “Não adianta culpar os jovens pelo problema. O próprio nome ‘nem-nem’ é depreciativo. É preciso identificar o que ele gosta de fazer. A própria diversão dessa geração pode ser estimulada para projetos empreendedores.
Foi assim com a Batalha do Passinho e o funk”, propõe Faustini, que sugere ainda ampliação de creches e melhoria na mobilidade urbana. “Eles têm um enorme potencial criativo. Foi essa juventude que criou o serviço de mototaxi para resolver a falta de transporte nas comunidades”, diz Faustini.
Maternidade vira drama
As mulheres representam mais da metade dos jovens ‘nem-nem’. Na Baixada, elas somam 86.724 desocupados, contra 51.266 dos homens. Em alguns municípios da região, a distância entre gêneros chega a ser mais que o dobro. Caso de Seropédica, onde 16,4% dos homens estão sem atividade. Já o percentual de mulheres é de 39,3%. Cenário semelhante a Guapimirim, que registra índices de 20% e 43,5%, respectivamente.
A explicação para o fenômeno pode estar relacionada à uma maternidade precoce. “Muito provavelmente, são meninas que tiveram filhos cedo e pararam de estudar. Elas tendem a repetir o exemplo que veem em casa, em que o homem é o provedor, e a mãe cuida do lar”, diz Vitor Mihessen.
Matéria originalmente publicada no jornal O Dia
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