Com o fim do período eleitoral se aproximando, a Casa Fluminense e o ITDP, em parceria com o Idec e apoio do Instituto Clima e Sociedade, organizaram um evento para discutir quais propostas de políticas públicas para mobilidade precisam ser priorizadas pela próxima gestão da cidade do Rio. O encontro também marcou o lançamento do primeiro relatório do projeto De Olho No Transporte. Com objetivo de intensificar o trabalho de monitoramento realizado pela Casa, o projeto fará um diagnóstico periódico da mobilidade fluminense para tornar mais efetivo o direito de ir e vir da população. Nessa primeira edição o destaque foi a falta de ônibus em circulação. O pesquisador da Casa, Guilherme Braga Alves, contou que mesmo com a resolução 3296 obrigando a volta da circulação 100% das frotas, nenhum dos cinco consórcios da cidade tem respeitado a determinação.
“As frotas vem aumentando gradativamente, mas elas não chegaram nem na metade do que é estipulado no decreto. No último trimestre, 1 a cada 4 linhas de ônibus cadastrada na prefeitura como regular não circulou pela cidade ”, afirmou Alves.
Um das propostas levantadas para corrigir essa situação é a fiscalização mais intensiva dessas operações. A falta de controle da prefeitura sobre essa situação pode ter surgido ainda no momento de elaboração dos contratos, é o que aponta o coordenador do Programa de Mobilidade do Idec, Rafael Calabria.
“Temos nos debruçado em analisar a contratação dos serviços de ônibus e várias falhas do sistema já estavam visíveis nesses documentos. A formulação desses acordos tiveram pouca competitividade para ofertas novas, o resultado foi um cenário de manutenção dos mesmo empresários. Isso gera um problema mais grave que é a dificuldade que a prefeitura tem de controlar e fiscalizar esses consórcios. Muitas vezes os avanços são difíceis de se implementar porque a prefeitura não tem capacidade política ou poder contra essas empresas de transporte tradicionais”, explicou Calabria.
O tempo que os cariocas passam dentro do transporte público também foi colocado como uma das pautas que precisam ser repensadas nos próximos 4 anos. A ficha “O Carioca e o Transporte na cidade”, apresentada pelo ITDP, mostra que entre as 10 principais capitais brasileiras, o Rio de Janeiro é a que possui o pior resultado de tempo médio de deslocamento casa-trabalho. Com uma média 48 minutos perdidos, 1 em cada 4 pessoas leva mais de 1h para efetuar esse trajeto. A diretora do ITDP, Clarisse Cunha Linke, acredita que aumentar os corredores exclusivos para os ônibus é uma das maneiras de melhorar esse cenário.
“A gente tem falado muito sobre priorizar essas as vias e recentemente fizemos uma análise olhando a velocidade média de ônibus convencionais em vias não priorizadas versus em faixas de BRS. Notamos que há um aumento significativo na velocidade média das frotas. Com essa reorganização das vias, é possível adicionar mais qualidade no serviço a um baixo custo e alto impacto”, afirmou Clarisse.
Dividido em dois blocos, o evento analisou também as propostas que os dois candidatos do segundo turno, Eduardo Paes e Marcelo Crivella, destacaram para o setor de mobilidade. Foram usados como base os programas de governo registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e também nos sites oficiais de campanha. Entre os pontos destacados estão: a situação do BRT, sistema de ônibus, ciclomobilidade, integração modal, segurança viária e por fim, gestão e planejamento integrado.
O coordenador de informação da Casa Fluminense, Vitor Mihessen, destacou a importância de pensar intersetorialmente na questão do transporte. “Para falar de mobilidade no Rio temos também que tocar nas desigualdades atreladas. Por isso, na Agenda Rio 2030 a gente trouxe a proposta de habitação na área central da cidade como uma forma de diminuir o tempo de deslocamento enorme que existe hoje”, concluiu Mihessen.
O gerente de políticas públicas do ITDP, Bernardo Serra, afirmou que o encontro foi um primeiro passo de reflexão sobre os caminhos que a próxima gestão pode seguir.
“Esse trabalho tem o propósito de trazer questões que gostaríamos de debater em 2021, ele não se encerra aqui. Estamos trazendo apenas uma primeira análise baseada nas agendas apresentadas hoje pelas instituições que já estudam e pesquisam o tema da mobilidade”, explicou Serra.
A continuação desse debate terá como principal fundo a articulação e elaboração do plano de metas, que na cidade do Rio deve ser entregue pela prefeitura ainda no início do mandato da próxima gestão a ser eleita em 29 de novembro. A Casa defende que o plano seja produzido de forma participativa e territorializada.
A discussão na íntegra está disponível no youtube da Casa.
Confira repercussão do De Olho no Transporte na imprensa:
Projeto Colabora: https://projetocolabora.com.br/ods11/rio-so-tem-38-da-frota-de-onibus-circulando-na-pandemia/
Brasil de Fato: https://www.brasildefatorj.com.br/2020/11/19/apenas-38-3-da-frota-de-onibus-circulou-no-rio-em-outubro-aponta-relatorio