A dor das mães que tiveram seus filhos mortos por ações do Estado do Rio de Janeiro ganharão voz no mais novo filme da produtora Quiprocó Filmes. O documentário “Nossos Mortos têm Voz” (2018) pré-estreia no Cine Odeon dia 27 de março, mês em que completam 13 anos da maior chacina da Baixada Fluminense. No dia 31 de março de 2005 policiais do Estado do Rio de Janeiro assassinaram 29 pessoas em Nova Iguaçu e Queimados. Março também é um mês especialmente triste, pois após uma semana da celebração das lutas femininas no dia 8, Marielle Franco, vereadora negra e feminista que denunciava os desmandos das forças repressivas do Estado nas favelas do Rio foi brutalmente executada no dia 14 em um crime que chocou o mundo.
O filme revela em depoimentos a dor de mães e familiares das vítimas da violência do Estado na Baixada Fluminense com histórias atravessadas por essas perdas. A memória de vidas interrompidas é resgatada com uma visão crítica sobre a atuação do Estado e as polícias na região, abordando também a atuação dos grupos de extermínio a partir da década de 50 e das milícias mais recentemente, sobretudo, no que diz respeito à violência de agentes de Estado contra jovens negros.
“O trabalho busca traduzir para a linguagem cinematográfica a dor das mães e familiares das vítimas da violência de Estado na Baixada Fluminense, que lutam pela memória e justiça daqueles que se foram prematuramente. Queremos provocar inquietação nos agentes do Estado e nas suas instituições, mas sobretudo desejamos que o filme potencialize todo o empenho e militância das mães e familiares massacrados. O filme coloca as mães como protagonistas na luta pelo direito à vida nas favelas e periferias do Brasil”, contam os diretores Fernando Sousa e Gabriel Barbosa.
O projeto foi concebido e realizado em 2017 a partir da parceria entre a Quiprocó Filmes, o Centro de Direitos Humanos da Diocese de Nova Iguaçu, o Fórum Grita Baixada e a Misereor. De acordo com Fernando, “é quase impossível não se comover, é um tipo de coisa que não muda só o teu dia, muda a tua vida, aquelas pessoas estão expondo suas dores mais profundas, enquanto o que se percebe é a total ausência de medidas de reparação pra essas famílias por parte do poder público”, afirma.
A coordenadora do Centro de Direitos Humanos de Nova Iguaçu Yolanda Florentino, disse que o filme tem por finalidade dar visibilidade e denunciar publicamente a realidade de constantes violações de direitos que a população da Baixada enfrenta e a omissão do Estado nesta Região. “Com o filme, temos esperança que esse grito ecoe em todo o Estado do Rio, em todo o Brasil e chegue até as instâncias internacionais, de forma a pressionar o Brasil pelas atrocidades aqui vividas”, afirma. Da mesma forma, Adriano de Araujo, coordenador executivo do Fórum Grita Baixada, acredita que o filme contribui para o surgimento de narrativas potentes e instigantes sobre lutos e lutas dessas mães da Baixada Fluminense. “Esperamos que o filme possibilite uma reflexão sobre essas vidas, tanto das que foram, quanto das que ficaram e as que virão”, concluiu.
A estreia ocorre logo após a campanha “21 Dias de Ativismo Contra o Racismo”. A cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado no Brasil. De cada 100 mortos, 71 são negros.
SERVIÇO:
Pre estreia “Nossos mortos têm voz” (2018) – Quiprocó Filmes
Dia 27 de março
Horário 18h30
Local: Cine Odeon – Praça Floriano, nº 7 – Cinelândia – RJ.
Em seguida haverá debate com a presença de mães e familiares protagonistas junto com os diretores, representantes do Fórum Grita Baixada e do Centro de Direitos Humanos de Nova Iguaçu.
FB: www.facebook.com/NossosMortosTemVoz
Trailler: https://youtu.be/nsVFbAtgl1M
Trilogia da Memória
O documentário “Nossos Mortos Têm Voz” é o segundo filme da “Trilogia da Memória” da Quiprocó Filmes. Também fazem parte os documentários “Nossos Sagrado” e “Entroncamentos”. Enquanto dimensão incontornável da nossa humanidade, a memória não só nos define como também constrói nossa experiência social. As produções mostram a luta contra o esquecimento e a luta contra a morte por violência, o fenecimento. Na “Trilogia da Memória”, ela aparece como um instrumento de resistência contra o Estado que, de forma violenta, insiste em apagar as memórias de pessoas e lugares. Recontar a história a partir da narrativa não oficial é passo fundamental para a transformação do presente e do futuro. A narrativa da memória é o caminho através do qual buscamos continuar contando (para nós mesmos) quem somos.
Acesse: Quiprocó Filmes
Quer saber mais sobre a Campanha:
Em 21 de março de 1960 o Apartheid, o regime racista na África do Sul, assassinou 69 pessoas e feriu 186, em brutal repressão, conhecida como “Massacre de Shaperville”. A data foi instituída pela ONU como Dia Internacional de Eliminação da Discriminação Racial. Pelo segundo ano consecutivo, aqui no Brasil é construída a Campanha 21 dias de Ativismo Contra o Racismo! com uma agenda ampla de atividades fomentadas por coletivos, ativistas, estudantes, professores, pesquisadores, ONGs e militantes do movimento negro e da luta antirracista e que acontecem entre os dias 03 e 23 de Março.
Para a programação da campanha acesse: facebook.com/21diasdeativismo