Cidades inclusivas precisam de projetos completos construídos em parceria com a população

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Texto por
Teresa Fazolo
Data
11 de outubro de 2016

O crescimento desordenado das metrópoles – e o que vem a reboque, como poluição, engarrafamentos, estresse, violência, – vem expondo, cada vez mais, a necessidade de reflexão e aprofundamento das discussões sobre o modo como o espaço urbano é ocupado.

O 5º Encontro com a Sociedade, promovido pelo CAU (Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro), no sábado 24/09, veio, assim, como uma iniciativa muito bem vinda por aproximar profissionais e a sociedade civil, por permitir o diálogo entre a posição de gestores públicos e a experiência cotidiana de quem vive a cidade onde os problemas são mais agudos. O encontro fez parte da II Conferência Estadual da classe.

Sob a coordenação dos dirigentes do CAU, as mesas de abertura e debates reuniram representantes de diversas instituições e movimentos como a Pastoral das Favelas, o Observatório das Metrópoles, a Empresa Olímpica Municipal,  o coletivo de moradores Rocinha sem Fronteiras, entre outros.

A Casa Fluminense esteve presente, mediando a mesa sobre o legado das obras na cidade e a nova agenda urbana. A pergunta que orientou a mesa foi “As Olimpíadas acabaram, e agora?”. O Coordenador Executivo da Casa, Henrique Silveira, ressaltou a prioridade de se pensar a cidade como Região Metropolitana, um universo de 12 milhões de habitantes. As desigualdades existentes na cidade do Rio, destacou ele, se acirram na Zona Oeste e na Baixada Fluminense. A descentralização dos investimentos com geração de empregos, bem como a despoluição da Baía de Guanabara, também foram citadas por Henrique Silveira durante o debate.

Marcelo Neri, economista, Diretor do FGV Social, disse que o índice de desigualdade no Rio de Janeiro é maior do que o índice do país como um todo e que esta disparidade aumentou nas últimas décadas. E observou que os ganhos com os Jogos Olímpicos têm efeitos passageiros, ou seja, não são garantia de avanços estruturais, de longo prazo.

A urgência de uma cidade mais justa, que não mais reproduza modelos de exclusão, deu o tom do encontro. O presidente do CAU, Jerônimo de Moraes Neto, e Pedro da Luz, Presidente do IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil), enfatizaram a necessidade de governantes e técnicos ouvirem a sociedade e da elaboração de projetos completos, com foco numa cidade inclusiva. Edvaldo Souza Cabral, Presidente do SARJ (Sindicato dos Arquitetos no Estado do Rio de Janeiro), reforçou a prioridade do planejamento cuidadoso e da participação da coletividade, o que leva a custos menores e garante mais acertos na realização de obras públicas.

O arquiteto e urbanista Luiz Carlos Toledo, que chefiou a equipe de urbanização da Rocinha entre 2005 e 2007, relatou como montaram um escritório dentro da favela e viveram o cotidiano de quem mora ali. Numa dinâmica de troca, Toledo impulsionou a capacitação profissional de jovens locais, que atuavam junto com estagiários qualificados da UFRJ. O processo de urbanização deveria ter ido adiante, mas não foi concluído até hoje, lamentou o arquiteto. Obras de saneamento básico, por exemplo, prioridade indiscutível, é ainda hoje uma reivindicação dos moradores que questionam a aplicação dos investimentos na construção de um teleférico.

A conquista dessa cidade inclusiva orienta a pauta de ações e proposições da Casa Fluminense, estando reunidas na Agenda 2017, um documento gerado a partir do diálogo com diferentes setores da sociedade. A Agenda aborda os temas discutidos no Encontro, como mobilidade urbana, saneamento, saúde, habitação, educação, cultura e lazer, e os avalia como elementos que compõem o cotidiano dos moradores da metrópole e não devem ser dissociados.

O Presidente do CAU lembrou que a cidade é uma das maiores invenções do homem, pois é o espaço onde se encontram. A ideia de cidade que abriga “espaços de encontro”, que aproxima e não segrega as pessoas, como propôs Jane Jacobs, ou a de “Cidades para pessoas”, de Ian Gehl, vêm como um sopro de vitalidade e renovação que pode se materializar com ações bem planejadas, com projetos urbanísticos atentos à realidade social e com a participação da coletividade.

Detalhes sobre o que foi discutido nas mesas do 5º Encontro podem ser conferidos no site do CAU-RJ

cau-iab

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